Lula decide entre uma frente ampla ou uma aliança de esquerda

Haddad pode sim voltar ao páreo municipal, à medida em que pesquisas de opinião o mostrem do tamanho que tem hoje em São Paulo, isto é, muito maior do que a expressão eleitoral dos demais postulantes do PT ao cargo que foi de Doria, passou para Covas e estará em disputa em outubro próximo

Fernando Haddad e o retorno à civilização
Fernando Haddad e o retorno à civilização (Foto: João Valério)


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Está na cabeça e nas mãos de Lula. Depois de embananar o PT ao reiterar, ainda no cárcere, que Marta Suplicy é a melhor prefeita que São Paulo já conheceu, o ex-presidente resolveu tomar o fôlego da liberdade para orientar seu partido a igualmente respirar fundo. É hora de ter calma. Lula sabe ser possível ganhar a Prefeitura da maior cidade do País, e consumar em 2020 o que seria uma espetacular vitória sobre todos os seus maiores adversários de uma só vez. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro já conta com os préstimos do presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para criar a toque de caixa a Aliança pelo Brasil e ter um candidato nitidamente de direita para concorrer na faixa ideológica que é sua, o governador João Doria empina o balão de ensaio de uma chapa Bruno Covas-Joice Hasselmann para avançar em sua rota de guindar o PSDB mais para a direita ensandecida do que o centro responsável. Nesse cenário que já se desenha, como aponta o noticiário dos últimos dias, tem-se que todo o campo de centro-esquerda permanece aberto a quem encontrar a chamada ‘linha justa’, como dizíamos os comunistas, para ocupá-lo. É essa pista que Lula persegue para não errar.

Com uma sorte Lula já conta. A candidatura petista que parecia natural, a do ex-prefeito e ex-candidato a presidente Fernando Haddad, subiu para o ‘freezer’ e está congelada. De tanto fugir da cruz que lhe caberia carregar mais uma vez, Haddad parece ter convencido Lula de que o melhor mesmo é preservar-lhe no ano que vem e pular o risco de participar de uma eleição difícil em sua própria cidade. Para Haddad, seria vencer ou vencer, caso contrário sua programada corrida à Presidência estaria prejudicada desde antes da largada. É compreensível. Seja como for, o ex-prefeito segue como candidato de estimação do PT à Presidência em 2022, um plano A com cara de plano B, à medida em que, se houver condições jurídicas, Lula, na-tu-ral-men-te, será o gladiador a enfrentar Bolsonaro, o leão da Arena, corrija-se, da Aliança pelo Brasil.   

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Uma segunda sorte aguarda pelo metalúrgico que forjou, peça a peça, o DNA do PT: o mesmo Haddad pode sim voltar ao páreo municipal, à medida em que pesquisas de opinião o mostrem do tamanho que tem hoje em São Paulo, isto é, muito maior do que a expressão eleitoral dos demais postulantes do PT ao cargo que foi de Doria, passou para Covas e estará em disputa em outubro próximo. Hoje com ao menos seis pré-candidatos que já falam em realizar prévias para ver qual deles se sobressai, do ex-ministro Alexandre Padilha ao ex-secretário Jilmar Tatto, passando pelo ex-senador Eduardo Suplicy, o PT sabe que todos eles serão nomes pesados de carregar. Hoje, talvez apenas Suplicy, que não se elegeu senador, apesar de ter largado na frente, no ano passado, tenha um ‘recall’ razoável, mas também uma longa série de objeções e rejeições. Quanto aos outros, seriam muito mais bons vices, por representarem a legenda, do que candidatos populares para explodir de votos as urnas.

Facilmente se enxerga, para nova sorte de Lula, uma alternativa que ele mesmo estimula: Marta Suplicy. Ausente por escolha própria de uma disputa à reeleição para o Senado, do qual saiu com experiência política ampliada e nome tão limpo quanto entrou, a ex-deputada, ex-prefeita, ex-senadora, como mostra seu currículo, é uma campeã de votos. Está disposta e costura, onde quer que vá, o que vai chamando de Frente Ampla, um plano político que visa aglutinar a esquerda, somar-lhe o centro democrático e atrair para suas fileiras os votos anti-Bolsonaro e anti-Doria. Na cena da direita dividida em pelo menos duas partes, com o presidente e o governador buscando hegemonia na mesma raia ideológica que atualmente é preenchida pela classe média paulistana que vai à Avenida Paulista, domingo sim, domingo não, de camisa canarinho, Marta faz a aposta certa ao buscar mais chances concretas para as famosas ‘forças progressistas’.

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Como sorte é sempre bom, há mais uma nessa equação político-eleitoral que Lula deve decifrar. Ao contrário de tempos passados, quando Marta se afastou do PT contrariada com a então presidente Dilma Rousseff, seu ‘Rasputin’ Aluizio Mercadante e o então presidente do PT Rui Falcão, que inviabilizaram um movimento que ela fazia avançar entre grandes empresários – exatamente o ‘volta, Lula’ -, agora o ânimo é outro. A ex-prefeita joga seu cacife a favor de uma aliança prioritária com seu ex-partido.

O momento de Marta é o de resgatar políticas sociais que jamais serão praticadas por quadros como Bolsonaro, Doria, Covas, Skaf, Joice etc. Trata-se de um pessoal que não sabe como tomar um ônibus em direção ao bairro de Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital, enquanto a ex-prefeita pode viajar pelo corredor que criou para coletivos, pagar com o bilhete único que igualmente introduziu em São Paulo e, ao chegar lá, deparar-se com um magnífico CEU (Centro de Educação Unificada) que ela mesma mandou construir. Para trazer São Paulo de volta aos tempos em que a prioridade era a periferia, onde vive a grande maioria da população e, claro, onde estão as maiores necessidades da metrópole – exatamente para a classe média viver mais em paz em seus redutos nobres -, a ex-prefeita nem mesmo fala em concorrer como líder de chapa. Registre-se, porém: não são poucos os observadores da próxima eleição paulistana que projetam, com qualquer cenário, Marta instalada no segundo turno contra quem der e vier.

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Pela vitória da ideia política da Frente Ampla, Marta não reivindica necessariamente a cabeça de uma chapa representativa do centro-esquerda. Sem vacilar, ela admite ser vice de um candidato petista competitivo – e volta-se aqui a Fernando Haddad. De outro modo, se as negociações levarem à presença na chapa de um petista sem nítido potencial eleitoral, Marta está disposta a liderar a tropa como já fez, em 2000, até a vitória. Sem filiação partidária neste momento, ela tem procurado e sido procurada para conversas com partidos políticos e entidades sociais, nas quais aponta, com ênfase cada vez maior, o veículo da Frente Ampla como único meio para vencer a disputa.

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A escolha é de Lula. A senha dada por ele mesmo, ainda preso na sede da PF, em Curitiba, de que Marta foi a melhor prefeita da história de São Paulo – avaliação, de resto, corroborada por pesquisa Datafolha – foi complementada, na semana passada, em Recife, durante reunião da Executiva Nacional do PT, pela demarcação, em discurso, de que São Paulo é um território especial, no qual os petistas devem seriamente considerar alianças para ampliarem suas chances de vencer. Ao entender que uma frente ampla é maior e mais competitiva do que uma simples aliança de esquerda, o ex-presidente, sem dúvida, estará ajudando a sorte que bate à sua porta. (Marco Damiani)

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