Lula ganhou o debate
"No final das contas, o saldo foi favorável a Lula. Ninguém ali mostrou ter propostas melhores que as dele e condições para implementá-las", diz o colunista Alex Solnik, ao comentar o desempenho dos presidenciáveis no debate da Band; "Ninguém bateu nele ou no PT – ao contrário, Meirelles levantou a sua bola várias vezes – o que ocorreria inevitavelmente se ele estivesse lá, pois o formato obrigava a confrontos tête-a-tête", afirma; Lula não vai perder "um milésimo de ponto nas pesquisas em função do que aconteceu ontem", avalia
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"Boa noite, presidente Lula, que deveria estar aqui", disparou Guilherme Boulos ao cumprimentar pela primeira vez o público no debate de ontem dos presidenciáveis. Na verdade, ele estava mais parecido com Lula do que nunca. Vestiu branco, como Lula em 2002, aconselhado por Duda Mendonça (que tinha feito a mesma "feitiçaria" com Maluf) e trocou o cavanhaque por uma barba igual à que Lula tinha há 40 anos, quando evitava sorrir e usava a camiseta do João Ferrador. Quis dizer mais ou menos o seguinte: Lula deveria disputar essa eleição, mas, como não pode, votem em mim que sou o mais parecido com ele.
Boulos tentou se destacar partindo para cima de Bolsonaro, chamou-o de racista, homofóbico e fisiológico. Perguntou na lata: "você não tem vergonha"? O candidato da extrema-direita engoliu o sapo. Conteve-se. Teve de se explicar. Fugiu da raia.E não quis saber de novos confrontos com Boulos.
Desfiou um rosário de propostas selvagens, como a castração química de estupradores para diminuir estupros, garantiu que "a violência cresce por causa da política de direitos humanos" e que "policiais não têm cobertura jurídica". Solução para a violência? "Todo mundo poder comprar arma de fogo". A novidade no discurso de Bolsonaro é que ele passou a se referir a si próprio na terceira pessoa e a se candidatar a salvador da pátria. "Só Jair Bolsonaro pode resolver os problemas do Brasil". Faltou dizer como.
Usando gravata à la Harry Potter, Meirelles elogiou Lula várias vezes e por ter tirado 30 milhões de pessoas da miséria quando ele, Meirelles, era presidente do Banco Central. Mas jamais citou Temer, tentando fazer com que ninguém se lembre que ele é candidato do MDB, que tomou o poder por meio de um golpe parlamentar e é responsável pela destruição econômica, social e ética do país.
Um certo Cabo Daciolo parecia estar num templo evangélico. Pontuava suas respostas com um "glória a Deus Nosso Senhor Jesus Cristo", talvez ignorando ser candidato a presidente de um país que a constituição define como laico. Mandou recado explícito à China e aos Estados Unidos: "No meu governo o Brasil será a primeira potência mundial". Bombeiro por profissão, parecia mais um incendiário. Tentou encurralar Ciro acusando-o de ser fundador do Foro de S. Paulo. "Eu o conheci hoje e vejo que o senhor também não me conhece" respondeu Ciro, com sorriso nos lábios e sem perder a fleugma.
Ciro conseguiu se segurar por duas horas e meia sem alterar o tom de voz. Tratou a todos com civilidade, inclusive Bolsonaro a quem chamou de "caro colega do Congresso". E apresentou a proposta mais sedutora ao eleitorado que ainda não tinha ido dormir: "Eu vou tirar seu nome do SPC". Prometeu explicar como vai fazer isso nos próximos dias.
Aklckmin teve um pequeno duelo com Marina. Ela questionou a contradição dele em pregar mudanças, mas ter se aliado aos velhos partidos do Centrão. Ele respondeu citando Kennedy: "A mudança é a lei da vida". E rebateu o ataque: "A Marina rompeu com o PV, e agora se alia ao PV". "Quem criou o problema não vai resolver o problema" retrucou ela, revelando o mote da sua campanha.
Todo de azul, o smurf Álvaro Dias mostrou que o seu grande plano de governo é nomear Sérgio Moro ministro da Justiça. E eternizar a Operação Lava Jato como solução para os problemas do país.
Como era de se esperar – e só os organizadores não perceberam –sem Lula, ou, ao menos, Haddad, o debate ficou xoxo, vazio, sem conteúdo. Nenhum daqueles oito candidatos mostrou saber como tirar o Brasil da calamidade em que se encontra. Nenhum daqueles candidatos revelou possuir condições de liderar uma volta por cima.
No final das contas, o saldo foi favorável a Lula. Ninguém ali mostrou ter propostas melhores que as dele e condições para implementá-las. Ninguém bateu nele ou no PT – ao contrário, Meirelles levantou a sua bola várias vezes – o que ocorreria inevitavelmente se ele estivesse lá, pois o formato obrigava a confrontos tête-a-tête. Os outros se desgastaram nos embates, Lula ficou preservado. Não vai perder um milésimo de ponto nas pesquisas em função do que aconteceu ontem.
Se o objetivo da Band foi calar Lula, o tiro saiu pela culatra. Lula ganhou o debate.
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