Lula favorece reeleição de Fernández com troca de moeda para incrementar comércio e reduzir inflação e juros
"A integração monetária latino-americana é, portanto, mais um prego no caixão da globalização unipolar, para afirmação da multipolaridade", diz César Fonseca
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Essencialmente, o acordo bilateral que o presidente Lula está acertando com o presidente Alberto Fernandez, baseado na utilização de moedas locais – real brasileiro e peso argentino – para incrementar comércio entre os dois países reduz utilização de dólar, cujas consequências são menores pressões cambiais que resultarão, para ambos os lados, em menores pressões inflacionárias; há, também, queda da taxa de juros, visto que na transação os dois países emitem sua própria moeda sobre a qual não precisam pagar juros.
Para a Argentina, a providência nesse sentido é mais almejada para diminuir perigo hiperinflacionário; lá a inflação alcança 70% ao ano, dada a crônica carência de moeda americana na praça dolarizada portenha, a elevar, descontroladamente, seu preço, expondo Banco Central a constante perigo de fracasso na condução da política monetária e em desgaste político permanente para o governo, enquanto engorda oposição.
O Brasil, evidentemente, padece do mesmo processo de desgaste cambial que sofre a Argentina, ambos pagando o pato em forma de desindustrialização, mas conta como vantagem a disposição de reservas cambiais, acumuladas pelo nacionalismo petista(2003-2016), enquanto Lula e Dilma estiveram no poder; por isso, o país possui, hoje, cerca de 350 bilhões de dólares, apesar da política neoliberal antinacionalista conduzida por Bolsonaro-Guedes, cujo resultado foi a derrota eleitoral, no rastro do desemprego e da fome.
ARGENTINA NO SUFOCO
Do lado argentino, Fernandez, que não dispõe dessa folga cambial, razão pela qual a inflação dolarizada lhe castiga, já enfrenta desgaste de sua imagem popular, para enfrentar reeleição em 9 meses, correndo perigo de derrota para a direita neoliberal; por aqui, o real está, relativamente, seguro, graças às reservas disponíveis, capazes de evitar corrida contra moeda, em emergências incontroláveis etc, embora fique com dinheiro empossado, sem gerar produção e consumo.
Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad e Sérgio Massa, vão se encontrar em Brasília, na primeira semana de fevereiro, para tocar o assunto como prioridade, remetendo-se a 2008 quando ele começou entre as partes, mas foi interrompido, na emergência do crash monetário americano que levou à bancarrota do Lemann Brother; agora, em novas circunstâncias históricas, renasce no contexto da ressurreição Celac, em 2023, depois da derrota eleitoral do neoliberalismo, que favorece reaproximação-integração latino-americana.
Novo ambiente se dá no instante em que a globalização entra em caos operativo no contexto da Guerra Rússia x EUA-Otan, no território da Ucrânia, depois do fracasso de Davos, quando o pensamento econômico único neoliberal unipolar deixou de ser útil, do ponto de vista geopolítico, abrindo-se ao seu oposto, o pensamento antineoliberal multipolar.
BATALHA PELO MUNDO MULTIPOLAR
A Argentina, fragilizada pela deterioração nos termos de troca internacionais, cujas consequências são pressões inflacionárias desestabilizadoras, que favorecem a direita anti-peronista, havia, ao longo de 2021, tentado entabular com a Rússia o sistema de trocas de moedas, para incrementarem comércio bilateral, expectativa essa que os argentinos alimentavam, também, na ocasião, em relação à China; com o Brasil bolsonarista, as chances nesse sentido se evaporaram.
Os esforços de Buenos Aires, foram, temporariamente, por água abaixo com a guerra entre as duas potências em território ucraniano, a partir de fevereiro de 2022, quando tropas russas, preventivamente, atacaram as forças nazifascistas ucranianas armadas por OTAN/EUA, para invadir território russo.
Mundo em guerra
O impasse continua, porque, passado um ano, o conflito em vez de atenuar-se se acentuou, agora, com Washington mobilizando todas suas forças para engajar a Europa no conflito, o que levanta, politicamente, europeus; estes prometem reagir contra pressão de Tio Sam nas próximas eleições europeias, especialmente, se a guerra escalar, acompanhada de ameaças nucleares; o fato é que o processo monetário de trocas de moeda, no plano global, tende a, igualmente, escalar-se, em prejuízo da moeda americana, ainda, hegemônica, não se sabe até quando.
Washington sancionou Moscou, mas o resultado deu ruim para os Estados Unidos; Moscou conseguiu escapulir do dólar, exigindo monetização em rublo das suas exportações e importações, aproximou-se da China e ambas, potências militar e comercial, atuam, agora, conjuntamente, na expansão asiática com a rota da seda.
Essa aproximação, por sua vez, incrementa o novo sistema de pagamento internacional entre China e Rússia, ampliando-se por toda a Ásia, em prejuízo da hegemonia do dólar, predominante desde o pós-guerra etc.
Lula, novo fator geopolítico
O efeito demonstração se espalha pelo cenário global, atingindo América Latina; em Buenos Aires, Lula foi claro ao destacar que Brasil e Argentina se aproximam para viverem, conjuntamente, nova realidade monetária, ao largo do tacão de ferro da moeda de Tio Sam; verifica-se, na prática, que, depois da Davos, não faz mais efeito, como antes, a pregação globalista unipolar americana, sob reinado do dólar.
Amplia-se, isso sim, pressões em sentido contrário no rumo do concerto monetário internacional de relações recíprocas de moedas nacionais, puxadas pela relação China-Rússia-Índia, integrantes do Brics, no ambiente da guerra, na busca do mundo monetário multipolar; tal realidade se acentua, ainda mais, com chegada de Lula ao poder, sabendo que, como presidente do Brasil, foi um dos criadores do Brics, estando com gana para retomar sua atuação internacional, agora, a partir do Banco dos Brics.
A integração monetária latino-americana, ensaiada essa semana, na Celac, é, portanto, mais um prego no caixão da globalização unipolar, para afirmação da multipolaridade global.
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