Lula repete Sarney traído por Ulysses na Nova República

Lula, que precisaria mais do que nunca de Sarney e de Renan, não tem maioria parlamentar para ajudá-lo, enquanto o PT minoritário está com pés e mãos amarrados

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Divulgação)


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A ditadura militar de 1964-1984 caiu não por causa das Diretas Já; essa versão é dada pelos que acham, especialmente, a esquerda liberal, pró-Washington, que o Brasil é país, realmente, independente, soberano etc; não, os militares tiveram que abandonar o barco porque Paul Volcker, presidente do BC americano, elevou, em 1979, a taxa de juros(prime rate) de 5% para 20%, em nome da salvação do dólar, detonando, consequentemente, crise monetária internacional.

Tio Sam, depois de elevar a liquidez mundial, ao descolar o dólar do ouro, fazendo a moeda flutuar, a partir de 1971, teve que reagir, drasticamente, para evitar hiperinflação; a taxa de juros americana, que havia caído para 3% ao ano, graças ao excesso de oferta monetária, pulou para mais de 20%; foi o remédio ultraneoliberal anti-hiperinflacionário; Delfim Netto, o czar da economia sob ditadura, destacou, na ocasião, cinicamente, que o governo americano fez aquilo para evitar que o mundo caísse nos braços do comunismo.

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Como os ditadores militares nacionalistas getulistas, como Geisel, especialmente, mas Médici, também – haviam lançado mão das estatais, Petrobrás e Eletrobrás, em destaque, para avalizar empréstimos externos em dólar barato, a fim de puxar o desenvolvimento interno, não aguentaram o tranco; ao enxugar a liquidez internacional via juro alto, Volcker jogou a economia brasileira no abismo do endividamento externo; o país foi empurrado para o consenso neoliberal de Washington – arrocho salarial, fiscal, privatizações, desemprego, inflação, desigualdade social etc. E os militares foram para o espaço.

ABERTURA POLÍTICA ACELERADA

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A abertura política se acelerou, com mobilização dos trabalhadores, PT, que havia sido criado em 1980, e sindicatos, e a ditadura caiu; a nova República entrou em cena com a eleição indireta de Sarney, esparadrapo de emergência para substituir o nacionalista getulista Tancredo Neves, que havia morrido só Deus sabe como com o país caindo pelas tabelas, escorado, politicamente, num consenso precário entre Ulysses-Sarney, PMDB-PDS(ex-Arena militarista), que depois viraria PFL.

A ditadura se desgastara pelos seus crimes, ainda, hoje impunes; estava desmoralizada, excomungada etc.; havia sofrido a campanha pelos direitos humanos comandada pelo liberal democrata, Jimmy Carter, em cruzada contra os ditadores militares em todo o mundo, na América Latina, sobretudo.

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Mas, esse, na verdade, não é o fundo da questão; Carter queria que Geisel desfizesse acordo nuclear com Alemanha, como Biden obrigou, agora, a Alemanha a desfazer a parceria dos alemães com Putin, afundando os gasodutos nord streem 1 e 2, depois da intervenção russa na  na Ucrânia, na guerra por procuração armada pelos Estados Unidos-OTAN.

Além disso, Carter, também, estava p da vida com Geisel por ter iniciado a diplomacia do “pragmatismo responsável”, aproximando-se da África, no processo de descolonização; o chanceler Silverinha fazia com Geisel o papel que o chanceler Celso Amorim e seu secretário, Samuel Pinheiro Guimarães, fizeram na diplomacia lulista, altiva e ativa, incômoda aos americanos, por atrapalhar intenções de Washington em Teerã etc.

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GENERAL GEISEL E GLAUBER ROCHA

Geisel, pela sua diplomacia da descolonização, mereceu inúmeros artigos do cineasta Glauber Rocha, publicados no Correio Braziliense, ao longo de 1976, quando afrontou a esquerda pró-Carter, a mesma que agora se posiciona pró-Biden; em “Myzérya do lyberalysmo”, o criador do Cinema Novo, defendeu o líder de Geisel, na Câmara, deputado Zezinho Bonifácio, em debate com o líder do então MDB, deputado Alencar Furtado, da ala dos chamados Autênticos do partido, taxando-o de equívoco total da esquerda; segundo Rocha, genial tropicalista nacionalista varguista-brizolista, a esquerda pro-Carter caia na conversa fiada dos direitos humanos do ex-presidente “pacifista” americano, enquanto vendia o país aos americanos, ao discordar da batalha pelo domínio da energia nuclear, defendida por Geisel.

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A grande mídia conservadora, simbolicamente, linchou o maior cineasta brasileiro, para defender o representante de Tio Sam, na cruzada imperialista; nessa, a esquerda liberal pro-Washington embarcou, alegremente, sem entender que o Brasil havia entrado em bancarrota não por conta da ditadura Geisel, mas pelos efeitos da crise monetária americana dos anos 1970; como sempre, não percebeu que o fundo da questão era outro; a esquerda, com ódio legítimo contra os ditadores, embarcou na canoa errada; apegou-se na aparência e fugiu da essência, a dominação imperialista de Washington.

NASCE A NOVA REPÚBLICA LIBERAL DE ULySSES

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Os militares, sem força, para reagir à vitória civil, que levaria à Constituição identitarista de 1988, concordaram em ser defenestrados, mantendo a fantasia de continuarem como poder moderador, segundo a interpretação caricata que fazem do art. 142 da nova Constituição etc.; nascia, então, a Nova República monitorada pelo Consenso de Washington, que iria ter como primeiro presidente constitucional o nordestino José Sarney, cujo lema de governo seria “Tudo pelo social”.

Detestado pela esquerda xarope washingtoniana, o ex-presidente, que iniciou sua carreira anti-getulista, udenista, lacerdista, golpista, militarista, mas que as contradições históricas o levariam à social-democracia anti-militar emedebista, viveu, antecipadamente, o que, agora, em 2023, está vivendo, paradoxalmente, a mesma problemática o presidente Lula.

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Sem apoio do então MDB, que se transmudaria, mais tarde, em Centrão, atualmente, comandado por Arthur Lira(PP-AL), Sarney ficou nas mãos de Ulysses Guimarães, o sr. Diretas Já, que iria barrar as pretensões centro-esquerdistas de Sarney para tentar resistir ao Consenso de Washington e sua receita de colocar o FMI como comandante da economia.

O QUE FEZ SARNEY?

Nada mais nada menos do que tenta fazer, agora, o presidente Lula: montou uma equipe econômica de esquerda, comandada pela turma keynesiana da Unicamp, na qual despontavam os economistas João Manuel Cardoso de Melo e Luiz Gonzaga Belluzzo, assessores do ministro da Fazenda, empresário Dilson Funaro, de viés desenvolvimentista nacionalista, como o ex-vice de Lula, o empresário José Alencar.

A nova equipe, diante do colapso produzido pela crise monetária americana, tentaria renegociação da dívida externa impagável, sob o Consenso de Washington, para tentar tirar o país do buraco, no qual Paul Volcker – e não os militares nacionalistas getulistas – o havia jogado.

A crise monetária washingtoniana fora principal causa da desarticulação econômico-financeira da periferia capitalista, enquanto a mídia conservadora centrava a culpa nos efeitos da causa, ou seja, a reação de Sarney e sua turma econômica de esquerda keynesiana contra o arrocho fiscal e monetário, como ocorre, atualmente, com Lula e sua equipe econômica que mira naquilo contra o qual Sarney lutava, isto é, o garrote neoliberal do BC Independente de Campos Neto, filhote de Washington.

POR QUE NÃO DEU CERTO?

Simplesmente, porque Ulysses Guimarães, político mais influente do Congresso, não deu apoio a Sarney. Pressionado pela burguesia conservadora paulista racista, o sr. Diretas puxou o tapete do nordestino do Maranhão(dona Mora, mulher de Ulysses disse a repórter Jorge Basto Moreno, de O Globo, que ele, sr. Diretas, não tolerava Sarney por causa das sua origem nordestina); concordou com Washington de que Sarney tentava com a turma da Unicamp dar uma de caloteiro.

Ulysses faria com Sarney o que Artur Lira está fazendo com Lula; como representante da banca credora do Estado nacional, beneficiada pela maior da taxa de juro real do mundo, imposta pelo Banco Central Independente (BCI), Lula, como Sarney, naquele tempo, não consegue governar, agora.

Lira, nessa semana, foi aos Estados Unidos para ameaçar de lá que não vai aceitar a proposição lulista do arcabouço fiscal desenvolvimentista nem retroceder naquilo que já foi aprovado no Congresso, a privatização/doação da Eletrobrás.

Vale dizer, posição agradável ao império, ao FMI etc.

Mais: o representante ultraneoliberal das Alagoas colocou como relator do arcabouço fiscal lulista seu aliado bolsonarista, igualmente, deputado Cláudio Cajado, porta-voz da Faria Lima;

A estratégia (golpe do Cajado) para barrar o desenvolvimentismo de Lula é fixar condicionalidades neoliberais para garantir execução do arcabouço; sem maioria no Congresso, dominado pelos conservadores aliados da banca, Lula, para se salvar, tenta frear o Banco Central Independente que, como ele, mesmo, disse, trabalha contra o Brasil; anuncia que colocará no BC o economista Gabriel Galípolo, da Escola da Unicamp, keynesiana, antineoliberal, discípulo do ex-funarista, Luiz Gonzaga Belluzzo, farol do keynesiamo unicampiano.

CONSPIRAÇÃO WASHINGTONIANA ANTI-LULA

Washington e seus aliados internos brasileiros, Faria Lima e Arthur Lira, sobretudo, conspiram contra Lula por ele defender desdolarização econômica global e por fazer parte dos BRICS(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), empenhados em novo Sistema Monetário Internacional, a favor de nova divisão internacional do trabalho, para esvaziar a hegemonia do dólar, pecado capital que Tio Sam não aceita.

Assim como, ontem, nos primórdios da Nova República, Ulysses Guimaraes, líder político da burguesia antinacional, aliada de Washington, detonou o ensaio nacionalista glauberiano de resistência ao Consenso de Washington contra Sarney, hoje, Artur Lira, o novo Ulysses, favorece os credores da dívida interna – a dívida externa internalizada, conforme Lauro Campos em “A crise da ideologia keynesiana”, Boitempo, 2012 –, que não deixa o Brasil crescer.

Lira, em convescote com a burguesia brasileira, em Nova York, repetiu o sr. Diretas Já: jogou contra os interesses nacionais, como líder do Congresso de maioria conservadora bancocrática, cuja política destrói a classe média para sacrificá-la no cadafalso dos juros altos.

Sarney, historicamente, difere do democrata Ulysses teleguiado de Washington, porque, ao longo da Nova República, como presidente do Congresso, apoiou a pauta política desenvolvimentista do presidente Lula em seus dois mandatos; acompanhou Sarney, nessa trajetória, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), nas suas gestões como presidente do Senado, fazendo o oposto que o seu conterrâneo Lira está fazendo, ou seja, o jogo anti-Brasil, anti-desenvolvimentista e pró-banca, para afirmar a onda neoliberal fascista que toma conta do Legislativo.

Agora, Lula, que precisaria mais do que nunca de Sarney e de Renan, não tem maioria parlamentar para ajudá-lo, enquanto o PT minoritário está com pés e mãos amarrados.

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