Lula e Bolsonaro: vidas contrapostas

Ungido a presidente duas vezes pela vontade do povo, Lula "levou água para os que tinham sede, pão para os que tinham fome, casa para os que viviam no relento, luz para os que moravam na escuridão, educação para os famintos de conhecimento e de oportunidades, um mínimo de conforto para os que não tinham renda e resgatou a dignidade do salário mínimo", diz o colunista Aldo Fornazieri; ele critica Jair Bolsonaro: "em 100 dias de governo semeou discórdias, conspurcou a instituição da Presidência"

Lula e Bolsonaro: vidas contrapostas
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Nenhum Plutarco do futuro será capaz de escrever uma história de vidas paralelas de Lula e Bolsonaro. As vidas de ambos não têm nenhum paralelismo, nenhum ponto de contato. São antípodas, inteiramente contrapostas, seja pelo caráter moral diverso de ambos, seja pelo significado histórico de suas ações ou pelos sentidos divergentes que os fatos a eles relacionados indicam. Depois de um ano de aprisionamento injusto e cruel de Lula e de 100 dias de governo Bolsonaro, esta conclusão se impõe, pois embora faltem muitos dias ainda para o final do mandato do atual presidente, não há nenhuma evidência de que ele seja provido de qualquer prudência que possa fazê-lo mudar de condutas e de rumos.

Lula nasceu das mais profundas raízes trágicas do povo brasileiro marcadas pela fome, pela pobreza e pelas errâncias. Mas ele não se limitou a aceitar a condição natural imposta pelas condições de nascimento. Decidiu fazer-se povo no sentido transcendente, como guia, como líder, como condutor. Para isso, forjou seu caráter nas vicissitudes de muitas e árduas lutas e sacrifícios, sacramentando um compromisso inquebrantável na busca de uma sociedade justa, semeando as sementes da esperança nos descampados de um povo desesperançado pela dominação, pela exploração, pela vida pobre, pela falta de direitos. Na luta por direitos fez-se líder sindical, organizando os trabalhadores e os instrumentos de luta como os sindicatos e a CUT. De líder sindical transcendeu para a liderança política, organizando um poderoso partido como meio de luta para alcançar os fins maiores do bem-estar do povo e da justiça social.

Ungido a presidente duas vezes pela vontade do povo, levou água para os que tinham sede, pão para os que tinham fome, casa para os que viviam no relento, luz para os que moravam na escuridão, educação para os famintos de conhecimento e de oportunidades, um mínimo de conforto para os que não tinham renda e resgatou a dignidade do salário mínimo. Fez do crescimento econômico, não o bolo adocicado para as elites predatórias, mas uma repartição mais equânime da riqueza produzida por todos.

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Bolsonaro, na vida pregressa à presidência, dissipou seu tempo no não fazer. Como militar, chegou à vida privilegiada de oficial superior para quase ser expulso por planejar arruaças perigosas. E em quase trinta anos de vida parlamentar continuou na arruaça política com provocações, com elogios a ditaduras, a torturadores sanguinários, e com ofensas homofóbicas, machistas, racistas. Feito presidente pela sorte, mostrou a que veio: em 100 dias de governo semeou discórdias, conspurcou a instituição da Presidência, desorganizou o governo, desuniu os brasileiros, se esmerou nas esquisitices, defendeu ditadores assassinos e sanguinários, promoveu o desencanto e o desalento na sociedade e reconheceu que não tem competências para ser presidente. Eleito pela mentira, continua mentindo.

No mundo, Lula foi grande entre os grandes e deles teve o respeito, fazendo respeitarem o Brasil. Bolsonaro foi pequeno diante de um Trump bruto e desumano, que separa as crianças de seus pais, que estimula a destruição das condições ambientais da vida no futuro. Foi pequeno diante de Netanyahu, um assassino de palestinos, um violador das regras da ONU, um usurpador de terras que não lhe pertencem. Lula engrandeceu e dignificou o Brasil no mundo defendendo os interesses nacionais. Bolsonaro envergonha o Brasil e age contra os seus interesses promovendo um entreguismo vergonhoso e antinacional.

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Lula, que não teve oportunidade de estudar, construiu universidades pelo Brasil afora. Bolsonaro está destruindo o MEC e o sistema educacional do país. Com Lula, o povo andou de pé, com a cabeça erguida, orgulhoso e feliz. Com Bolsonaro, o povo está de joelhos, cabisbaixo, enraivecido, triste e infeliz. Lula foi e é a encarnação do verbo que traz a esperança para um povo sofrido. Bolsonaro profere palavras falsas que apedrejam os corações doloridos de um povo que não consegue se dar um destino. Lula baniu a fome e a pobreza de milhões; Bolsonaro está trazendo de volta a fome e aumenta a angústia da pobreza que se alastra em desemprego e em perda do poder aquisitivo. Lula respeitou a Constituição, as instituições, a democracia e a dignidade da política. Bolsonaro profana a Constituição, ofende a democracia, desrespeita as instituições e destrói a política.

Bolsonaro ocupa a mais alta magistratura do país imerecidamente e sem respeitá-la. Lula é cativo de uma condenação injusta, de uma sentença criminosa que serviu de instrumento para elevar ao poder o governo rejeitado que está aí. Sérgio Moro se mostrou um homem sem moral e desumano, que não hesitou em lavrar uma sentença para condenar um inocente, o maior líder político do Brasil, para ele mesmo aboletar-se no poder.

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A condição de ministro de Bolsonaro faz de Moro um inescrupuloso confesso de que foi um juiz injusto, que proferiu sentenças por pura ambição de poder. A empáfia fascistóide de Moro, com suas artimanhas enganadoras, não o livrará de uma sentença justa da história e do juízo fatal dos tempos. Tal como este juízo atesta que houve um golpe e uma ditadura no Brasil, ele atestará a falsidade das sentenças de Moro e do TRF4, assim como a covardia dos tribunais superiores que se ajoelham perante a tutela militar. A história poderá ser escrita e reescrita. Mas hoje já existem elementos suficientes para provar que as sentenças condenatórias de Lula expressam uma antítese entre a lei e a ambição, entre a justiça e o interesse, entre a inocência e a impiedade, entre a misericórdia e a desumanidade.

Bolsonaro chegou à presidência ocupando o lugar que deveria ser de Lula se a normalidade democrática tivesse persistido. Enquanto Bolsonaro dissipa seu tempo em sandices ideológicas, dissipando o presente e o futuro do Brasil, Lula vive a condição trágica da sua liberdade ceifada, das perdas de familiares, do cerceamento dos seus direitos. Lula é e será grande porque é uma síntese de glória e tragédia e porque é a expressão autêntica da tragédia de um povo que clama no deserto. Clama por justiça, por igualdade, por liberdade e por direitos. Sem Lula, este povo está quase sozinho, pois Lula ainda é a única força, o estandarte, o rochedo que conforta os sentimentos sofridos e alimenta as esperanças do povo.

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Se um dia o Brasil e seu povo forem libertados das mãos dos impiedosos, dos inescrupulosos, dos maldosos, dos corruptos, dos predadores, as suas biografias deverão ser pregadas em todas as partes para que esses tempos de tormentos, essa história de infortúnios, esses séculos de degradação da vida nacional não sejam esquecidos. Para que as biografias desses predadores não sejam esquecidas. Derrubaram a Dilma e prenderam Lula para implantar o desgoverno. No desgoverno vale a lei dos mais fortes. É preciso tirar o Brasil da beira do abismo e isto implica num combate implacável contra aqueles que lá o levaram.

É pouco provável que Lula saia de sua trágica condição no curto prazo. Uma hipótese, improvável, seria a de que ele recebesse a graça dos tribunais superiores com a prisão domiciliar que, ainda assim, não representaria por inteiro a sua liberdade usurpada. O recuo do STF de julgar a pendência da prisão após condenação em segunda instância mostra que aquele tribunal está alinhado com o governo Bolsonaro e com as pressões militares.

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A única forma segura de libertar Lula é aquela anunciada por João Pedro Stédile no ato da campanha Lula Livre em Curitiba: não basta colocar 10, 15 mil militantes ou mais na rua. É preciso colocar povo, 500 mil pessoas, 700 mil ou mais. Tribunais que rasgaram a Constituição e que estão submetidos à tutela militar não entendem outra linguagem que não seja a linguagem da pressão do povo. Contra as pressões do governo e dos poderosos é preciso opor a pressão do povo mobilizado. Os ministros do STF querem o respeito e dizem que querem combater as mentiras. Mas eles só se farão merecedores do respeito quando respeitarem o povo e a Constituição.

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