Lula foi Lula: falou direto ao coração dos brasileiros
Diante da maior audiência da televisão brasileira, Lula foi Lula, sem disfarces, retoques ou elementos postiços do marketing eleitoral, escreve Ricardo Bruno
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Por Ricardo Bruno, 247 - O ex-presidente Lula conseguiu dar o seu recado com maestria. Recorreu a frases e expressões de forte empatia com os estratos mais populares da sociedade. Falou em churrasco, cerveja e futebol, chegando a comentar lances do jogo Flamengo e São Paulo para mostrar que, no esporte como na política, as divergências não podem resvalar para ódio.
Esse conjunto de elementos retóricos, próprios da conversa solta e informal dos brasileiros, deu à fala do ex-presidente um formato simples, carregado de mensagens subliminares, de fácil compreensão para a maioria da população. Tratou das grandes questões do País como se estivesse sentado na mesa de um churrasquinho entre amigos. Reforçou a imagem de que de fato é “um de nós” – como já é identificado nas franjas periféricas da sociedade brasileira.
Ao enaltecer a figura de Geraldo Alckmin, de modo incisivo e recorrente, afastou o fantasma da radicalização ideológica, com o qual os adversários tentam novamente assombrar o eleitorado brasileiro. Desfez também a imagem do MST como uma organização radical, quase uma facção guerrilheira, como Renata Vasconcellos insinuou ao lhe perguntar sobre o papel do movimento no governo, caso vença as eleições. Convidou a jornalista a conhecer o novo MST, que hoje atua nos moldes de uma grande cooperativa dedicada à produção de produtos de excelência, especialmente os orgânicos.
Foi novamente sábio ao defender o figura pública de Dilma Rousseff, mas reconhecendo os erros de seu governo, especialmente a enorme desoneração de setores produtivos, que fez murchar a arrecadação, sem qualquer retorno à indução do crescimento econômico. Ou seja: defendeu a companheira no âmbito político sem convalidar seus erros na administração. Mais enfático impossível: “Rei morto, Rei posto”, afirmou para mostrar que não tinha qualquer ingerência nas decisões da ex-presidenta.
Posto contra a parede sobre o modelo de gestão econômica a ser implementado, caso vença, foi nítido. Disse com todas as letras que suas propostas têm como referência suas gestões anteriores.
Lembrou, com propriedade, que polarização nada tem a ver com ódio, citando a época em que PT e PSDB dividiam a política brasileira, sem degenerar para a rivalidade pessoal odienta. “Eu não tinha qualquer problema de sentar com Fernando Henrique e conversar”.
Sobre Alkmin foi novamente magistral ao citar a frase de Paulo Freire: É preciso unir os divergentes para enfrentar os antagônicos”. Naquele momento, mostrou ao Brasil a importância da aliança – aparentemente incompatível aos olhos de puristas e ideologicamente assépticos – para derrotar a ameaça ao Estado Democrático de Direito representada por Jair Bolsonaro.
De resto, em meio a perguntas incômodas, encontrou espaço para mostrar que está preparado, não carrega mágoas, não tem compromisso com erros e tampouco pode ser tomado como ideologicamente radical. Ao contrário, mostrou-se fundamentalmente um homem de centro, posição reforçada pela presença de Geraldo Alkmin, o católico da Opus Dei que representa a quinteessência do centro na dimensão política e nos valores pessoais de vida.
Durante 40 minutos, diante da maior audiência da televisão brasileira, Lula foi Lula, sem disfarces, retoques ou elementos postiços do marketing eleitoral. Falou direto ao coração dos brasileiros – a quem, como paizão, prometeu “cuidar” e não “governar”. São diferenças de abordagem de forte empatia que o fazem irresistivelmente sedutor na busca da confiança dos eleitores para voltar a presidir o país.
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