Lula, Cristina Kirchner e Alberto Fernandez na Praça de Maio abrem um novo horizonte para a Pátria Grande
A presença de Lula abre alas a uma nova etapa de integração latino-americana
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No dia 10 de dezembro, dia internacional dos Direitos Humanos, mais de 250 mil pessoas, entre organizações populares, formações políticas, sindicais, artistas e cidadãos comuns de todo o país, confluíram à Praça de Maio em Buenos Aires, frente à casa Rosada, celebrando os 38 anos de Democracia reconquistada após a ditadura militar, com o advento do governo de Raul Alfonsín (1983).
Uma mobilização histórica, um reencontro aguerrido característico do peronismo/kirchnerismo, com enorme participação juvenil, com a alegria dos combatentes, reocupando as ruas para nunca mais deixá-las. Foi a maior prova multitudinária de força numa pandemia controlada, na defesa da democracia agora ameaçada pelos opositores ao governo atual, legitimamente eleito; uma demonstração de memória inapagável do povo argentino pela verdade e justiça, expressada também na celebração no Museu Bicentenário da Casa Rosada, e no comício final na Praça de Maio, dirigida às mães e avós dos 30 mil desaparecidos, que receberam o prêmio Azucena Villaflor 2021, como as maiores guerreiras pelos direitos humanos.
A presença de Lula abre alas a uma nova etapa de integração latino-americana
Lula da Silva, foi uma das presenças mais esperadas, como líder brasileiro e latino-americano, no palco da democracia, ao lado de Cristina Kirchner; ambos, vítimas do lawfare acionado judicial-midiaticamente pela direita, resultando em golpes “suaves” contra anteriores governos progressistas na América Latina. Com a participação de Lula, e o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, ao lado da vice-presidenta Cristina e do presidente Alberto Fernandez, demarcou-se ontem não só o início de um novo salto necessário ao governo da Frente de Todos, mas também, o renascimento da união de governos progressistas e populares da América Latina.
Lula da Silva, considerado o provável presidente do Brasil em 2022, que porá um freio em Bolsonaro e ao fascismo no Brasil, já recebido pelos principais governantes da Comunidade Europeia como um verdadeiro mandatário brasileiro, é também acolhido na Argentina como o líder histórico imprescindível para reconstruir a Pátria Grande. No seu comovente discurso na Praça de Maio diz que “teve a felicidade de governar o Brasil, no período em que Nestor Kirchner e Cristina governaram a Argentina”. Além disso, citou Hugo Chávez da Venezuela, o índio Evo Morales da Bolívia, Tabaré e Pepe Mujica do Uruguai, Fernando Lugo do Paraguai, Bachelet e Lagos do Chile e Rafael Correa do Equador. “Esses companheiros progressistas, socialistas, humanistas fizeram parte do melhor momento de democracia da nossa Pátria Grande, a nossa querida América Latina”. “Eu me recordo quando terminamos com a ALCA e criamos a UNASUL e a CELAC; e viajamos com Cristina às reuniões de Cúpula colocando nossas propostas ante a crise financeira internacional”. Seja em pronunciamentos, como nas reuniões com os líderes sindicais (CGT, CTAs) na Argentina, Lula tem reiterado a necessidade da Unidade Latino-americana em base a economias soberanas, de Estado popular. A vitalidade de Lula para este grande desafio se apoia também numa relação de forças onde recentes vitórias eleitorais de frentes progressistas no continente golpeiam as intenções nefastas dos neoliberais e libertários: a eleição de Xiomara Castro em Honduras, Ortega na Nicarágua, e Castillo no Peru.
“Infelizmente pessoas como Néstor Kirchner e Hugo Chávez morreram, outras pessoas foram violadas como Rafael Correa e Dilma Rousseff, depois da violência do lawfare contra mim; e o golpe contra Fernando Lugo. Os governos conservadores destruíram tudo o que construímos para o bem-estar social de nossos povos. Sei o que está passando o companheiro Alberto Fernández, o que significa a dívida que Macri deixou com o FMI e sua pressão. Por isso, Alberto precisa trabalhar muito para que haja um acordo e que o povo argentino não seja vítima dos neoliberais”. (Entrevista no Página12)
O balanço público e aberto de Cristina e Alberto aos dois anos de governo frente ao povo mobilizado na praça
Um cenário magnífico onde uma vice-presidenta, duas vezes ex-presidenta, e líder de massas como Cristina Kirchner, recentemente submetida a uma cirurgia, transmite o melhor de suas energias com palavras que fluem em sintonia fina com a vibração do seu povo, numa praça histórica onde retumbaram por anos as vozes aguerridas de Peron e Evita. Aí onde a democracia tomou o verdadeiro sabor, do amor às massas trabalhadoras, ao seu direito à vida e à justiça social. Grande emoção de Lula da Silva neste espaço e momento histórico numa Praça de Maio repleta de centenas e milhares de argentines e peronistas, que lhe cantaram: “Volver, vamos a volver!” (Voltar, voltaremos!). E Cristina lhe disse: “Não quero fazer previsões, mas sempre que cantaram isso, não se equivocaram”.
Como se vê no seu discurso, Cristina deu uma aula de objetividade ao se referir à questão do FMI. Debate este inevitável, que é crucial, não somente para a planificação da atuação econômica do Estado em função do bem-estar social, na erradicação da miséria, mas também para definições de projetos políticos de governo. É magistral como Cristina discute, publicamente, sem descuidar da unidade no campo da esquerda e das forças populares. “Presidente, sei que temos muitas dificuldades, mas sempre digo que perante grandes adversidades, há que ter grandes ações”. Pediu a Alberto Fernández “que as partes digam ao FMI que nenhum acordo que não contemple a recuperação da economia será aprovado”. Além disso, chamou a que o FMI contemple “cada dólar que foi ao exterior na fuga de capitais promovida no governo de JxC (Cambiemos), para que se pague a dívida com o Fundo”. .... “O FMI soltou a mão do nascente governo democrático, mas não o fez com o que veio depois de nós (Macri), ao qual deixaram todo o trabalho” .... “deram-lhe 57 bilhões de dólares para ganhar as eleições e não conseguiram dobrar a vontade do povo”.
O discurso de Alberto responde concedendo ao chamado de Cristina
“Não se preocupe, Cristina, não vamos negociar nada que ponha em risco isso; não tenha medo". ..."Muitas vezes o FMI largou a mão dos presidentes e assim criou uma crise institucional na Argentina. Se o FMI me soltar a mão, estarei segurando a mão de cada um de vocês, de cada argentino e de cada argentina”. ... “A democracia é também não esquecer o genocida e aqueles que nos endividam”. Na realidade esse é um debate necessário que gira em vários setores da Frente de Todos e da esquerda em geral, o que Cristina e Alberto tratam de explicitar, resolver e não deixar à deriva da especulação dos meios opositores, ávidos a dividir e derrubar o governo. Como presidente, não deixou de apresentar metas para o início do próximo período de gestão, políticas voltadas aos aposentados, mulheres e setores empobrecidos pela pandemia, melhor distribuição de renda e salários, desconcentração da riqueza. Enfim, nenhum ajuste em função da dívida com o FMI deverá ser tolerado. Alberto afirmou que “a Argentina é um símbolo pelos direitos humanos em todo o mundo e que seguirá fazendo o necessário para que o último culpado seja responsabilizado pelo que lhe cabe na noite negra que a Argentina viveu (na ditadura)”. E terminou: "Vamos construir outra Argentina, uma Argentina livre, justa e soberana como nós, peronistas, sempre fizemos".
Certamente, celebrar a democracia é antes de tudo garantir, além do direito à palavra e ao voto, o direito à vida, educação gratuita, trabalho, casa, aposentadoria digna. Isso é indubitável na plataforma do PT de Lula da Silva como na Frente de Todos. Comemorar a democracia, não significa que ela já foi conquistada na sua plenitude pelos governos progressistas e populares. É preciso reforçar a atuação do Estado e o controle orçamentário social. Como alguém disse: comemorar a democracia é um dia de luta, não é um ponto final. Há muito que fazer. Nas entrelinhas da mensagem de Cristina, “Presidente, eu sei que temos muitas dificuldades, mas sempre digo que ante as grandes adversidades, grandes ações” podem-se interpretar que na nova etapa de governo é preciso aprofundar a atuação do Estado em questões como na agroexportadora Vicentin, no campo energético, comunicacional, como na década kirchnerista atuou-se nos Correios Argentinos e YPF. Os avanços na reforma-judicial, no controle estatal do comércio exterior e interior estão na ordem do dia do ano 2022, após ganhos políticos importantes nas últimas eleições.
As características deste ato pela democracia sinalizam um cenário político promissor para o governo da Frente de Todos, em termos de unidade interna e de relação com a militância na Praça e nas ruas, o que deverá estender-se no dia a dia do povo nos bairros, centros de trabalho e nas escolas. Mas, o recado principal que deram os argentinos ontem é que a vitória de Lula Presidente em 2022 é fundamental para as possibilidades dos avanços na Argentina e como Pátria Unida e Grande em toda a região.
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