Lula, jovem aos 77 anos
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A partir da vitória de Lula em 2002, quando a esperança venceu o medo, teve início no país algo novo na política: os pobres foram incluídos no orçamento, algo revolucionário.
A partir de 2003 Lula liderou um governo de coalizão que implantou políticas sociais de reconhecido sucesso; investiu e multiplicou o PIB; gerou milhões de empregos formais; retirou milhões de brasileiros da miséria, ou seja, fez o que se espera de um governo social-democrata inserido num mundo liberal, há, portanto, legados inegáveis, mas não foram apenas acertos.
Como nem tudo foram flores, as tensões sempre estiveram presentes, pois, a elite financeira nunca aceitou Lula, nem aceitará alguém distante das suas hostes ou que não sejam servis a ela; além de terem sido cometidos erros no caminho.
Em doze anos dos governos Lula e Dilma aconteceram muitas coisas boas, algumas excepcionais, mas não poderíamos errar. Além do mensalão e do Petrolão, não ocorreram reformas estruturais necessárias.
Por que não ocorreram as reformas se Lula chegou a ter mais de 80% de aprovação e folgada maioria no congresso nacional? Na minha opinião “perderam a mão” e, pelo menos naquela quadra da história, PT, PSB, PCdoB e PDT tornaram-se partidos iguais aos partidos de papel, tudo em nome da governabilidade. E a consequência foi depender, para a manutenção da tal governabilidade, dos setores não éticos do mercado e do congresso.A esquerda envelheceu e burocratizou-se em todo o mundo, por isso precisa de “choque de sociedade”, humildade e muita militância fora da bolha.
Não há espaço aqui para comentar o governo Dilma, mas a primeira mulher a ocupar a Presidência, venceu grandes desafios e transformações políticas, sociais e econômicas, até seu mandato ser interrompido em 2016 por um golpe. E não é possível falar do golpe e de Dilma sem reflexão sobre as questões de gênero, camufladas, mas que assumem materialidade no discurso, muitas vezes, em forma de afirmações, opiniões, como também em brincadeiras, escárnios, deboches e piadas, que circulam na mídia, internet e nas conversas diárias, reproduzindo estereótipos, preconceitos e discriminações.
Chegamos a Lula 3- O amor venceu o ódio em 2022, num mundo que vive em movimento e transformação permanentes, sendo assim, a esquerda precisa compreendê-los, bem como, conhecer as novas demandas e dar respostas a elas. Questões como essa incomodam, mas incomodar é necessário, debater é necessário, pois, infelizmente não se debate, adequadamente, as mudanças cada vez mais rápidas nas relações e interações sociais, nem na bolha – confortável e que mantém protegidos aqueles que se declaram “de esquerda” - e muito menos fora da bolha.
Acredito que nas últimas décadas há um distanciamento entre o discurso da esquerda e a sua prática, além de uma excessiva institucionalização, um distanciamento da sociedade. Penso que toda a teoria política, “pensada” a partir de meados do século XIX em países do hemisfério norte e a partir da experiência daquelas sociedades, são distintas da nossa realidade.
As demandas do lado de cá do globo são: a dos povos colonizados; dos irmãos escravizados; dos povos originários; das pessoas simples do campo que buscam propriedade para plantar e colher; moradia; saneamento; emprego; saúde; educação, cultura; lazer; segurança; mulheres; trabalhadores urbanos; a trágica uberização; a invisibilidades imposta aos afrodescendentes; a violência contra os LGBTQIA+; a defesa do meio ambiente; a cultura das periferias etc.
O que eu quero dizer é que a teoria, as pautas e o discurso histórico do socialismo não respondem mais às demandas sociais da atualidade, a teoria socialista passou a ser, em certa medida, pouco atual e a chamada “vanguarda” socialista está sempre se surpreendendo e a reboque das verdadeiras lutas sociais de essência progressista.
Não proponho o sepultamento de tudo quanto foi escrito, mas sim a atenção ao século XXI, e à transformação da sociedade e da sua linguagem.
A nova esquerda não dá golpes, não os apoia e se opõe a elas; para ela a democracia é valor e princípio inegociáveis - bem diferente da direita, pois os nossos liberais conservadores, sempre dispostos a romper com a democracia para atender seus interesses econômicos e seus privilégios -; a nova esquerda busca superar a democracia formal e alcançar a democracia real; ela reconhece a diversidade como forma de eliminar diferenças; ela compreende a democracia como movimento necessário à transformação de relações de poder desigual em relações de autoridade partilhada.
Sem democracia não há igualdade, liberdade ou Justiça, pode haver leis e Poder Judiciário, mas não democracia real, que incorpora uma práxis a busca da liberdade e da igualdade, pois, uma não existe sem a outra.
A nova esquerda se opõe radicalmente aos sistemas de relações desiguais de poder, se opõe a todo tipo de opressão, dominação e exploração, ao racismo, ao sexismo, à homofobia, à xenofobia, e acredita que democratizar significa transformar relações desiguais de poder em relações de autoridade compartilhada, “daí a necessidade do pluralismo político e organizativo no marco dos limites constitucionais sufragados democraticamente pelo povo soberano”, me socorro do mestre Boaventura.
As concepções de democracia liberal, assim como as concepções de socialismo do século XIX, não servem ao Novo Socialismo e pasmem, Lula, aos 77 anos, sabe de tudo isso, mas a maioria não entendeu nada e nada aprendeu.
Essas são as reflexões.
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