Lula não abre mão de governar, e isso incomoda
"Lula governa respeitando compromissos de campanha. Sabe que não pode se vergar aos interesses do mercado e da mídia hegemônica", diz Florestan Fernandes Jr.
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"Não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,50%. É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juro”.
Essa fala do presidente Lula em ocasião da posse de Aloizio Mercadante no BNDES deixa claro que quem preside o país é ele, não um burocrata, eleitor e militante da extrema-direita.
Aliás, soa como piada falar em Banco Central independente, quando seu presidente, Roberto Campos Neto participava, até 11 de janeiro, de um grupo de WhatsApp autointitulado “Ministros do Bolsonaro” que tem como membros, gente do naipe de Paulo Guedes e Anderson Torres.
O atual presidente do Banco Central ser membro ativo dessa “confraria do Posto Ipiranga” não é uma questão periférica; no mínimo indica alinhamento de ideias, identificação. Isso macula e depõe contra a tal independência do BC.
Bolsonaro nunca escondeu sua má vontade de governar. Durante os quatro anos de governo, “terceirizou a mão de obra” da condução do país. A Amazônia foi entregue aos garimpeiros, madeireiros e grileiros; a gestão orçamentária foi entregue ao Centrão de Ciro Nogueira e Arthur Lira, através do “orçamento secreto”, que teve também no general Luiz Eduardo Ramos, ex-Secretário de Governo e ex-ministro da Casa Civil, um dos seus artífices e principais articuladores. Jair deixou um vazio institucional em todas as esferas do poder, negligenciando suas responsabilidades inclusive na questão da saúde pública, em plena pandemia da Covid-19. Coube aos entes subnacionais (estados, Distrito Federal e Municípios) adotar medidas para o enfrentamento do coronavírus. Sobre isso, o próprio Bolsonaro afirmou, em um discurso para empresários, em 14/06/2022, “(eu) não tinha nada pra estar aqui (na Presidência). Nem levo jeito. Nasci pra ser militar”.
Lula e Bolsonaro são os absolutos opostos. O Presidente Lula governa respeitando os compromissos de campanha feitos aos 60 milhões de eleitores que confirmaram o nome dele nas urnas eletrônicas. Sabe que não pode se vergar nem um milímetro aos interesses do mercado financeiro e da mídia hegemônica. O fato de ter sido eleito numa coalização não significa que ele haja se convertido ao neoliberalismo, ou mesmo que delegue a política econômica e a condução do país ao mercado. Também não se vergará aos militares bolsonaristas. O presidente não teve dúvidas em afastar o general Júlio Cesar de Arruda, quando este ignorou uma ordem sua, o comandante e chefe das Forças Armadas. Lula o mandou para a reserva, 23 dias após tê-lo nomeado comandante do Exército em Brasília.
Na reunião do Mercosul Lula deixou a direita “perfumada” de cabelo em pé ao defender a soberania de Venezuela e Cuba. Mais que isso, propôs o fim do embargo econômico a ilha caribenha, que já dura 60 anos.
Aos críticos das recentes falas de Lula, recomendo memória histórica. Lula é um político de centro-esquerda, habilidoso e conhece como ninguém o país que governa, de fato e de direito.
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