Lula aproveita caso Juscelino para refazer contrato de apoio com o Centrão

"O presidente vai usar a ocasião para amarrar melhor o apoio do União. Se mantiver o ministro, Lula vai cobrar reciprocidade imediata", diz Helena Chagas

Lula e Juscelino Filho
Lula e Juscelino Filho (Foto: Ricardo Stuckert/PR | Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)


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Aos 45 minutos do segundo tempo, o União Brasil resolveu soltar, neste domingo, nota de apoio ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho, que está com a cabeça a prêmio e deve ter reunião decisiva hoje à tarde com o presidente da República. Os signatários, os líderes Elmar Nascimento (Câmara) e Efraim Filho (Senado), não tocam nas acusações que pesam contra Juscelino, repetidas em série pelo jornal o Estado de S.Paulo — como o uso indevido de diárias e vôos em aviões da FAB e a propriedade não declarada de cavalos — , mas rebatem declarações da presidente do PT, Gleisi Hoffman, que defendeu o afastamento do ministro. Na linguagem política, isso quer dizer: o ministério é nosso e ninguém tasca.

O União demorou a despertar para a possibilidade de Lula demitir Juscelino e, levando em conta as demonstrações de infidelidade do partido no Congresso, nomear um político de outra legenda para a pasta. Segundo parlamentares que circulam no trajeto entre Planalto-Congresso, haveria duas possibilidades: 1. Dar as Comunicações a outro aliado da direita, como o Republicanos, ampliando a base governista; 2. Nomear alguém do PT, que voltou a espichar os olhos para o ministério, que considera estratégico porque, em tese, trataria da questão da regulação das plataformas digitais (que acabou na Secom por falta de opção).

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Não que um ministério das Comunicações seja alvo de grande cobiça por parte de uma legenda de direita, com bases predominantemente nordestinas e agrárias. Uma Codevasf, por exemplo, vale muito mais para o União. Mas um cargo na Esplanada é sempre fonte de grande poder, e melhor as Comunicações do que nada — pensa a cúpula do União. Por isso, seu recado a Lula é de que, se não mantiver Juscelino, que nomeie outro integrante da bancada de deputados — Celso Sabino (PA) e Pedro Lucas (MA) são citados pelos colegas.

Nesta segunda-feira, os ventos sopram contra Juscelino, mas quem conhece Lula sabe que é também possível que seja mantido no cargo em nome do direito de defesa sempre ressaltado pelo petista. Do que ninguém duvida, nem no União e nem no PT, é que o presidente vai usar a ocasião para amarrar melhor o apoio do União ao governo — hoje considerado frouxo, sobretudo na Câmara, onde muita gente diz que Juscelino, indicado pelo senador Davi Alcolumbre, não teria esse apoio todo.

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Se mantiver o ministro acusado, Lula vai ressaltar que se trata de um crédito ao partido, e cobrar reciprocidade imediata — como, por exemplo, a retirada de parte das 29 assinaturas de deputados do União em apoio à CPI dos atos golpistas, que não interessa ao governo nesse momento. A simples ameaça de dar a pasta a outro partido já pode surtir efeito — e, se não surtir, legitimar a entrega das Comunicações a outro aliado.

O contrato com o União e, sobretudo, com o Centrão do qual ele faz parte, pode ainda ser renovado em bases mais vantajosas para todos. Fala-se na hipótese de Juscelino ser substituído por um nome mais forte, o do líder Elmar Nascimento, que não tem apoio somente da bancada, mas também do presidente da Câmara Arthur Lira — que é do PP mas tem forte ligação com o deputado e anda agastado pela demora nas indicações do segundo escalão e por não ter sido consultado pelo governo na questão dos combustíveis. É outro que deve conversar com Lula de hoje para amanhã.

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Esse movimento aplacaria a irritação de Lira, que já tentou indicar Elmar para a Integração e sofreu veto do PT. O deputado teria, finalmente, um ministério para chamar de seu, embora seu interesse pelas Comunicações seja duvidoso. Ainda assim, a operação serviria para fechar o apoio da centro-direita ao governo, o que hoje parece ser mais duvidoso ainda.

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