Lula não deve perder a oportunidade que os chamados 'mercados' lhe oferecem

Há espaço para valorizar o real, reduzir a inflação, baixar a taxa de juros, abrir espaço fiscal e acelerar o crescimento

Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsa de Valores e o dólar
Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsa de Valores e o dólar (Foto: Lula Marques | Reuters)


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Nunca houve, na história do Brasil, um presidente tão favorável ao chamado 'mercado' quanto Luiz Inácio Lula da Silva, sobretudo em seu primeiro mandato. Antes de garantir o chamado 'espetáculo do crescimento', Lula ajustou as contas públicas, com fortes superávits primários, abriu uma política de 'desdolarização' da dívida interna, acumulou reservas internacionais, estabilizou a taxa de câmbio e iniciou um processo progressivo de valorização do real, oferecendo estabilidade e previsibilidade aos agentes econômicos. Um dos resultados deste processo foi a valorização dos índices das bolsas de valores em mais de 500%. Portanto, Lula foi o rei da estabilidade fiscal e dos mercados acionários.

Por isso mesmo, Lula não deve desperdiçar a janela de oportunidade que se abriu ao Brasil após sua vitória eleitoral, quando as primeiras reações foram de valorização da moeda brasileira e das ações negociadas em bolsa. Caso Lula simplesmente repita o que já fez no passado, o real poderá se valorizar novamente, abrindo espaço para um controle maior da inflação. Caso este processo corra em paralelo com um ajuste maior dos preços administrados, como os de combustíveis, após uma nova política para a Petrobrás, haverá espaço para uma forte redução da taxa de juros, hoje em 13,75%. E desta redução virá espaço fiscal para maiores gastos sociais e em infraestrutura. Há bilhões e bilhões à espera de sinalizações positivas para um novo ciclo de prosperidade no Brasil. E se houver algum tipo de acordo na questão ucraniana, colocando fim à crise energética global, Lula provará mais uma vez que, além de tudo, é um líder abençoado pela sorte.

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Por isso mesmo, a fala em que Lula desdenhou da 'tal responsabilidade fiscal' surpreendeu negativamente, uma vez que o ex-presidente foi quem melhor cuidou da questão fiscal em seus governos. Depois do susto de ontem, a expectativa é que Lula irá calibrar mais seu discurso econômico, reforçando o compromisso com a redução do endividamento público, o que abrirá espaço para correções sobre os exageros de ontem no câmbio e no Ibovespa.

Dito isso, é importante falar um pouco sobre essa tal entidade conhecida como 'o mercado'. De que se trata? Nada menos do que uma infinidade de agentes, operadores e investidores espalhados por suas mesas, que, em geral, sabem fazer contas. Se um discurso presidencial indica uma política econômica mais inflacionária, a moeda se desvaloriza porque o sentimento predominante desses agentes se torna negativo em relação ao real. Quando o discurso de Lula vier na direção oposta, com sinais concretos, o resultado será inverso.

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Isso significa que o governo Lula deve se deixar ser governado pelos mercados? É evidente que não. Eis um exemplo concreto: se Lula sinalizasse a intenção de privatizar a Petrobrás, as ações da empresa disparariam imediatamente. Mas é evidente que esta valorização seria contrária aos interesses nacionais representados pelo governo eleito, que assumiu com o compromisso de 'desdolarizar' os preços dos derivados.

Com a vitória de Lula, já havia um clima extremamente positivo em torno de sua futura gestão. Havia expectativa de valorização de ações ligadas ao consumo interno, com o controle da inflação e a melhora progressiva da renda. Ativos especulativos, como os papéis da Petrobrás, poderiam ser negativamente afetados, porque a alta recente não está vinculada ao desempenho da economia, mas sim a uma política de preços e dividendos predatória e abusiva.

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Lula hoje conta com vento a favor e deve abrir as velas do barco na direção correta. Se fizer isso, os resultados virão. E virão de forma tão rápida que poderá parecer até milagre. Esta oportunidade não deve ser desperdiçada.

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