Livros. Para quê?
Caminhamos a passos largos para a brutalidade, com o aparelhamento policial repressivo e as anomalias de costume
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Uma das contradições marcantes do mundo contemporâneo é, sem dúvida, a “ciência” da economia. Chegamos a tal ponto que, no universo das nações, a figura mais importante nos gabinetes é a do economista. Suas escolas se sucedem, a maioria com fórmulas para salvar o Estado e garantir o sucesso nas eleições. Com a especialização do saber, desde o século XIX, ocorre com frequência que, imbuído do seu tema, o pesquisador se esqueça de que também vivemos de contradições e tropeços para a inteligência resolver, às vezes saindo de sua área de conforto. Já imaginamos, diante do quadro, dissidentes sectários da Escola de Chicago convencendo autoridades sul-americanas com as suas verdades absolutas nas quais salta aos olhos um problema: o fato de que, do outro lado da mesa, ou da Esplanada, existem serem humanos. O ideal despenca. O que farão com isso? Perderão, na cabeça, os últimos fios de cabelo? Ou de senso?
Entre os devaneios de Paulo Guedes um é verdadeiramente notável. Ele já propusera a entrega do Banco do Brasil ao Bank of America; atacara as empregadas domésticas por acalentares o desejo de visitar Miami... Agora, com a “reforma tributária”, novamente reincide na velha fantasia: o de eliminar a humanidade das suas elaborações matemáticas. Dentro em pouco, fará eco com aqueles sectários de Chicago. Buscando economizar, resolveu eliminar os subsídios do papel que protegiam os livros. Claro que os editores, conscientes da função que exercem, ficaram indignados.
Paulo Guedes faz parte daquele um grupo que Lucien Goldmann, em seu tempo, denominava de “especialistas analfabetos”. Cultos em suas áreas diminutas reagem mal a outros desafios da razão. Não se acha sozinho, evidentemente, entre os colegas. O governo nomeou ministros da educação sem currículo para o cargo e outro cujo palavreado parecia compatível com frequentadores de bordel. Na saúde, faltam médicos e sobram generais; na Justiça, o titular da pasta adquiriu celebridade com uma lista de nomes antifascistas, como se o qualificativo os incluísse no índex de pessoas inaceitáveis. Soa normal que na economia, sobressaia alguém em cujo pensamento não há gente de carne e osso, muito menos aquilo que a modernidade ocidental consagrou como indispensável ao progresso – a cultura – para derrotar a barbárie.
De fato, educação e cultura representam lados frágeis até hoje na formação dos brasileiros. Mas, pelo menos, tentávamos. Os orçamentos destinados às escolas e universidades cresciam. Uma política de cotas atraiu pobres e negros, antes descartados, acrescentando-os no circuito dos planos da instrução... Na cultura, possuíamos um Ministério que desapareceu na última reforma, dando lugar a desastres: a atriz Regina Duarte e, agora, o apagado Mário Frias, do qual não se ouve nem se vê coisa nenhuma. Faltava a pá de cal. Entende-se. Ao próprio Presidente da República, não abundam semelhantes traços de formação. Eles todos creem que livros e conhecimento são diversão para a elite. Pobres não precisam deles. Será um projeto?
A se confirmar a tendência, logo viraremos couves-flores. Caminhamos a passos largos para a brutalidade, com o aparelhamento policial repressivo e as anomalias de costume. Felizmente, a aproximação das eleições aconselha cautela. Pode ser que até lá nos livremos de alguns especialistas analfabetos.
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