Lula não é um deles
"Os donos do dinheiro só têm motivos para detestar Bolsonaro, mas algo mais forte os afasta de Lula: o nordestino, ex-operário, definitivamente não é um deles"

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Por Paulo Henrique Arantes
A Câmara está prestes a votar a PEC do Desespero. Não poderia haver alcunha mais apropriada à Proposta de Emenda Constitucional forjada pelo governo com fins eleitorais, disfarçada de socorro a parcelas específicas da população em meio a uma crise socioeconômica aterrorizante, que soma inflação alta, juros mais ainda, queda da renda, baixo crescimento, desemprego elevado e 33 milhões de brasileiros passando fome.
Como não questiona a necessidade de mais atenção social pelo governo, a oposição votou com Bolsonaro no Senado e deve fazer o mesmo na Câmara.
As consequências da PEC serão um rombo 41 bilhões de reais nos cofres públicos e o aprofundamento de um quadro de insegurança fiscal. Sim, o rigor fiscal como querem neoliberais é socialmente nefasto, mas irresponsabilidade é outra coisa. O caos maior, contudo, mora no campo psiquiátrico: o presidente da República encarna a insegurança, desconhece princípios básicos de economia e sua mente só processa conspirações contra a democracia.
O aumento impensado de gastos, levado a cabo pelo “Chicago boy” traíra Paulo Guedes, eleva o prêmio exigido pelos investidores e torna o financiamento da dívida mais caro ou impágável para o governo. Para o próximo governo.
Para os fiscalistas mais esclarecidos, o estouro do teto de gastos, isoladamente, não é a face mais grave da PEC do Desespero, mas sim a relativização da responsabilidade fiscal. Não há norte, direção ou sentido. Investidores carecem de segurança mínima para casar ativos e passivos.
A economia, disciplina humana, não se resume a um amontoado de cálculos matemáticos, mas alguma exatidão tem de ser observada. O que causa arrepios no setor financeiro, nos donos do dinheiro, é a ausência total de governança que toma conta da economia nacional desde que Bolsonaro e Guedes ascenderam, carregando com eles uma permanente disposição para o improviso e para lances oportunistas. A aversão dessa gente a Lula é de outra natureza, fruto de raízes históricas de preconceitos e temores injustificados, já que seus negócios andaram muito bem, obrigado, nos governos do petista.
Em síntese, os donos do dinheiro só têm motivos para detestar Bolsonaro, mas algo mais forte os afasta de Lula: o nordestino, ex-operário, definitivamente não é um deles.
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