Lula pauta a agenda política; Bolsonaro tateia rumos para sobressair: balanço da 1ª semana do ano eleitoral de 2022
O ex-presidente, que será candidato pelo PT, recuperou a capacidade de ditar os temas da campanha. Adversários respondem e passam a seguir o que ele prioriza
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Por Luís Costa Pinto, do 247 – Assim como os torneios de boxe organizados em sistema de mata-mata, os antagonistas de uma campanha presidencial sobem ao ringue para nocautear o adversário, um a um, expondo ideias e propostas.
Também há quem jogue sujo e dê caneladas abaixo da linha da cintura ou socando o fígado do outro – isso ocorre quando o contendor desonesto utiliza informações falsas (fake news) ou pratique manipulação de dados e da emoção dos eleitores (um episódio nebuloso, por exemplo, um “atentado”, para causar comoção pública). Aí, revogadas as regras e a civilidade democrática, eleição vira briga de rua. Corremos esse risco e falaremos disso mais à frente.
Aceita a comparação metafórica, não é exagero dizer que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito para o pleito de outubro próximo de acordo com todas as pesquisas pré-eleitorais realizadas em 2021, venceu o primeiro round por nocaute técnico em todos os adversários.
Razões para Lula celebrar “nocautes técnicos”
Ao propor revogar a Reforma Trabalhista nefasta promovida no período Michel Temer na esteira do golpe jurídico/parlamentar/classista de 2016, rediscutir privatizações tortuosas e escamoteadas promovidas por Jair Bolsonaro vendendo controles acionários de subsidiárias de estatais e pôr fim ao “teto de gastos” que engessou a capacidade de investimento do Estado e rasgou a rede dispositivos de proteção social num dos País mais injustos e díspares do planeta, Lula tomou para si o controle da agenda política na primeira semana do ano em que os brasileiros poderão ejetar pelo voto o pior presidente de nossa História republicana.
Não é pouca coisa. A essa altura, no início da trajetória de uma campanha longa e polarizada, quem tem o controle da pauta faz os adversários correrem atrás e exporem o que pensam e o que fizeram. No caso do petista, trazendo à luz suas considerações sobre esses temas – teto de gastos, privatizações e uma “reforma trabalhista” que cancelou direitos e garantias de milhões de trabalhadores assalariados – ele ainda aguça na memória do eleitor a comparação com o passado recente.
Entre 2003 e 2010, quando Lula governou, o Brasil era a terra da esperança, o porto seguro de investimentos estrangeiros e uma Democracia reconhecida pelo mundo como consolidada e líder global emergente. Sucessora de seu padrinho político, a então presidente Dilma Rousseff viu a taxa de desemprego chegar a 4,8% em dezembro de 2014, ano em que se reelegeu. Foi o menor índice de desempregados registrado na História brasileira até hoje. É um patrimônio político-eleitoral que nenhum dos demais circunstantes no ringue de 2022 tem para mostrar.
Para polarizar, Bolsonaro reacende “facada” e “antivacina”
Ao contrário de 2018, quando podia tentar se vender como outsider da cena e encontrou muitos que se deixaram levar por má-fé ou por ingenuidade nesse engodo (inclusive, e sobretudo, veículos da grande mídia e seus porta-vozes travestidos de articulistas, além de players do mercado financeiro e do baronato industrial), Jair Bolsonaro está condenado a mostrar o que fez em quatro anos de Presidência da República.
A condenação é imposta a ele, mas, quem paga a pena somos nós: o Brasil está em ruínas. Desmoralizado no mundo, perdeu o lugar de fala nos foros internacionais diversos e se converteu num pária da agenda ambiental e energética nos organismos internacionais. O desemprego é galopante e o emprego precário – mais de 13 milhões de desempregados formais e mais de 15 milhões em empregos precários e informais. A fome se tornou epidêmica.
A fim de esconder as tragédias pessoais, conjunturais e nacionais que construiu com avidez e denodo, Bolsonaro tenta usar a mesma fórmula bem-sucedida e que enganou milhões de trouxas e de perversos mal intencionados há pouco mais de três anos. Ainda esgrimindo, com menor grandiloquência, o surrado e falso discurso de cruzado de uma luta contra o “comunismo internacional” e contra “mamadeiras de piroca”, tateia rumos para se sobressair na cena eleitoral e acertar ao menos alguns jabs de direita num Lula que parece colossal em cena. Voltar à cena do crime de Juiz de Fora, de setembro de 2018, quando ele teria sido vítima de um atentado ao qual deu uso político sem quaisquer constrangimentos ou freios institucionais de contenção é um desses jabs. A sordidez do discurso antivacina – sobretudo ao levantar a bandeira vil da não vacinação de crianças contra a Covid 19 – é o outro. Quando tenta prender o debate político à facada – suposta ou real? – de Juiz de Fora e à torpeza anticientífica e anticristã de jogar com a saúde e a vida de crianças para fanatizar e manobrar sua horda de seguidores mais fiéis, Jair Bolsonaro deixa patente quão estreita é a margem de manobra que lhe resta para seguir de pé no meio do ringue.
Ele dá sinais de estar na lona ouvindo o juiz fazer a contagem regressiva antes de soar o gongo. E quando o gongo soar, não se iludam: entre o atual presidente da República e o vestiário de uma aposentadoria da cena pública haverá a cadeia e um rol de inquéritos e processos à espreita. Os crimes são de vasto diapasão – de atentados à Humanidade e à Democracia, até crimes comuns como roubar vencimentos de parte da corriola de seus gabinetes parlamentares e dos gabinetes dos filhos.
Moro, Ciro e Doria sem espaço enquanto houver Bolsonaro
Costeando o alambrado do ginásio onde se dá essa metafórica luta de boxe, três personagens que até aqui não conseguiram passar de sparrings: o ex-juiz e ex-ministro bolsonarista Sérgio Moro, o ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda e da Integração Nacional Ciro Gomes e o ainda governador de São Paulo João Doria.
Desmoralizado pela condenação que carregará consigo pelo resto da vida – a de juiz parcial que conspurcou o Direito e o Poder Judiciário a prolatar sentenças eivadas pelo vício original da perseguição política a Lula e ao PT, além de ter sido sujeito ativo na destruição de mais de 4,4 milhões de empregos em razão dos desmontes industriais promovidos pela Lava Jato – Moro busca uma saída para a aventura eleitoral nacional. O tamanho dele é a disputa regional do Paraná e a cada semana que passa o ex-juiz parece mais próximo de anunciar sua circunscrição ao pleito paranense do que sua determinação a virar candidato a presidente de fato.
Atropelado pela História, em razão das sucessivas declarações judiciais de inocência ou extinção de ações e sentenças contra o ex-presidente petista, Ciro Gomes parece um cada dia mais com o tio do pavê nas festas natalinas: não encontra um lugar para si na sala de debates, não ajusta o discurso, fala bobagens em escala industrial, vê-se obrigado a pedir desculpas no canto silencioso da cozinha aos parentes e contra-parentes que magoou com ativismos verbais fora de tom.
Por fim, detentor do troféu político de homem que conseguiu vencer uma prévia partidária e desunir ainda mais uma sigla histórica como o PSDB, João Doria surge em desespero na luta por cancelar Bolsonaro. Enquanto o ainda presidente da República estiver em cena, ele não cresce. É candidato a nanico cristianizado nos índices de intenção de voto. Estropiado de tantos golpes, sangra do supercílio ao joelho e o treinador parece dizer-lhe ao ouvido, mirando o ringue: “é o Bolsonaro, idiota. Não o Lula! O alvo é o Bolsonaro. Se você estabelecer antagonismo com o Lula, cai mais e não chega a lugar nenhum”. Mouco pela própria arrogância, o governador paulista insiste em seguir o próprio instinto e esperar a arena da TV. Quando ela chegar, certamente, o gongo já terá soado e o juiz estará prestes a erguer a mão esquerda do vitorioso.
Eis como é possível vislumbrar a cena política nacional a partir desta primeira semana de 2022, o ano em podemos e devemos cancelar Bolsonaro pelo voto e a partir de uma vasta união nacional.
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