Lula preso, Paulo Preto solto; ecoa a pergunta de Renato Russo: que país é este?
Em 1978, quando a ditadura militar ainda mordia, Renato Russo compôs "Que país é este?"; é como se Russo estivesse vivo e cantando hoje; o país onde um bandido como Paulo Preto está solto com a proteção das mais altas autoridades da República e o maior líder da história nacional depois de Getúlio está na cadeia como preso político; voltamos 40 anos na história
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Em 1978, quando a ditadura ainda mordia, mas dava os primeiros sinais de que poderia ser derrotada, Renato Russo compôs uma música que se tornou como um hino do Brasil democrático. Que país é este, perguntava ele. A música veio à luz apenas em 1987, já em pleno governo Sarney, no álbum do Legião Urbana com nome da música. Foi um enorme sucesso, vendeu 1,5 milhão de cópias e a música-título foi a mais tocada em 1987.
Quem era jovem em 1987 e hoje está entre os 45 e 60 anos de idade ainda lembra os versos –e muitos das gerações mais novas, que se tornaram fãs de Russo também sabem de cor (expressão que significa literalmente de coração):
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
É como se Renato Russo estivesse vivo e cantando hoje. Que país é esse no qual um bandido como Paulo Preto, que ameaça sem parar testemunhas nos seu processos, está solto com a proteção das mais altas autoridades da República e o maior líder da história nacional depois de Getúlio está na cadeia como preso político?
No final da música, Russo cantava-gritava desconsolado:
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Os artistas são assim, capazes de profecia. Era uma época em que as fortunas roubadas contavam-se na casa do milhão; agora contam-se na casas das centenas de milhões ou bilhões. Mas pode haver descrição mais precisa e lancinante deste momento em que o governo Temer vende a alma dos índios dos indígenas do país num leilão para os deputados-ruralistas matarem à vontade e garantirem seus votos ao regime do novo golpe de Estado?
Pode haver descrição mais precisa deste momento em que Temer/MDB e Pedro Parente/PSDB vendem a alma do país para os interesses dos grandes grupos financeiros e internacionais e fatiam a Petrobras para as grandes petroleiras internacionais?
O país preparava-se nos governos do PT para uma verdadeira revolução que transformaria a face do Brasil em 10 anos; com a Petrobras na linha de frente da exploração da riqueza do pré-sal, previa-se a destinação dos royalties e dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para a educação e a saúde, numa injeção estimada de até R$ 22 bilhões/ano nos dois setores, além dos recursos previstos na Constituição (que igualmente foram surrupiados pelos golpistas com o congelamento dos gastos sociais). Agora, tudo vai para o bolso das petroleiras internacionais, consultorias, acionistas e espertos. O país ficou a ver navios.
Que país é este no qual uma elite de 2 milhões de ricos rentistas, altos executivos, donos das empresas, dos bancos e dos maiores meios de comunicação, pessoas com mentalidade escravocrata submetem 207 milhões de brasileiros e brasileiras a uma vida de baixa qualidade e sem esperança?
Em 1978, quando Renato Russo compôs seu hino-protesto, um Congresso Nacional controlado pela ditadura dos militares, elegeu o general Figueiredo para presidente. A lembrança maior que temos dele é sua declaração que resume as elites nacionais: “Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo”.
Agora, um Congresso controlado pela ditadura do dinheiro deu o golpe contra a democracia, derrubou Dilma e o presidente de plantão continua a odiar o cheiro de povo.
A prisão de Lula e a libertação de Paulo Preto por Gilmar Mendes são o retrato do país neste momento. Voltou a ser, essencialmente, o mesmo país de 1978. A sensação é que o relógio da história voltou 40 anos.
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