Lula ganhou
"Independentemente dos resultados das próximas eleições, Lula surge como o grande ganhador do processo político recente. Mesmo preso, ainda que submetido a uma fétida lawfare, já condenada pela ONU, ele consolidou-se como o grande líder de massas do Brasil. Ninguém chega perto. Todos os outros, somados, perdem para ele na preferência do eleitor", diz o colunista Marcelo Zero; "Resta saber se os responsáveis pelo golpe que desgraçou o país vão querer que o Brasil continue a perder para evitar que Lula efetivamente ganhe e assuma poder que o povo quer lhe conferir"
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Independentemente dos resultados das próximas eleições, Lula surge como o grande ganhador do processo político recente. Mesmo preso, ainda que submetido a uma fétida lawfare, já condenada pela ONU, ele consolidou-se como o grande líder de massas do Brasil. Ninguém chega perto. Todos os outros, somados, perdem para ele na preferência do eleitor.
Os golpistas, a turma da sangria, imaginaram que bastava apear do poder a presidenta honesta para que tudo ficasse bem, para que a pilhagem do país pelo grande capital internacional e nacional pudesse ser feita com tranquilidade. Quebraram a cara, fracassaram totalmente.
Fracassaram economicamente, socialmente, politicamente e moralmente. Fizeram e fazem o pior governo da história do país. Se especializam em destruir o que Lula e outros governos progressistas haviam construído.
Acabaram cinicamente com a soberania popular mediante o golpe mal-ajambrado, instituíram um Estado de exceção seletivo, atropelaram direitos civis e políticos e reduziram o que era um país com uma jovem e vibrante democracia a uma lamentável republiqueta de bananas. Jogaram fora décadas de luta democrática.
Ademais, ao estimular o ódio contra Lula, o PT e a esquerda de um modo geral, abriram a caixa de Pandora do fascismo tupiniquim. A centro-direita, em especial o PSDB, se transformou em força nanica, incapaz de seduzir um eleitorado de classe média que flerta abertamente com Bolsonaro e suas propostas insanas. O centro político, cuja disputa permitia a alternância democrática do poder, esfumou-se, comprometendo a articulação de soluções conciliatórias e de governabilidade.
A recuperação econômica, prometida de forma praticamente imediata após o golpe, não veio. Em 2016, primeiro ano do golpe, o PIB caiu espantosos 3,6%. Em 2017, houve um episódio de espasmo de crescimento de apenas 1%, o que significa, na realidade, estagnação do PIB per capita em ridículos 0,2%. E o pior é que o crescimento, com a política austericida do governo golpista, não virá. A taxa de investimentos em relação ao PIB caiu de 20%, em 2014, para 15,6%, em 2017, a menor da série histórica do IBGE. A formação bruta do capital fixo continuou negativa em 2017
(-1,8% do PIB). O crédito total caiu de 53,7% do PIB, em 2015, para 47,1%, em 2017. No caso do BNDES, o crédito caiu de R$ 187,8 bilhões, em 2014, para 70,8 bilhões, em 2017. O consumo das famílias, após quedas abissais, permaneceu estagnado, em 2017. Sem investimentos, sem crédito e sem consumo não há crescimento sustentado. É uma impossibilidade matemática. Para este ano (2018), espera-se um crescimento em torno de 1%, o que significa nova estagnação do PIB per capita.
As condições macroeconômicas não melhoram. A dívida pública líquida subiu de 36,7% do PIB, em 2014, para 53, 4%, em 2017. O déficit primário correspondeu a 1,7% do PIB, em 2017 e as contas continuam negativas. Para este ano, o déficit primário deverá ficar em torno de R$ 150 bilhões.
O desemprego aumenta e a desigualdade e a pobreza também. Os rendimentos da população 5% mais pobre caíram espantosos 38%, em 2017, segundo os dados da PNADC do IBGE. Entre os 50% mais pobres, o recuo foi de 2,45%. Com isso, o número de pessoas na extrema pobreza aumentou em 1,5 milhão, entre 2016 e 2017, e o número de pessoas na pobreza aumentou em quase 500 mil, no mesmo período. Portanto, o golpe gerou mais de 2 milhões de pobres e pobres extremos no Brasil. Um milhão de pobres a mais por ano de golpe, em média.
Segundo o IBGE, a subutilização da força de trabalho chegou a 24,7% no 1º trimestre de 2018, atingindo 27,7 milhões de pessoas. Esta é a taxa mais alta da série histórica, iniciada em 2012. Os dados também mostram que o desalento atingiu os maiores níveis da série, com um contingente de 4,6 milhões de pessoas e uma taxa de 4,1%. Vivemos uma grande tragédia social.
Some-se a isso o entreguismo deslavado do governo golpista, que colocou o Brasil inteiro à venda, e a política externa passiva e submissa que nos lançou de novo na órbita geoestratégica dos EUA, e temos o retrato acabado de um país em profunda decomposição econômica, social, política e geopolítica. Um país sem presente e sem futuro algum.
Ante tal quadro dantesco, não surpreende o avanço de Lula. A população, ou boa parte dela, percebe que ele é a única saída viável para a crise.
Os outros candidatos, com raras exceções de baixa expressão, representam mera continuidade da agenda ultraneoliberal do golpe que desgraça o Brasil. Todos eles são continuações de Temer.
Desse modo, Temer-Alckmin, Temer-Marina, Temer-Meirelles, Temer-Amoedo (o velho-novo de Brecht), Temer-Dias, Temer-Bolsonaro, etc. são figuras intercambiáveis, que, se eleitos, dariam continuidade à "pinguela para o passado" do golpe e sua agenda profundamente regressiva. Nenhum deles tem nada de novo a apresentar, a não ser a mesmice ortodoxa e o austericídio que fracassou no mundo inteiro. As únicas coisas que mudam são a cara e o estilo (ou a falta de). O conteúdo medíocre é o mesmo, com pequenas variações secundárias. O capital e seus braços midiáticos e jurídicos vão escolher o que reunir as melhores condições para tentar barrar Lula. Não importa quem.
Portanto, nessas eleições há apenas duas candidaturas efetivas, a de Lula e a dos "Temers", as dos golpistas. As últimas apostam no ódio social, na desigualdade e no apequenamento do Brasil. A de Lula aposta na refundação democrática, econômica, política e social do país e na construção de um Brasil igualitário, solidário e soberano. Aposta num Brasil grande, onde caibam todas as brasileiras e todos os brasileiros.
Caso o golpe tenha sucesso em barrar a candidatura Lula ou a do seu indicado, a crise não só continuará, como se aprofundará. Qualquer novo governo de qualquer um dos "Temers" não terá legitimidade e fracassará de forma monumental. Não terá apoio popular suficiente e não receberá reconhecimento internacional expressivo. O mundo inteiro já sabe que eleição sem Lula é uma grande fraude democrática. O golpe está numa "sinuca de bico", mas continua em sua marcha suicida rumo ao abismo político, econômico e social.
Por isso, Lula, injustamente encarcerado, é o grande ganhador. Resta saber se os responsáveis pelo golpe que desgraçou o país vão querer que o Brasil continue a perder para evitar que Lula efetivamente ganhe e assuma poder que o povo quer lhe conferir.
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