Lula aproveita caso Juscelino para refazer contrato de apoio com o Centrão
"O presidente vai usar a ocasião para amarrar melhor o apoio do União. Se mantiver o ministro, Lula vai cobrar reciprocidade imediata", diz Helena Chagas
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Aos 45 minutos do segundo tempo, o União Brasil resolveu soltar, neste domingo, nota de apoio ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que está com a cabeça a prêmio e deve ter reunião decisiva hoje à tarde com o presidente da República. Os signatários, os líderes Elmar Nascimento (Câmara) e Efraim Filho (Senado), não tocam nas acusações que pesam contra Juscelino, repetidas em série pelo jornal o Estado de S.Paulo — como o uso indevido de diárias e vôos em aviões da FAB e a propriedade não declarada de cavalos — , mas rebatem declarações da presidente do PT, Gleisi Hoffman, que defendeu o afastamento do ministro. Na linguagem política, isso quer dizer: o ministério é nosso e ninguém tasca.
O União demorou a despertar para a possibilidade de Lula demitir Juscelino e, levando em conta as demonstrações de infidelidade do partido no Congresso, nomear um político de outra legenda para a pasta. Segundo parlamentares que circulam no trajeto entre Planalto-Congresso, haveria duas possibilidades: 1. Dar as Comunicações a outro aliado da direita, como o Republicanos, ampliando a base governista; 2. Nomear alguém do PT, que voltou a espichar os olhos para o ministério, que considera estratégico porque, em tese, trataria da questão da regulação das plataformas digitais (que acabou na Secom por falta de opção).
Não que um ministério das Comunicações seja alvo de grande cobiça por parte de uma legenda de direita, com bases predominantemente nordestinas e agrárias. Uma Codevasf, por exemplo, vale muito mais para o União. Mas um cargo na Esplanada é sempre fonte de grande poder, e melhor as Comunicações do que nada — pensa a cúpula do União. Por isso, seu recado a Lula é de que, se não mantiver Juscelino, que nomeie outro integrante da bancada de deputados — Celso Sabino (PA) e Pedro Lucas (MA) são citados pelos colegas.
Nesta segunda-feira, os ventos sopram contra Juscelino, mas quem conhece Lula sabe que é também possível que seja mantido no cargo em nome do direito de defesa sempre ressaltado pelo petista. Do que ninguém duvida, nem no União e nem no PT, é que o presidente vai usar a ocasião para amarrar melhor o apoio do União ao governo — hoje considerado frouxo, sobretudo na Câmara, onde muita gente diz que Juscelino, indicado pelo senador Davi Alcolumbre, não teria esse apoio todo.
Se mantiver o ministro acusado, Lula vai ressaltar que se trata de um crédito ao partido, e cobrar reciprocidade imediata — como, por exemplo, a retirada de parte das 29 assinaturas de deputados do União em apoio à CPI dos atos golpistas, que não interessa ao governo nesse momento. A simples ameaça de dar a pasta a outro partido já pode surtir efeito — e, se não surtir, legitimar a entrega das Comunicações a outro aliado.
O contrato com o União e, sobretudo, com o Centrão do qual ele faz parte, pode ainda ser renovado em bases mais vantajosas para todos. Fala-se na hipótese de Juscelino ser substituído por um nome mais forte, o do líder Elmar Nascimento, que não tem apoio somente da bancada, mas também do presidente da Câmara Arthur Lira — que é do PP mas tem forte ligação com o deputado e anda agastado pela demora nas indicações do segundo escalão e por não ter sido consultado pelo governo na questão dos combustíveis. É outro que deve conversar com Lula de hoje para amanhã.
Esse movimento aplacaria a irritação de Lira, que já tentou indicar Elmar para a Integração e sofreu veto do PT. O deputado teria, finalmente, um ministério para chamar de seu, embora seu interesse pelas Comunicações seja duvidoso. Ainda assim, a operação serviria para fechar o apoio da centro-direita ao governo, o que hoje parece ser mais duvidoso ainda.
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