Lula socorre Biden contra Republicanos e apela ao mundo multipolar contra a guerra
Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, a problemática é, relativamente, a mesma
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A questão central no momento mundial foi tocada por Lula no seu discurso no G7 no Japão: a economia é ciência social e a desigualdade depende do Estado para equacionar interesses de classe; essa aliás é a base da Nova Teoria Monetária(MMT) das finanças funcionais; ela divide, de cima a baixo, a questão política nos Estados Unidos e o mundo, especialmente, no Brasil, onde Lula luta contra o arrocho fiscal do Banco Central Independente(BCI), cuja visão ortodoxa não o deixa governar nem cumprir sua agenda política e econômica que o levou à vitória nas urnas em 2022.
Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, a problemática é, relativamente, a mesma: lá o discurso da falsa austeridade dos republicanos tenta impor freio ao Estado no enfrentamento dos problemas sociais em nome do ajuste fiscal monetarista que exclui a função social na economia como algo marginal, como pré-condição para fazer novo teto de gastos. O império pararia e mundo desabaria, enquanto a guerra, claro, se aprofundaria.
No Brasil, idem.
Lula disse não ao ajuste fiscal absurdo dos monetaristas: ressaltou diante dos governantes dos países mais ricos a necessidade de o Estado de alocar recursos para combater a desigualdade social e promover a paz, sem restrição monetária, porque, conforme a nova política monetária em implementação global, já vigente no capitalismo cêntrico, não há restrição ao Estado na emissão de sua própria moeda, sem produzir inflação e tensão social.
NÃO AO NEOLIBERALISMO
Lula, com seu discurso, enfrenta, de um lado, o monetarismo ultraneoliberal tupiniquim que não o deixa governar; de outro, ajuda Biden, na sua batalha contra os republicanos, nos Estados Unidos, propensos a manter teto de gastos para encolher o Estado e dificultar resolução dos problemas sociais agudos que enfrentam a América, especialmente, saúde e educação.
Concomitantemente, Lula, ao apelar pela paz, pregou direcionamento dos gastos estatais não para a guerra, mas para o novo mundo multipolar da cooperação internacional, impossível sob neoliberalismo; apoiou, implicitamente, o chefe da Casa Branca, na sua disputa interna, mas, ao mesmo tempo, condenou, também, de forma implícita, a insistência americana na guerra, movida, evidentemente, com gastos crescentes do governo em prejuízo da população à qual falta os serviços essenciais que o Estado deve prover.
O Estado, portanto, segundo o discurso lulista, combaterá o principal problema da humanidade ao enfrentar o desarranjo capitalista, com expansão da compreensão de que a economia é, essencialmente, política, a ser voltada pela resolução dos problemas sociais e da paz, para inaugurar a nova era da humanidade na multipolaridade e não conforme o mundo unipolar, vigente, hoje, sob o domínio do dólar.
O recado de Lula foi abrangente, sem entrar nos detalhes históricos, mas, nele, ocultamente, está a crítica da essência do capitalismo gerada pela ideologia utilitarista cultivada pela maior potência da terra, desde o pós-guerra, de Bretton Woods, que deixou de ser útil. Lula seguiu Keynes: "Tudo que é útil é verdadeiro; se deixa de ser útil, deixa de ser verdade."
AUDÁCIA LULISTA
O presidente brasileiro, diante dos poderosos do G7, contrariou a razão oculta de ser da própria reunião, quase emergencial: a tentativa do ocidente, que está em crise de realização de lucro, no capitalismo tendencialmente apontando para deflação, de vencer, a qualquer custo, a Rússia de Putin, agora, aliado à China de Jiping, ambos dispostos a derrotar o dólar e instalar a multipolaridade econômica global.
Lula serviu, diplomaticamente, de contraponto a essa tendência de que a insistência no mundo unipolar não será o remédio, mas o veneno que destruiria as relações internacionais.
Os poderosos continuarão insistindo no erro eterno destacado, nos anos de 1930, por Lord Keynes, de levar a economia mundial à deflação, com ampliação continuada da desigualdade social, evidenciada, com lentes de aumento, nos próprios Estados Unidos, onde Biden se encontra diante impasse entre republicanos e democratas, no Congresso, em torno do teto de gastos?
Se, até 1º de junho, não forem definidos, no Congresso, o novo teto de gastos para a dívida pública americana, que bombeia a guerra, de 31,4 trilhões de dólares, com insistência dos republicanos em cortar despesas sociais em 5 trilhões em 10 anos, a economia simplesmente pára.
Biden não poderia gastar mais do que o Congresso está determinando, o que o leva ameaçar emendar a Constituição, sem ter, por enquanto, apoio do legislativo para tal.
O império sobreviveria com teto de gastos, lei que foi aprovada, para fixar essa exigência, em 1917, quando o capitalismo tremia sobre a vitória revolucionária na União soviética, comandada por Lenin e Trotski?
Ou o mundo explodiria e o capitalismo iria aos ares?
SAÍDA LULISTA: MUNDO MULTIPOLAR
Em seu discurso, curto e grosso, em Hiroxima, cidade emblemática, na qual os Estados Unidos jogaram a primeira bomba atômica, matando centenas de milhares de japoneses, para alertar o Exército Vermelho soviético de que a América não aceitaria a vitória final do comunismo, Lula evidenciou o óbvio: não há saída isolada como intencionam os poderosos do G7 para a crise mundial, cujas ameaças se voltam para a Rússia e a China.
É necessária e urgente a cooperação internacional, a arma central de Xi Jiping, aliado de Putin; sem a cooperação e pressionado pela economia de guerra bancada por dívida pública, que extrai, forçadamente, renda da população destinada aos gastos sociais, Biden/EUA continuará, como denota o discurso lulista, sem saída.
A crise tende a aprofundar-se por priorizar a despesa bélica e espacial na produção não de mercadorias, mas de não-mercadorias, destinadas à destruição, característica do mundo unipolar, que o dólar não consegue mais sustentar.
Lula deu uma no cravo e outra na ferradura; de um lado, socorreu, simbolicamente, Biden, na sua luta interna, cuja solução tem reflexo mundial, mas, de outro, condenou a visão unilateralista da economia americana, de excluir o social, ao mesmo tempo que posiciona pelo mundo multipolar, sintonizando-se com a China e Rússia.
Discurso, fundamentalmente, pragmático e brilhante.
(César Fonseca)
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