Lula e a consciência do seu tempo
É necessário mais do que apenas retornar ao comando do governo, é ter garantias de governabilidade
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A realidade exige pragmatismo.
Lula tem consciência do momento e do papel que lhe cabe.
Que bom seria se pudéssemos apresentar uma chapa pura - Lula e Gleisi, Lula e Haddad, Lula e Dilma! Ou pelo menos de esquerda, Lula e Dino, Lula e Manuela, Lula e Freixo, Lula e Boulos...
Não agregaria nada, não geraria simpatias, muito pelo contrário. Seria demonstração de sectarismo, de arrogância, do PT ou das esquerdas.
Os movimentos que Lula vem fazendo têm-lhe aberto portas, as mais inesperadas. Veja-se o destaque que, súbito, as organizações Globo e toda mídia velha vêm dando a Lula, desde o giro pela Europa até o jantar do Prerrogativas.
Lula sabe que, mais do que juntar letrinhas e nomes fortes para ganhar uma eleição, ele precisa exortar a paz, resgatar a união das famílias e o respeito entre adversários políticos.
Ele sabe que enterrar o bolsonarismo, abortar o fascismo já em fase avançada de desenvolvimento, é condição necessária para que ele próprio, ou qualquer outro que venha a vencer a eleição, tenha um mínimo de tranquilidade para governar, tenha segurança política e jurídica.
O ódio disseminado por todo o país desde que se exacerbou o antipetismo, que na verdade significa "antipovismo", ódio ao povo, às conquistas sociais dos debaixo, dos antes condenados à senzala, só vai se esvair com doses mais fortes de governo petista.
É preciso avançar em iniciativas que signifiquem empoderamento do povo pobre, como as políticas de cotas nas universidades, Prouni, Ciência Sem Fronteira, por exemplo.
Sobretudo agora, quando se tornou imprescindível recuperar direitos e políticas públicas exterminadas pelos governos Temer e BolsoNero, como os direitos trabalhistas, o sindicalismo, a proteção dos trabalhadores, a par da tevisak de toda política entreguista dos últimos governos.
Para isso é necessário mais do que apenas retornar ao comando do governo, é ter garantias de governabilidade. Aprendamos com a História, particularmente com os fatos mais recentes, como o golpe dos corruptos de 16.
Teremos de ampliar nossa representação no Congresso. Resgatar os direitos trabalhistas exigirá aprovação de uma PEC, vale dizer, obter os votos de mais de trezentos deputados e senadores. Viabilizar políticas de inclusão social, idem, pois será preciso derrubar o teto de gastos e, para tanto, modificar a Constituição. Só para evitar um impeachment são necessários quase duzentos deputados aliados e leais.
O Brasil é muito grande, os interesses são os mais diversos, nossa cultura política, sobretudo no que diz respeito ao exercício da democracia, é ainda incipiente e frágil. A par disso, nosso desenho político-institucional é complexo e exige do presidente negociar constantemente com o parlamento.
Antes tenhamos que dialogar com o ex-PSDB de Alckmin e FHC, com o MDB de Renan Calheiros, com o PSD de Gilberto Kassab, respaldados por PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT, PV e Rede, do que termos de ceder à truculência do bolsonarismo. E, por óbvio, só poderemos dialogar com aqueles, e não com estes, se os primeiros forem eleitos - de preferência, sem a presença significativa dos últimos.
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