Lição de política

Senador bolsonarista Eduardo Girão e ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida
Senador bolsonarista Eduardo Girão e ministro de Direitos Humanos, Silvio Almeida (Foto: Pedro França/Agência Senado)


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Qual o propósito da política?

Na atual conjuntura da vida social brasileira, por força do crescimento das hordas do extremismo direitista, fomos perdendo a noção de como e por que se constitui a atuação política. Ela se transformou, a partir do governo Bolsonaro e agora com seus seguidores, em manifestações de agressividade e ódio que nos deixam a léguas de distância do que os gregos, com sua visão de democracia, pretendiam comunicar como a razão de ser da convivência humana. Uma visita aos debates no Congresso Nacional transmite uma tristeza que apenas cresce, sessão por sessão. No entanto, não se deve esquecer que a participação política é uma coisa boa, indispensável para o avanço de qualquer país, se considerarmos que o mundo pretende melhorar e se aprimorar. 

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Na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal, com a presença do Ministro Silvio Almeida e parlamentares de expressão de várias colorações, assistimos a um embate que separa o que vale a pena, o que é bom, do que não se deve fazer nas discussões que se travam. Isto se considerarmos que há maneiras boas e más de ‘fazer política’. Em determinado instante, o senador Eduardo Girão, aparentemente esquecido das reais definições de seu cargo, levantou-se, a partir de uma pequena conspiração com a também senadora Damares Alves (mas esta já por demais conhecida por seus exemplos de conduta bizarra), para levar “um presentinho” à autoridade que discorria na mesa. Tratava-se de uma réplica de um bebezinho, um feto, de 12 semanas. Silvio Almeida botou um freio na representação. Não aceitaria, disse, a encenação espúria de algo que representava tanto entre as mulheres e homens na sociedade brasileira. Brincar com o assunto infringiria, sem dúvida, os ditames da política. E acrescentou: “Em nome da minha filha, que vai nascer, eu me recuso a receber isso”. Girão realizou um giro de 180 graus, surpreendido com a reação da autoridade, pôs o rabo entre as pernas e retrocedeu. Voltou ao assento ao lado da comparsa, Damares Alves. Foi uma lição! É possível que nunca mais torne a desfraldar daquela maneira vil a má qualidade das suas atuações. O público aplaudiu de pé. Flávio Dino saudou o colega de ministério. Janja, de onde se encontrava, não pôde deixar de aclamar. 

É preciso frisar que política e ódio, ao contrário do que virou moda, não se misturam. O bom político é aquele que ama os seus contemporâneos, que luta para lhes melhorar as condições de vida. Exibir socos, coices e bofetadas, tirando os esportes em que se organiza a atividade dentro de regras específicas, não cabe nas assembleias de gente votada como representante da população. Infelizmente, o que assistimos com uma frequência de doer o coração tem mais a ver com rancor do que com o espírito de humanidade. Ionesco, se testemunhasse as cenas do nosso Congresso, com Girão, Damares e companhia, ficaria perplexo. Com eles, a realidade supera a paródia. Ali se encenam até o esgotamento situações da peça A lição, na qual comenta e se diverte com as nossas incapacidades de comunicação. Por outro lado, vendo Silvio Almeida... -, que conforto experimentamos na alma! Ficamos com a sensação de que chegamos lá.

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