Lula precisa de mais apoio da esquerda

"Fevereiro foi marcado por fogo amigo contra Lula. Se o comportamento da esquerda se repetir, a situação vai se complicar", diz Eduardo Guimarães

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)


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Matéria da BBC Brasil publicada no quinto aniversário das "jornadas de junho de 2013" revela o que acontece quando a esquerda resolve atacar a esquerda -- o que, para ela, é como respirar. Confira um trecho: 

"(...) Há quem considere junho de 2013 um mês que não terminou, e que dialoga diretamente com a crise econômica e política vivida hoje pelo país, além de ter dado vazão aos anseios de uma população que continua querendo serviços públicos melhores e o fim da corrupção.

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Mas afinal, dentre os principais itens da difusa lista de desejos dos manifestantes, quais foram atendidos? E quais acabaram deixados para trás?

No dia 6 de junho de 2013, o MPL (Movimento Passe Livre) [formado por PT, PSOL e outros partidos de esquerda] se mobilizava contra o aumento das tarifas de ônibus, metrô e trens em São Paulo (...)

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Fizeram ainda outros dois atos cada vez maiores. No dia 11 de junho, ônibus e agências bancárias foram depredadas por personagens novos, os black blocs. No dia 13, houve enfrentamento, e a Polícia Militar disparou bombas de gás e balas de borracha, deixando manifestantes e jornalistas feridos (...)"

Não poderia dar em outra: pesquisa Datafolha divulgada em 29 de junho de 2013 mostrou que a popularidade da então presidente Dilma Rousseff desmoronara. A avaliação positiva do governo dela caiu 27 pontos em três semanas daquele mês.

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A pesquisa mostrou que 30% dos brasileiros ainda consideravam a gestão Dilma boa ou ótima na primeira semana de junho de 2013. Porém, antes da onda de protesto, em março daquele ano, o índice de aprovação do governo era mais que o dobro, 65%.

Dali em diante, foi só ladeira abaixo. Pela primeira vez após o PT bombar nas três eleições presidenciais anteriores, por ter reduzido a pobreza, a miséria, diminuido a desigualdade como jamais ocorrera, ter obtido grau de investimento [selo de economia bem administrada] concedido pelas agências internacionais de classificação de risco e ter acumulado reservas cambiais de quase US$ 400 bi -- acabando com as renitentes crises cambiais no país --, Aécio Neves (PSDB-MG] quase derrotou Dilma Rousseff. 

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Dilma começou seu segundo governo fragilizada. Mas começou a ser derrotada antes de assumir. 

Após vencer a eleição por pouco, em 26 de outubro de 2014, por uma votação quase igual à de Lula sobre Bolsonaro (ontem, 51,64% x 48,36%; hoje, 50,90% x 49,10), em 26 de novembro daquele ano, um mês depois, grupos de esquerda divulgaram um manifesto em que chamaram de estelionato eleitoral os rumores da indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para os ministérios da Fazenda e da Agricultura, respectivamente.

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Foi dito e feito: Aécio Neves entrou no Congresso triunfante na abertura da nova legislatura, em fevereiro de 2015, e em 15 de março cerca de 30 dias depois, a avenida Paulista foi tomada por centenas de milhares de fascistas pedindo seu impeachment, que ocorreria formalmente em abril de 2016. 

Argumento dos manifestantes? "Estelionato eleitoral"

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Nos anos seguintes, agora com Michel Temer no poder, setores da esquerda apoiaram  a Lava Jato de Deltan Dallagnol e Sergio Moro. Em artigo publicado por Luciana Genro, do PSOL, no jornal Gazeta Zero Hora em 24 de janeiro de 2017, no ano seguinte ao golpe contra Dilma e pouco antes de Lula ser preso, ela deu ao texto o título de "Hora de defender a Lava Jato". 

Bolsonaro não chegou lá sozinho. Até 2013, era um obscuro deputado de extrema-direita que passara mais de duas décadas no Congresso sem fazer nada, sem apresentar um projeto, só mamando nas rachadinhas da vida. Mas em 28 de outubro de 2018, data da eleição presidencial em 2o turno, o jornal o Globo atribuiu a ascensão de Bolsonaro a junho de 2013, na matéria "Bolsonaro surfou onda de insatisfação com o sistema político iniciada em junho de 2013".

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O próprio Bolsonaro sempre disse, para quem quisesse ouvir, que "nasceu" em junho de 2013. A declaração está em documentário da produtora conservadora "Brasil Paralelo". 

Durante a eleição presidencial, ano passado, Lula e Fernando Haddad surpreenderam o país com a indicação do ex-governador Geraldo Alckmin para vice do atual presidente da República. Hoje, é visto como um vice cujo comportamento e a lealdade a Lula vêm sendo comparados aos de José Alencar, o vice anterior de Lula. 

A escolha de Alckmin, porém, levantou uma onda de ataques a essa estratégia que culminou com a difusão de vídeos por setorese da esquerda com ataques pretéritos do tucano ao seu agora companheiro de chapa. 

A estratégia "matadora" de Lula e Haddad perdeu força e Lula quase não venceu. E isso, em certa parte, porque Bolsonaro usou contra o petista os vídeos com ataques de Alckmin a ele quando disputaram a eleição de 2006. Bolsonaro usou vídeos que foram espalhados pela esquerda. 

Semana passada, Lula foi duramente criticado por grupos de esquerda por ter apoiado resolução da ONU exigindo a retirada da Rússia do território ucraniano. Dias depois, o mesmo Lula declarou, em entrevista a Reinaldo Azevedo, que apoiava a posição da Ucrânia sobre a retirada da Rússia de seu território. Mais ataques. 

O mês de fevereiro foi marcado por fogo amigo contra Lula por conta da questão russo-ucraniana. 

O governo Lula está enfrentando um cenário preocupante no Congresso. A esquerda elegeu uma bancada muito pequena, de pouco mais de cem deputados entre 513, e de menos de um terço dos senadores eleitos em 2022. E um pedido criminoso de CPMI ainda quer culpar o governo pela tentativa de golpe que sofreu em 8 de janeiro. 

Se o comportamento de setores da esquerda  aqui narrado se repetir -- e há muito que nem foi citado --, a situação vai se complicar. O risco de a extrema-direita retomar o poder é real. E já vimos como ela governa.

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