Luciano Huck, o candidato do pesadelo de João Doria

Contando a trajetória de Luciano Huck desde 2004, quando a própria jornalista já mencionava o projeto político do apresentador de se tornar presidente do Brasil, Hildegard Angel mostra por que o mais incomodado com a possível candidatura “Huck 2022” é João Dória, “que compartilha com ele o mesmo perfil cashmere paulistano”

Luciano Huck e João Doria
Luciano Huck e João Doria


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Por Hildegard Angel, para o Jornalistas pela Democracia 

Cogitar o nome de Luciano Huck para candidato a Presidente da República não é novidade. Por volta de 2004, no Jornal do Brasil, esta repórter mencionava o projeto político do apresentador de se tornar presidente do Brasil. Desde então, acompanhamos o fôlego assistencialista dos seus programas de TV, com doação de casas aos pobres e restauração de seus carros velhos. O garoto da juventude dourada paulistana palmilhava com toda a paciência do mundo e muita simpatia a estrada poeirenta dos programas de auditório, das gravações nas areias de praia, das viagens ao interior do país, dos abraços e autógrafos e beijinhos sem ter fim, rumo - quem sabe? - ao destino final: Estação Planalto/Alvorada.  

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Originário de um ninho tucano puro-sangue, enteado do ex-ministro de Planejamento e ex-presidente do BNDES, Andrea Calabi, o jovem Huck sentiu dentro do próprio lar o doce sabor do poder. Cursou jornalismo, foi publicitário das escolas de Nizan Guanaes e Washington Olivetto, teve coluna social em jornal, e depois eletrônica, na TV, “Circulando”, e circulou, circulou, até estacionar seu Caldeirão na Globo, onde desde 1999 coleciona sucessos.   

Luciano, que não é de brincar em serviço, vem cortejando a política passo a passo. Já em 2003 estava no palanque da entrega da Medalha Tiradentes, em Ouro Preto, na condição de amigo inseparável do governador Aécio Neves. Àquela altura, já recebera a medalha mineira em todas os seus níveis. Com o maior prestígio, cercado de ministros e do próprio presidente recém-eleito, Lula, Huck anunciava ali, diante da estátua de Tiradentes, a idealização do Instituto Criar, visando o desenvolvimento profissional dos jovens brasileiros na área da mídia. A ONG certa na hora exata.

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Seu casamento com Angélica, em 2004, foi uma apoteose midiática. A fórmula talvez não soasse tão inspiradora se a noiva fosse uma das namoradas anteriores dele. Como Eliana, em São Paulo, Ivete Sangalo, na Bahia, ou as princesinhas encantadas do reino social carioca, Astrid Monteiro de Carvalho e Chiara Magalhães. De forma elegante, cordial, sem fissuras, os namoros terminaram - e diferente não poderia ser, Huck é muito bem-educado. Sem a menor sombra de dúvida, Angélica era a celebridade perfeita para ocupar com ele um trono. Seja o trono de primeiro casal midiático ou o de primeiro casal da República. Juntos, formam uma família bonita, feliz e loura. Há precedentes notáveis na História. Como a Grace Kelly do príncipe Rainier, a Jacqueline de John Kennedy, a Lady Di de Charles. Huck thinks big.  

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Nos anos pré-eleição de 2013, Huck desviou-se da programação habitual de sua agenda e de seu Caldeirão, para demonstrar prestígio internacional. Em 2011, ele se fez fotografar ao lado do presidente Barack Obama, num evento de tecnologia em São Paulo, e registrou no Instagram: “A sabedoria de não se deixar levar pela vaidade, poder, dinheiro e fama. A força de liderar pelas ideias e ideais. A inteligência de aprender com as experiências vividas. A generosidade de usar a sua força para formar novas lideranças. A simplicidade do sorriso fácil, e do bom humor constante. Está aí um cara que eu admiro...” - estaria falando de si mesmo? E finalizou com um “Obrigado pelo convite!”, fazendo supor que este partira do próprio presidente americano.   

No Rio de Janeiro, no evento do Theatro Municipal em que Obama discursou para 800 convidados do governador Sérgio Cabral, Huck ocupou frisa com Angélica e o filho Joaquim, e mais uma vez procurou demonstrar proximidade com o presidente dos EUA. Ele postou: “Eu o recebi na entrada do Teatro Municipal. Mega simpático. Olho no olho com todos. E um carisma muito fora do comum. Gostei do discurso. Gostei da presença. Importante para o Rio. Importante para o Brasil. Ele é o cara." Mas não recebeu Obama sozinho. Entre os 800 demais, estavam Lázaro Ramos e Thaís Araujo, Christiane Torloni e Arlete Salles. Luciano, contudo, foi o único a ter uma foto no Twitter: “Eu e @barackObama no Teatro Municipal. Ficou meio sem foco, mas vale como registro de um momento especial. Valeu”.    

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Coroando esse pacote, em janeiro de 2011, a Veja dedicou ao apresentador uma capa, ao lado de Angélica, com a chamada “A reinvenção do bom-mocismo” e a legenda “Angélica e Huck formam o casal de celebridades perfeito para um mundo politicamente correto”. Não precisavam dizer mais nada. Estava plantada a semente do “apresentador estadista”. Blogs e tweets propuseram uma hipotética “chapa tucana Aécio-Huck”, o que os tucanos chegaram mesmo a cogitar para fazer frente à presidente Dilma.  

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Dilma se reelegeu, Aécio prometeu não a deixar governar, e não deixou, houve o golpe e houve o affair JBS, com fortes respingos em Aécio. Huck apagou das suas mídias sociais as fotos com o amigo, e dizem os próximos que sequer seus telefonemas atendia.    

Quando começaram a ser cogitados os candidatos a presidente em 2018, voltaram com insistência rumores sobre possível candidatura de Luciano Huck, logo frustrados pela notícia de que a Globo se opunha. O que se provou verdadeiro em declaração posterior da emissora. Hoje, num cenário com maiores chances para emplacar um “Huck 2022”, ele volta a ser cogitado. Diz-se que desta vez com apoio da Globo, o que pode ser e pode não ser.  Como todo candidato a candidato, Luciano faz cara de paisagem, nega o interesse, enquanto a potencial primeira-dama-a-ser, Angélica, já fala na candidatura do marido como um “chamado” que “foge ao controle”.    

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Caso o “descontrole” prevaleça, e Huck saia mesmo candidato, o principal incomodado será João Dória, que compartilha com ele o mesmo perfil “cashmere paulistano”, de agrado do eleitorado da direita, porém sem o plus da enorme audiência televisiva do concorrente, que seduz gregos e troianos, paulistas e baianos, gaúchos e pernambucanos...

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