Lula da Silva e o contributo do Brasil para a paz: donde vem a fúria da (extrema)direita em Portugal?

"O que impressiona nas notícias da generalidade dos media em Portugal em relação a Lula da Silva é a desinformação"

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Parlamento de Portugal durante comemorações dos 49 anos da Revolução dos Cravos 25/04/2023
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Parlamento de Portugal durante comemorações dos 49 anos da Revolução dos Cravos 25/04/2023 (Foto: REUTERS/Rodrigo Antunes)


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Está prevista a visita do Presidente do Brasil Lula da Silva no dia 25 de Abril de 2023. Ora se a vinda do Presidente de um país-irmão, que foi colonizado por Portugal, poderia e deveria ser saudada por juntar-se à comemoração da histórica data do 25 de Abril de 1974 pelo derrube de um regime ditatorial, tal como o Brasil o viria a fazer 12 anos depois, é surpreendente constatar que, após a difícil mas expressiva vitória de Lula sobre Bolsonaro em 2022, haja pruridos por parte de certa opinião pública sobre a conveniência de Lula se associar à própria celebração oficial do 25 de Abril. Entretanto, os órgãos de soberania, para evitar mais vozearia da (extrema)direita, acharam por bem deslocar para uma sessão anterior de boas vindas antes da sessão solene. 

No meio da já habitual campanha de manipulação mediática relativamente à guerra na Ucrânia, eis que o facto de Lula criticar a UE e os Estados Unidos/NATO pela estratégia belicista e armamentista, em vez de procurar a paz entre os contendores, exponenciou a fúria da direita e sobretudo da extrema-direita contra Lula da Silva. Não só o Brasil já tinha condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia, como, mais recentemente, Lula clarificou e bem a sua posição a este respeito condenando a invasão, como, contrariamente à grande parte dos países ocidentais, colocou como estratégia relevante o esforço pela paz, a qual implica o envolvimento não só da Rússia e da Ucrânia, como das potências em competição geoestratégica: os Estados Unidos e a União Europeia, por um lado, e a China, por outro, com a particularidade de esta, não se tendo envolvido na guerra, poder deter um papel mediador, juntamente com outros países não envolvidos no conflito como o Brasil, entre outros. Alguns comentadores consideram pueril ou ingénua a posição de Lula da Silva, quando esta é a única que poderá representar uma saída negociada para a paz. Mais, como estão tão ‘arrebatados’ pela lavagem cerebral dos media ocidentais, recusam ver a génese do conflito na própria estratégia de alargamento da NATO a Leste, à revelia do acordo verbal entre Gorbatchev e Bush em 1990, subindo já para 30 os países integrantes da NATO. A estratégia de expansão militarizada teve como efeito a deposição do Presidente eleito da Ucrânia Yakunovich em 2014, seguida da incorporação de milícias neonazis na Guarda Nacional e no exército, assim como a perseguição, a repressão e até massacres da população das regiões do Donbass. A armadilha da promessa de entrada da Ucrânia não tanto na União Europeia – essa sem problema por parte da Rússia – mas na NATO faria perigar a segurança da própria Rússia com a instalação de armas nucleares a 300 km de Moscovo. 

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Mas o que impressiona nas notícias da generalidade dos media em Portugal em relação a Lula da Silva não é só o enviesamento por força das narrativas dominantes no ocidente relativamente à guerra mas sobretudo a desinformação – alguma deliberada – relativamente ao processo Lava Jato de que Lula foi vítima, mantendo-se a narrativa de que Lula teria sido corrupto. Mas clarifiquemos este processo hoje conhecido como lawfare. 

Desde 2013-14 foi gizado a partir da CIA/Pentágono, com base na Lei Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) de 1979 um plano, em que EUA, julgando-se com o poder de intervir em país estrangeiro, teve a conivência da burguesia mais reacionária e de partidos neoliberais, conducente à destituição da Presidente Dilma Roussef em 2016. Paralelamente é montada a operação LavaJato, uma armadilha e fraude judiciária conduzida pelos EUA e secundada por uma quadrilha comandada pelo Juiz Moro e pelo Procurador Dellagnol num processo lawfare combinado para inviabilizar a candidatura de Lula da Silva em 2018, seguindo-se a prisão com espetáculo mediático e sua posterior condenação sem prova. Além da politização do sistema judicial, a partir do governo neoliberal de Temer desde 2016, com a intoxicação e o massacre mediático pela Globo e pelas televisões evangélicas, são criadas condições para a perseguição e acusação, condenação e desumanização de Lula, em que o STF o impede de concorrer nas eleições de 2018, para o que teria também concorrido a chantagem da tutela militar sob o general Vilas Boas a ameaçar o Supremo Tribunal Federal (STF), se este libertasse Lula. Com efeito, não descolando nas sondagens e na primeira volta os candidatos neoliberais, tal proporcionou que Bolsonaro, coadjuvado pela emoção causada com uma não consumada facada no início da campanha eleitoral (e interpretada misticamente como ‘destino divino’ pelos líderes evangélicos!), acabasse por ser eleito com o apoio dos partidos de direita tradicional, combinando autoritarismo ultraconservador com política neoliberal. Com o resultado da operação Lava-Jato e o processo político subsequente o Brasil conheceu retrocessos para grande parte da população no quadro da recessão económica: perda de 172 biliões de reais e 4,5 milhões de desempregados na Petrobrás, na Odebrecht e noutras empresas brasileiras. 

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Entretanto, a revelação por via do hacker Walter Delgati e gradualmente publicitada pela Intercept e, mais tarde, validada pelo STF, acabaria por desmontar o golpe planeado pelos Estados Unidos com a cumplicidade dos media e das forças conservadoras e neoliberais já referidas, levando o próprio STF a considerar as sentenças de Moro infundadas e parciais, o que desembocaria na libertação de Lula, sendo este absolvido em 26 processos e em condições de concorrer nas eleições de 2022. Ou seja, o próprio STF, que dispensou o julgamento em 3ª instância e validou a inelegibilidade de Lula e a condenação deste por Moro, viria a reconhecer o erro mais tarde e a improcedência, em termos processuais e substantivos, da condenação de Lula. Porquê continuam comentadores em Portugal a considerar Lula corrupto? Não seria recomendável que tais comentadores/as se informassem dos factos e das sentenças judiciais, em vez de manterem a narrativa da extrema direita no Brasil, quando até a grande parte da direita brasileira e seus comentadores abandonaram essa fakenews?

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