Lições úteis sobre uma caravana de camelos do século XIX
Com pesquisa histórica e ironia na medida, Delmo Moreira ajuda os brasileiros e brasileiras a refletir sobre a formação do país, escreve Paulo Moreira Leite

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Por Paulo Moreira Leite
Jornalista com passagem destacada em grandes redações do país, Delmo Moreira escreve "Catorze Camelos para o Ceará" com a elegância de um texto bem lapidado.
Com 283 páginas, "Catorze Camelos..." oferece humor na medida certa, estimulando a reflexão sobre um país carente de conhecimento histórico e boas interpretações sobre sua formação.
O assunto envolve uma dessas peripécias esquecidas nos rodapés dos livros de história sisuda, pretensamente séria: a importação de 14 camelos africanos, encomendados por Pedro II, a pretexto de "promover uma experiência de adaptação da espécie ao Nordeste brasileiro".
Delmo domina o caso e os personagens com apoio de uma pesquisa bem apurada, que lhe permite aproximar uma história distante, encarnada por personagens que ocupavam o centro da cena de um país com poucos anos após a independência.
O enredo é apresentado através de uma narrativa fluída, de quem consegue utilizar um episódio particular, quase pitoresco, para iluminar a história geral de uma nação.
De quebra, Delmo aproveita o contexto para para prestar esclarecimentos sobre outro episódio pouco estudado do período -- o interesse do governo dos Estados Unidos pela exploração da Amazônia, dando o devido crédito às pesquisas da historiadora Nicia Vilela Luz.
Ao longo do livro, Delmo recorda o desfile de carnaval do Rio de Janeiro, em 1995, vencido pela Imperatriz Leopoldinense, com o enredo "Mais vale um jegue que me carregue do que um camelo que me derrube", que explorava as dificuldades da caravana do Imperador para zelar pela sobrevivência integral de seu insólito rebanho.
Debruçado sobre um episódio que poderia alimentar a noção da história do Brasil como uma piada pronta, Delmo Moreira faz mais do que isso.
Ilustra suas páginas com observações bem construídas e ironia calibrada. Longe de qualquer espírito panfletário, o livro ajuda a compreender maus costumes de nosso sistema político, que marcaram a história brasileira ao longo dos séculos XIX, XX e início de XXI -- inclusive a tragédia de Petrópolis e as 232 mortes oficialmente reconhecidas até agora, numa cidade onde os herdeiros do império embolsam um vergonhoso imposto do príncipe.
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