Liberdade artística e democracia política
Há um fetiche em torno da liberdade artística que pretende justificar como arte qualquer trabalho sem considerar as conveniências do chamado bom gosto e do entorno social
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Os filósofos da Idade Moderna não chegaram a definir liberdade. Para uns, como Hobbes, significava não ter limites. Para outros, como Locke ou Rousseau, era a prerrogativa de estabelecer em sociedade os próprios limites. Os primeiros foram precursores do
liberalismo radical, e sobretudo do liberalismo econômico.
Os segundos estabeleceram as bases da democracia moderna, na qual a liberdade é condicionada pelo interesse geral. Será que essas distinções ocorreram aos defensores e críticos da exposição de pinturas programada nesses dias para o MAR, Museu de Arte do Rio, rejeitada e bloqueada com peculiar determinação pelo prefeito Marcelo Crivella? Suponho que não. Há um fetiche em torno da liberdade artística que pretende justificar como arte qualquer trabalho sem considerar as conveniências do chamado bom gosto e do entorno social.
Vi algumas peças da exposição. Não tem nada de mal, exceto, para mim, que em alguns casos revelam tremendo mau gosto e um certo sentido oportunista. Por outro lado, se a direção da exposição considerava essencial expor esses quadros, também não haveria nada de mal que as peças mais controversas fossem expostas numa sala reservada, acessível apenas a adultos ou a crianças assistidas por adultos.
A ausência de moderação dos envolvidos, críticos ou defensores da ação do prefeito, apenas chamou a atenção para uma exposição que facilmente passaria despercebida. A controvérsia resguardou os responsáveis pela tentativa de exposição de uma crítica neutra, separando arte de puro charlatanismo. Quando se coloca a questão em termos de censura, a rejeição é muito grande. Ninguém gosta de censura, pois censura lembra ditadura.
Para Crivella este é um momento glorioso, pois agrada a sua base evangélica e, por um momento, desvia a atenção dos contribuintes do Rio do extorsivo aumento de IPTU, que sacrifica as classes médias num momento de penúria de renda e de desemprego em todo o país. Talvez, como evidência de incompetência, ele acha que desemprego e queda de renda não é problema dele, mas do Governo federal. O problema dele parece ser administrar o MAR!
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