Liberalismo para 200 milhões de trouxas

"No estranho liberalismo à brasileira, quem paga o pato é o cidadão que vê minguar os serviços essenciais que deve receber do Estado", registra a colunista Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia. "Enquanto isso, em solo pátrio, os 200 milhões de trouxas podem estar, a cada dia mais, sentindo a falta que um Estado faz", completa

Paulo Guedes
Paulo Guedes (Foto: Alan Santos/PR)


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Por Helena Chagas, para Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia

Aguardemos as reações do empresariado nacional ao anúncio de Paulo Guedes desta manhã em Davos, quando disse que o Brasil vai aderir ao acordo da OMC que abre a estrangeiros licitações públicas e compras governamentais. Muita gente não vai gostar da adesão ao tratado que dá tratamento igual a empresas nacionais e internacionais, e menos ainda da frase de Guedes: “Queremos continuar sendo 200 milhões de trouxas servindo a seis empreiteiras e seis bancos?”.

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Como a decisão terá que ser submetida ao Congresso, é possível supor que esse teste do liberalismo à brasileira tenha lá seu efeito retórico para inglês (e americano, chinês, alemão e outros da fauna de Davos) ver e na prática acabe adiado indefinidamente.

Um ano de Ministério da Economia deve ter mostrado a Guedes que o liberalismo, na concepção da maioria da elite económica brasileira só é bom na casa do vizinho. Seus integrantes sustentam o discurso do Estado mínimo, sentam pau nos gastos “desnecessários”do governo em setores que querem ver na mão da iniciativa privada mas, na hora decisiva, não querem saber de perder seus próprios favores e incentivos, e muito menos competir em pé de igualdade com empresas estrangeiras.

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No estranho liberalismo à brasileira, quem paga o pato é o cidadão que vê minguar os serviços essenciais que deve receber do Estado. Apenas nos últimos dias, as filas de quase dois milhões de pessoas do INSS, os erros na correção das provas do ENEM e a água turva que o carioca está sendo obrigado a engolir são o retrato vivo da inépcia governamental que se esconde atrás do discurso do Estado mínimo.

Mínimo não pode querer dizer ausente de suas obrigações mais básicas relacionadas à saúde, educação e atendimento das necessidades da cidadania. Nem incompetente.

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A narrativa predominante parece tentar confundir as coisas sob a cortina de fumaça de discursos sobre melhores práticas, fluxos de investimentos e cadeias globais de negócios. Um palavreado bonito nas montanhas geladas de Davos, mas que não vale para todo mundo — e vamos ver isso nos rumos que tomar, no Congresso, o acordo para liberação das compras governamentais.

Enquanto isso, em solo pátrio, os 200 milhões de trouxas podem estar, a cada dia mais, sentindo a falta que um Estado faz.

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