Lula falou a blogueiros com a serenidade dos que têm consciência limpa

Lula não tem medo das investigações. Está confiante, aliás, em que o PT e ele mesmo estão longe de estar “acabados”, como pregam alguns

Lula não tem medo das investigações. Está confiante, aliás, em que o PT e ele mesmo estão longe de estar “acabados”, como pregam alguns
Lula não tem medo das investigações. Está confiante, aliás, em que o PT e ele mesmo estão longe de estar “acabados”, como pregam alguns (Foto: Eduardo Guimarães)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Foi a terceira entrevista coletiva concedida por Lula a blogueiros de que participei desde 2010. A primeira, foi em 24 de novembro de 2010 no Palácio do Planalto, quando ele ainda era presidente; a segunda, foi em 9 de abril de 2014.

Abaixo, as íntegras das duas primeiras entrevistas

24 de novembro de 2010

continua após o anúncio

9 de abril de 2014

continua após o anúncio

No último dia 20, Lula concedeu a terceira entrevista – como na segunda, no Instituto Lula. Alguns estão considerando essa como a melhor de três devido, acima de tudo, à descontração do ex-presidente em um momento em que muitos julgavam que estivesse combalido pela guerra de aniquilação que setores da grande mídia, do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal e da oposição movem contra si.

continua após o anúncio

Seria ocioso abordar a entrevista em si porque, a esta altura, o vídeo com a sua íntegra já está se espalhando – quem não assistiu poderá assistir ao fim deste post.

O que mais importa relatar, portanto, é o que a entrevista não diz e que só pode ser relatado por quem estava presente, que é o estado de espírito do ex-presidente em um momento como o atual.

continua após o anúncio

O Lula que os blogueiros encontramos me surpreendeu pelo bom humor e pela tranquilidade. Aliás, a resposta que deu à pergunta que lhe fiz (assista ao vídeo a partir de 1:24:15) foi ainda mais surpreendente porque, perguntado por mim sobre a sabotagem do governo pela oposição, ele me respondeu, textualmente, o seguinte:

“(…) Olha, Eduardo, eu acredito que o povo brasileiro precisa repudiar, de forma veemente, todas aquelas pessoas que trabalham para atrapalhar, sabe, o desempenho do Brasil, porque quando alguém trabalha para evitar que as que as coisas que o governo faz deem certo, na verdade as pessoas não estão prejudicando o governo, as pessoas não estão prejudicando um empresário, não é um deputado, um senador, um ministro, quem sofre, na pele, é o povo mais necessitado desse país.

continua após o anúncio

Então, eu dizia sempre: quando as pessoas tiraram a CPMF achando que ia me prejudicar, eu não fui prejudicado, mas o povo brasileiro foi, porque foram bilhões e bilhões que deixaram de entrar pra cuidar da saúde nesse país.

Então, quem precisa da saúde são as pessoas mais humildes. São eles que perdem. Então, quando alguém tenta sabotar a Dilma – como muita gente tucana está tentando sabotar a Dilma -, na verdade eles estão retardando, sabe, qualquer avanço social do povo brasileiro. Qualquer avanço social do povo brasileiro.

continua após o anúncio

Teve até um que disse que ia tirar 10 bilhões do Bolsa Família, não é? Então, isso é grave. Mas o que é que a gente faz? A gente não pode ficar lamentando porque, também, a oposição existe pra isso. Você vê que nos Estados Unidos, o partido republicano judia dos democratas, quando estão no poder. E quando os democratas estão na oposição judiam dos republicanos. E o Obama sofre, chora, sabe, e os republicanos não têm piedade: “somos oposição pra isso”.

Aqui no Brasil, também é assim. O que nós precisamos – e acho que a Dilma tem que fazer isso com mais força -, é conversar mais com a sociedade. Conversar mais com os agentes vivos da política brasileira, sabe. Organizar melhor os partidos, assumir compromissos com seus aliados. Cada ministro tem que cobrar seus deputados se não votarem a favor das propostas do governo, porque política é assim, meu caro.

continua após o anúncio

Eu vou lhe contar uma história: se tem uma coisa que o Congresso Nacional adora – e qualquer congresso do mundo – é presidente fraco. Eles não gostam de presidente forte porque quando o presidente é muito forte ele tem muita força pra muita coisa e ele [Congresso] não pode constestar. Mas quando está fraco eles contestam. É o papel do Eduardo Cunha. Ele se presta a criar uma “pauta-bomba” todo santo dia. Ele está pouco preocupado se vai retardar alguma de importância pro país – mas não é de importância pra Dilma, é de importância pro país (…)”

A resposta de Lula à minha questão ainda foi longe, como a todas as outras – quem quiser, repito, pode assistir a entrevista, na íntegra, no vídeo ao fim do texto, com minha participação, também repito, aos 1:24:15. Mas o fato é que ele demonstrou, com a sua resposta, serenidade e espírito democrático ante a realidade do nosso sistema político. Sem chorumelas, sem drama.

Lula, antes de tudo, entende que a democracia é, acima de qualquer coisa, um sistema pensado para fazer coexistirem as divergências naturais em qualquer sociedade e, desse modo, não adianta reclamar dos choques que essas divergências causam e da preponderância de quem está fora do governo quando esse governo se enfraquece por esta ou por aquela razão.

Nesse contexto, o ex-presidente demonstrou tranquilidade igualmente surpreendente com a tentativa de criminalizá-lo e até à sua família.

Demonstrou entender que ninguém está acima da lei e que foi exatamente isso que ele pretendeu quando, em seu governo (2003 – 2010), deu ao Ministério Público e à Polícia Federal liberdade que nunca tiveram, em governos anteriores, para investigarem a qualquer um.

Lula não tem medo das investigações. Está confiante, aliás, em que o PT e ele mesmo estão longe de estar “acabados”, como pregam alguns. Relatou, na entrevista, que um ano antes de ser eleito presidente pela primeira vez visitou Fidel Castro e ele lhe relatou que ficara “sabendo” que o PT estaria acabado. E um ano depois o PT chegou ao poder.

Aliás, Lula tem razão. Após perder as três primeiras eleições presidenciais para o PT, muitos acharam que o PSDB estaria “acabado” e, muito diferente disso, o partido interrompeu a redução de bancadas no Congresso que experimentou em 2002, 2006 e 2010 e, em 2014, voltou a crescer.

A política, assim como a economia, é cíclica. No mundo inteiro esquerda e direita se alternam no poder, assim como as economias experimentam ciclos de expansão e retração. Não há que se desesperar por isso, como Lula bem demonstrou. Faz parte…

Antes de concluir, vale conferir, mais uma vez, como a imprensa tratou essa terceira entrevista de Lula a blogueiros. Foi mais do mesmo.

Em abril de 2014, o jornal O Globo colocou seus repórteres para “caçarem” os blogueiros que entrevistaram Lula e, de forma bizarra, publicou matéria de uma página inteira com o “perfil” dos entrevistadores – você já viu alguma matéria na imprensa sobre o perfil de entrevistadores?

entrevista lula 1

 

Desta feita, até aqui não houve alguma coisa nesse sentido, mas reportagem da Folha de São Paulo, por exemplo, sobre a entrevista de Lula a blogueiros repisa a tese dessa “grande imprensa” de que o ex-presidente deu entrevista a pessoas “simpáticas ao PT”, como se isso contivesse algum demérito caso fosse verdade.

entrevista lula 2

O destaque na primeira página sugere algo de extraordinário em um ex-presidente da República dar entrevista a jornalistas-blogueiros. O texto em evidência diz o seguinte: “Em conversa ontem com blogueiros simpáticos ao PT (…)”

Nas páginas internas, a matéria de capa repisa essa “simpatia” dos seguintes entrevistadores pelo presidente. E quase os “denuncia”, citando-os um a um.

entrevista lula 3

Essa história de “blogueiros simpáticos ao PT” é uma piada. A mídia age como se todos tivessem o mesmo viés. Eu, por exemplo, nunca escondi minha simpatia por Lula, pelo PT, pelo governo Dilma. Mas eu não fui o único entrevistador.

As jornalistas Conceição Lemes, do blog Viomundo, e Laura Capriglione (ex-Folha), do grupo Jornalistas Livres, por exemplo, fizeram perguntas bastante incômdas ao ex-presidente. Lemes acusou o governo Dilma de fazer o ajuste fiscal “nas costas do trabalhador” e Capriglione questionou Lula sobre se o PT acha mesmo que não tem nenhuma culpa pelos escândalos envolvendo o partido.

Será que a Folha, O Globo, o Estadão ou a Veja assistiram mesmo à entrevista ou foram escrevendo seus ataques “no automático”?

Ainda assim, o jornal pegou muito mais leve com os blogueiros do que a Veja, por exemplo, que atiçou seus mastins contra nós. Um de seus pistoleiros, cupincha do PSDB, incapaz de fazer uma única crítica aos desvios éticos do partido ou às citações de FHC e Aécio Neves na Lava Jato, usou sua linguagem imunda para nos insultar em vez de argumentar contra o que dissemos.

entrevista lula 4

CONFIRA, ABAIXO, A ÍNTEGRA DA TERCEIRA ENTREVISTA DE LULA A BLOGUEIROS

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247