Lula se descola de Haddad para alavancar economia já

Fernando Haddad e Lula
Fernando Haddad e Lula (Foto: Ricardo Stuckert)


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Logo depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou, na quarta-feira, seu pacote econômico, incapaz de produzir retomada do desenvolvimento por meio de ajuste fiscal que inviabiliza investimento social, o presidente Lula, na sexta, apressou-se em descolar da receita de Haddad para retomar, a partir da próxima semana, investimentos em casas populares; visa o que julga essencial, criação de empregos e renda, sem os quais não conseguirá atender suas promessas de campanha eleitoral; estaria, desde já, colocando seu mandato em perigo e preparando a sobrevivência dos seus adversários golpistas, com fortalecimento do fascismo bolsonarista.

Petistas ansiosos para que Lula alavanque o desenvolvimentismo o mais rápido possível entram em estresse diante do programa econômico meia sola apresentando por Haddad em meio ao tumulto político pós eleitoral sob perigo de golpe de estado enfrentado pelo presidente eleito, alvo dos fascistas descontentes com derrota eleitoral; fica mais exposto ainda, se a economia não sai do chão; terrível, tanto o golpe, como a expectativa de que o programa Haddad seja um fiasco; objetivamente, o ministro não agradou nem aos capitalistas nem aos trabalhadores; os capitalistas temem que as medidas signifiquem mais impostos; já os trabalhadores temem que sejam insuficiente para alavancar investimentos que os rentistas especuladores atacam como sendo desajuste fiscal esquerdista social democrata.

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MISSÃO IMPOSSÍVEL

Haddad tenta missão impossível: chupar cana e assoviar ao mesmo tempo; anuncia um déficit primário(receita menos despesas) de R$ 231 bilhões que deseja reduzir, em 2023, para R$ 90/100 bilhões; desafio praticamente impossível; esconde, porém, o déficit nominal, que compreende pagamento de juros e serviços da dívida de R$ 600 bilhões, aproximadamente, a serem entregues aos banqueiros, sem correspondência em desenvolvimento efetivo; o detalhe assustador é que o ajuste fiscal que a banca reclama deve ser feito, apenas, sobre déficit primário, gastos que, essencialmente, são investimentos, se vistos pela ótica dos trabalhadores, que jamais serão cobertos pelas receitas, se a economia continuar paralisada, como apontam expectativa de que o PIB deverá crescer não mais que 0,60% em 2023.

A luta de classe (trabalho x capital), certamente, vai se acirrar, porque diante desses números, Lula não poderá atender sua base eleitoral/social expressa em desemprego, fome e miséria de 12 milhões de desocupados e mais de 30 milhões dependurados em dívidas impagáveis; como dinamizar a produção sem consumidor? Por outro lado, os capitalistas já botam a boca no trombone para reclamar que o governo, para o ajuste que anuncia, vai elevar impostos sobre as empresas, incapazes, dizem, de suportar carga tributária suplementar em meio à recessão.

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Haddab, de olho na política, quer um ajuste fiscal mais sobre o capital que sobre o trabalho; anuncia supressão de renúncias de receitas para os capitães das indústrias que nada mais são que complementos de sua taxa de lucro cadente em decorrência do vigente subconsumismo produzido pelas reformas ultra neoliberais, trabalhista e previdenciária, que aprofundam arrocho salarial; a Fiesp reclama reforma tributária, mas não como Haddad pré-anuncia, isto é, onerando despesas que Bolsonaro desonerou para tentar ganhar eleição, como isenção do ICMS sobre combustíveis; quem vai pagar a conta: consumidor ou produtor?  

ESPARADRAPO PARA SANGRIA DESATADA

O novo ministro, sob pressão, anuncia mais um Refis(puro esparadrapo sob ferida em sangria desatada), renegociação de dívida, que significa alívio, apenas, relativo, pois com ele, o governo almeja, na prática, arrecadar o que não tem conseguido, diante da paralisa econômica que mantém o PIB no rés do chão; a tentativa de voltar a cobrar PIS-Cofins sobre gasolina e receitas financeiras arrepiam industriais e banqueiros, que, certamente, repassarão aos preços das mercadorias e do dinheiro(juro); o consumidor vai pagar em forma de alta dos preços, que reduz renda disponível para o consumo; a tentativa suplementar de Haddad de revisão de contratos, dando um desconto para quem está dependurado no fisco, a fim de o Estado pagar dívidas ao setor produtivo, que está na fila para receber pelas encomendas feitas pelo governo e que se encontram acumuladas, é outro abacaxi; sinaliza, tão somente, que o ajuste fiscal pela despesa primária não será jamais suficiente, se comparada com a despesa nomina(juros e amortização de dívidas), que saí pelo ladrão na casa próxima de R$ 1 trilhão/ano; por isso, é totalmente furada a argumentação neoliberal, que a banca joga para cima de Haddad, de que é preciso alcançar superavit primário – liquidando o déficit de R$ 234 bilhões – para equilibrar relação de dívida/PIB, de modo a reduzir os juros sobre o déficit nominal; sonho de uma noite de verão; não emplaca nunca. O pesadelo é o de que os juros continuarão subindo diante das incertezas; e a inflação monetária, idem, será mantida pelo BC independente nas alturas, fazendo a festa da banca.

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EMITIR MOEDA OU AFOGAR NOS JUROS ESTRATOSFÉRICOS?

 Diante desse contexto financeiro explosivo, em que a conta de juros passa a ser do tamanho do PIB, cresce, dentro do governo Lula, o argumento anti-neoliberal de que chegou a hora de o governo emitir moeda para pagar dívida, a fim de fugir do colapso financeiro; o argumento anti-neoliberal é o de que se o governo emite moeda para liquidar dívida, não paga juro sobre ela nem provoca inflação, como destacam os adeptos da política econômica funcional, antineoliberal; se não paga juro sobre suas emissões, cai a taxa de juro e a dívida fica mais barata, pela lei da oferta e demanda; sobra amplo espaço para novos investimentos na economia real, combatendo, em contrapartida, a economia, meramente, especulativa.

Esse argumento antineoliberal é completamente demonizado pelos ultraneoliberais que impuseram, durante o bolsonarismo fascista, a ordem econômica do superendividamento financeiro especulativo, que levou o governo ao garroteamento completo dos investimentos; se Lula ficar nessa, se autocondena, inviabilizando seu mandato, por não poder atender sua base política social; como o novo presidente disse que vai tocar a economia com o olhar da política, não é à toa que está se descolando da terapia que o mercado quer empurrar para cima de Haddad, ao anunciar, para a próxima semana, a retomada dos investimentos em casas populares, propulsor automático da criação de novos empregos.

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