Lula entre (Deus?) e a governabilidade
A realidade do governo tem sido o ir e vir de lideranças de partidos em seu gabinete, em busca de ministérios. Agora essa romaria será acrescida dos pastores
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A entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, veiculada pela TV Record - originalmente aliada do ex-presidente -, transmitida há dois dias, diretamente do Palácio do Planalto, com um roteiro de perguntas amigáveis, já pode ter sido o primeiro passo da emissora em direção ao governo, graças ao movimento de inserir na reforma tributária, isenções de interesse das igrejas evangélicas, pentecostais e que tais.
Embora esse aceno de Lula tenha ocorrido antes da votação da reforma, o que os pastores classificam de “dubiedade” do projeto, que não abrange de forma clara as instituições “filantrópicas” voltadas ao “trabalho social” dessas igrejas, levou a que metade da bancada votasse contra o projeto.
Ao que tudo indica, no entanto, em breve esse posicionamento irá mudar. Não só porque tal como os partidos de Centro, os pastores não conseguem viver longe do poder, como também porque as alterações tributárias vão abarcar favoravelmente nomes como aquele, que queria se acorrentar e fazer greve de fome se Lula vencesse as eleições. Ele mesmo, o pastor Silas Malafaia. Também serão beneficiados Edir Macedo – o da Record -, Abner Ferreira José Wellington Bezerra e outros radicais de muitos decibéis acima.
Embora a imunidade a templos esteja prevista na Constituição, a isenção diz respeito apenas à cobrança de IPTU. Porém, os pastores alegam que recebem da Receita Federal multas pesadas pelas organizações vinculadas às suas igrejas. Está certo, o fisco, de aplicá-las, mas são esses penduricalhos no entorno das igrejas que estão toldando a relação do governo com os seus dirigentes.
Assim, tal como o balcão que se estabeleceu no Congresso de corridas às emendas e ministérios em liquidação, também agora no segmento “igrejas” cada um quer arrancar o seu naco em troca de apoio e “governabilidade”.
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), vem apontando que o texto apresentado na reforma tributária abre caminho para que a isenção seja tão abrangente que não deixe de fora da isenção de tributação nem mesmo o canal que deu voz a Lula, nesta semana. Desta forma, os pastores poderão formar verdadeiros conglomerados comerciais, livres de impostos: templos, livrarias, canais de televisão e rádios. Todos terão lucros limpos de cobranças de impostos.
Em 2021 o ex-ocupante do Planalto perdoou R$ 1,4 bilhão de dívidas referentes à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), imposto da União que incide sobre o lucro líquido dos pastores, (conforme informações de O Globo). Também foram perdoadas – no período da eleição – dívidas de IPTU. Recentemente, antes mesmo da votação da reforma tributária, Lula encomendou à senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que elaborasse uma PEC para ampliar a isenção tributária das igrejas. O projeto está sobre a mesa do ministro Rui Costa, que aguarda um aceno do Planalto.
A dura realidade do governo de coalizão do presidente Lula tem sido o ir e vir de lideranças de partidos do centro na porta do seu gabinete, em busca de postos em ministérios ou no segundo e terceiro escalões. Agora essa romaria será acrescida dos pastores, que abandonarão os impropérios, correntes e promessas de greve de fome, para abrir os bocões vorazes em busca das benesses para as suas igrejas. Maldita a hora em que a política se deixou contaminar pela religião. Ampliam-se no Congresso as bancadas da bíblia, do boi... Ainda bem que a da bala anda em baixa. Do contrário, também estariam modulando o alvo, em busca de mais munição. Enquanto isto, o presidente Lula se equilibra entre Deus e a governabilidade...
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