Lula na Globo expõe crise militar e desastre da politização das Forças Armadas
"O presidente está devidamente informado do comportamento errático dos militares, no processo de politização crescente das forças armadas", diz César Fonseca
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Por César Fonseca
A reação enérgica de Lula ao comportamento dos militares durante a invasão bolsonarista fascista, na Esplanada dos Ministérios, com depredação dos prédios dos três poderes da República, quando eles cruzaram os braços diante dos depredadores, protegendo-os no espaço dos quarteis, eleva a temperatura política nacional; foi ou não tentativa de golpe de estado?
O presidente está devidamente informado do comportamento errático dos militares, no processo de politização crescente das forças armadas, desde o golpe neoliberal, de 2016, expresso, agora, nessa extraordinária crise política militar que abala o Brasil e o mundo.
Indiscutivelmente, por suas próprias palavras, mostra-se disposto a colocar os pingos nos iiis, simplesmente, porque a tentativa de golpe explícita coloca a democracia, o poder civil, ameaçado pelo poder militar; nesta sexta feira, o presidente e os militares terão encontro decisivo que deixa a nação politicamente em suspense.
O fato, aos olhos de Lula, é que os militares agiam à revelia dos poderes republicanos, como se fossem independentes e com autonomia própria, para agirem ao largo da autoridade maior da Constituição, conforme julgam o que representam, constitucionalmente, ou seja, poder moderador republicano, com o qual Lula disse não concordar; a vitória lulista nas urnas, para os militares, não estaria, portanto, sendo considerada, dado o comportamento antidemocrático que adotaram diante da baderna para destruir o governo e a República.
REBELIÃO INDISFARÇÁVEL NOS QUARTÉIS
O clima de estranhamento é indisfarçável; diversas manifestações das patentes militares mais expressivas se mostram abertamente em choque com o mandatário civil chancelado democraticamente nas urnas para governar o país no período de 2023 a 2026; a vitória, realmente, apertada de Lula, à frente de uma aliança democrática ampla sobre o presidente Bolsonaro, que se mostrou adepto do fascismo sem peias, arregimentando sua base para se rebelar contra processo eleitoral e o contra o TSE, responsável pela sua condução, conforme regras democráticas, deixou os militares estagnados, politicamente.
Nenhum líder das três forças foram capazes de virem a público chancelar a vitória eleitoral lulista e dissuadir os bolsonaristas fascistas em seus atos abertamente terrorista, na tarefa explosiva de negarem a democracia; ao agirem como a própria malta revoltada, sem expressar suas opiniões sobre a legitimidade do resultado eleitoral, os militares, de dentro dos quartéis, avalizaram a rebeldia dos terroristas que acabariam invadindo os três poderes oito dias apenas depois da vitória da Frente Ampla lulista; por conta disso, o clima político, no país, entrou em suspense, à espera do pior, dado que o exemplo de cima, daqueles que institucionalmente têm responsabilidade de garantir a democracia, a defesa do território e soberania nacional se mantiveram em inquietante silêncio; foram incapazes, sequer, de deixarem claro sua necessária subordinação ao Ministro da Defesa, um civil, sem o que colocaram em dúvida sua responsabilidade democrática institucional; é nesse pé que encontram em choque o presidente e os militares.
FURO SENSACIONAL
A reação de Lula, na Globo, agora, à tarde, em entrevista à Natuza Nery, foi a de quem se encontra inconformado por sofrer traição dos comandantes que desobedeceram não ao presidente mas à própria democracia, na condição de apoiadores silenciosos dos golpistas incompatíveis como regime democrático; a decisão presidencial de não concordar com posições militares favoráveis a uma GLO – sugestão que teria chegado ao titular do Planalto pelo ministro da Defesa, Múcio Monteiro –, revelou a desconfiança de Lula em face de possível traição, visto que investigações preliminares haviam confirmado a completa ausência de ação daqueles que tinham por obrigação, por exemplo, defender o Planalto dos terroristas, como fizeram, bravamente, os seguranças do Congresso, no cumprimento do seu dever.
A ira presidencial relativamente ao comportamento da GSI, responsável por cuidar do Batalhão Militar, relativamente, à proteção do Planalto, foi a gota d'água que levou Lula ao desespero da sensação de estar sendo vítima de traição; posteriormente, informações dos homens de confiança do presidente deram conta de que ordens expedidas para mobilização de tropas para fortalecer o Batalhão não foram seguidas; a casa institucional mais destacada da Praça dos Três Poderes estava, portanto, exposta aos vândalos; de resto, o mesmo aconteceu com os prédios do Congresso e do STF.
DESAFIO PARA POLÍTICA
Como se trata de algo que acontece pela primeira vez na história do Brasil e em face das informações de posse do presidente quanto ao comportamento miserável dos que não fizeram nada para evitar o trágico acontecimento, a sinceridade das palavras iradas de Lula à Globo causa espécie; militares na reserva, como general Etchegoyan, ex-ministro do GSI, no Governo Temer, apressam-se em dizer que Lula, ao responsabilizar militares pela invasão da Praça dos Três Poderes, não contribui para pacificar o país; ao contrário, ajuda a tumultuar; essa declaração é feita às véspera do encontro que Lula terá nesta sexta feira com os militares para encontrar solução política para um clima que incendeia as relações entre as partes; o desafio da política está no ar para apagar incêndios. Conseguirá?
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