Linguagens da mídia: democracia, liberdade e suqvuk
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A Grande Jamahiriya Árabe Popular Socialista da Líbia, sob a “ditadura” de Muammar al-Gaddafi (1942-2011) atingiu o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre todos os países da África. Depois que a “democracia” e a “liberdade” entraram no País, com as tropas francesas e estadunidenses, em 2011, e assassinaram o líder al-Gaddafi, o IDH passou, em apenas oito anos, em 2019, para o 6º lugar no continente africano, e continua em queda.
Não foi apenas a qualidade de vida do povo, o que já é tragédia imensa, o Estado Nacional Líbio também desapareceu, o que acarretará muito mais tempo para que aquela situação considerada alta/muito alta do IDH da Jamahiriya, o “Estado das Massas” árabes populares, volte a ser reconquistada, desfrutada.
Populista, corrupto, ditador só se aplicam aos líderes nacionalistas que trabalham para o bem estar de seus povos, para o desenvolvimento soberano da Nação.
A Líbia de hoje tem três áreas com governos identificados e distintos, além de uma extensão de terras entregue a tribos que não reconhecem qualquer deles. Há aqueles sob a direção do Congresso Geral Nacional, outros dirigidos pelo Conselho dos Deputados, com sede em Tobruque (Tubruq), e o país dos tuaregues; além das tribos independentes, espalhadas por todo o antigo território líbio, vivendo como há séculos atrás.
A “nova Líbia” decorreu das “primaveras” que o ocidente anglo-estadunidense-israelita, com o apoio do criminoso contexto OTAN, todos conduzidos pelas finanças, ocultas em paraísos fiscais, fizeram acontecer em terras árabes.
Por outro lado, jamais li ou ouvi, na mídia internacional, que o rei da Arábia Saudita, país sem eleições, congresso, representação popular de qualquer modelo político, é um ditador; que sua família bilionária, protegida por tropas dos Estados Unidos da América (EUA) - já se disse que a Arábia Saudita é um porta-aviões estadunidense no deserto (!) - não permite qualquer oposição que não seja entre eles, na permanente luta familiar pelo poder, jamais pelo bem estar do povo, pela compreensão do tipo de desenvolvimento possível no seu desértico País.
Mas ditador é Bashar Hafez al-Assad, Presidente da República Árabe Síria, eleito e reeleito pela quase totalidade da população, que, em plena guerra, movida há dez anos pelos EUA, Arábia Saudita, Catar, Reino Unido, França e Israel, além das milícias patrocinadas por estes países, que tem nas Irmandades Muçulmanas, criação do serviço secreto britânico (MI-6), o mais conhecido grupo, Assad, repito, não deixou fechadas as escolas públicas no País.
René Goscinny (1926-1977), escritor francês, colocava nas expressões de seu personagem Asterix (1959) a frase: “esses romanos estão loucos”, nas disputas travadas entre aqueles conquistadores e os gauleses. Não se tratava, obviamente, de qualquer insanidade mental, mas das diferentes percepções que tinham estes dois povos a respeito das próprias existências e de suas escolhas.
Este processo cognitivo é uma das maravilhas das linguagens, onde toda fisiologia é idêntica, mas os modos de pensar e agir são, comumente, díspares.
Os poderes, desde sempre e por toda parte, construíram um processo de comunicação que colocasse os povos, muito mais do que receptivos, absolutamente convencidos das “verdades” enunciadas por estes poderes, estes dominadores: denominamos esta ação pedagogia colonial.
Para a eficiente pedagogia colonial não basta a doutrinação permanente, é preciso associar os fatos do cotidiano a uma esfera de compreensão que podemos chamar: pensamento mágico, ou seja, uma consequência que não decorre de causas cientificamente explicáveis, nem de processos históricos documentados, mas da interferência sobrenatural, impossível de conter ou modificar. A expressão que seria equivalente à perplexidade do Asterix pode ser a de que “sempre foi assim”. Nunca foi diferente, jamais mudou, nem poderá mudar.
Certamente, o autor destas linhas deve ser um esquerdista, um comunista, um terrorista ou um fascista. Como contestar o que sai nas mídias dirigidas pelos impolutos irmãos Marinho, pelos patrióticos membros da família Mesquita, ou pelos quase santos bispos Edir Macedo-Marcelo Crivella, entre outros nacionais, e pelos democráticos e abundantes veículos de comunicação estrangeiros? Pois todos são, senão homens de bem, pessoas de muitos bens.
Isso não é privilégio das direitas, defensoras dos capitais acima de tudo e de todos, a pedagogia colonial também está nas narrativas das esquerdas. Especialmente as que abraçam cegamente ideologias importadas. Já escrevi que o liberalismo e o marxismo são a mesma moeda vista de dois lados simetricamente opostos. Dizia-se no Império Brasileiro que nada mais parecido com um conservador do que um liberal no poder. O mesmo pode-se dizer de um petista e um tucano, um collorido e um emedebista civilista a Ulysses Guimarães. Todos os dirigentes brasileiros, após o Consenso de Washington (1989), colocaram em primeiro lugar a fantasia do equilíbrio fiscal, com as maiores mentiras, falsificações, engodos distribuídos em teses acadêmicas, em jornais de todo tipo de edições e em analistas lambuzados com lustra móveis. Os atuais dirigentes, com mais rapidez e alcance do que seus antecessores, destroem o Estado e promovem alienações e transferência do controle das riquezas naturais e das produzidas no Brasil.
Vamos ao fato. A revista “crítica marxista”, nº 18, maio de 2004, publica, na tradução de Fernando Ferrone, o artigo dos acadêmicos franceses, Gérard Duménil (Universidade de Paris X-Nanterre) e Dominique Lévy (CEPREMAP-ENS, Paris), “O imperialismo na era neoliberal”. Transcrevemos.
“Violência através da economia, da guerra e da subversão golpista estão ainda na ordem do dia. Em nada altera sua natureza, ser ela justificada como uma cruzada pela democracia ou contra o terrorismo”.
“As classes dominantes encaram a experiência da destruição do Segundo Mundo como uma reconquista, uma restauração, no sentido de se restaurar um regime político. As classes dominantes estão engajadas numa luta visando o restabelecimento de sua preeminência, tal qual fora antes da depressão dos anos 30 e da II Guerra Mundial”.
“Por outro lado, do ponto de vista da potência estadunidense, o jogo é o da consolidação de seu domínio, num mundo onde outros países foram alçados a níveis de desenvolvimento comparáveis dele, sabendo ela que, ao fim dos anos 80, muitos analistas profetizaram seu declínio. Classes e uma nação: são estas as forças sociais que deram às últimas décadas do século XX sua violência específica, e o começo do século XXI se situa bem dentro da continuidade deste projeto”.
A importância dada à luta de classes, que resume, no entender marxista, o embate das sociedades, e, dentro desta mesma ótica, a relevância da economia, servem para obscurecer aspectos fundamentais do poder e da luta das sociedades para a mais ampla participação nas decisões que, ao fim, resultam nas condições de vida dos decisores.
O que podemos entender deste século XXI, na continuidade do século XX: uma ruptura e troca do poder. Demonstramos.
No início do século XX ainda prevaleciam as finanças, como desenvolvidas na Inglaterra (e continuadas no Reino Unido) e sua dominação territorial, como a mais visível manifestação do imperialismo. Este termo - imperialismo - era usado como trunfo e triunfo. Não carregava o conteúdo negativo que a industrialização colocou, pois precisava de um mundo mais amplo, sua dominação se dava pela imposição de novos hábitos de consumo e de expansão tecnológica. O socialismo, que vigoraria a partir de 1918, funcionou como um armistício entre finanças e indústrias diante do inimigo comum, o que na II Grande Guerra provocou enorme confusão, com alianças de opostos, contra a mesma ideologia capitalista em aliados e no eixo. As classes, se excluída a aristocracia britânica, eram peões neste complexo xadrez. Mas o que seria de Marx e Lenine sem a luta de classes?
Durante todo o período que vai do pós-guerra (1945) até as desregulações dos anos 1980, o que assistimos foram as finanças, com inteligente domínio das teorias informacionais, derrotando passo a passo as industrializações, capitalista e socialista. Os EUA viveram o papel do grandalhão forte e bobo, diante da astúcia dos aristocráticos financistas britânicos. O que não os impediu de levar a bom termo sua expansão imperial como exportador, mais do que gestor, para/de países. O gran finale foi o Consenso de Washington (1989) que, como os mandamentos do catolicismo (mera coincidência?), impõe para todo mundo seu decálogo. Mas há, por baixo do decálogo, subterrâneo, às escondidas, como é próprio das finanças apátridas, o ataque ao seu maior inimigo: o nacionalismo. Porém, como pensamentos globalizantes, tanto o marxismo como o liberalismo, se arrepiam coma palavra e o conceito de nacional, nacionalismo, e o megaespeculador George Soros deixou bem claro ao destinar dois bilhões de dólares para movimentos identitários: “nosso maior inimigo é o nacionalismo”.
Mas a história sempre prepara suas armadilhas. Quem surge com as finanças sem controles, residindo em paraísos fiscais, transitando por todo mundo, livre e solta? Ora caros leitores, os capitais que denominamos marginais. Aqueles que não podiam conviver com os ambientes burgueses nem os aristocráticos das mesmas finanças; quais sejam: drogas, contrabandos, prostituições, corrupções diversas e outros tantos de origens similares.
Para que tudo isso não se escancare, fique facilmente visível, você, todos nós, somos submetidos à pedagogia colonial, à nova língua que dá significados diferentes para as palavras “democracia”, “liberdade”, “ditador”, “terrorista”, “corrupto” e tira do dicionário: Estado Nacional, Questão Nacional, Nacionalismo.
Logo apresentaremos suqvuk, que vai viralizar ...... Êpa, e o covid-19?
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