Libelo contra a "masculinidade catastrófica"

"Quebrando Mitos" não é tão ácido quanto seu título sugere, mas fustiga em muitos pontos o fascismo bolsonarista. Está de graça na internet

(Foto: Divulgação)


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Está disponibilizado na rede o documentário Quebrando Mitos, de Fernando Grostein Andrade, autor de Quebrando o Tabu (sobre descriminalização de drogas), Encarcerados (sobre guardas penitenciários) e Coração Vagabundo (sobre Caetano Veloso). É o mais frontalmente político e o primeiro de conteúdo autobiográfico do diretor. Fernando se coloca como gay assumido para fustigar a "masculinidade catastrófica" que veio à tona no Brasil com o governo Bolsonaro.

A partir de sua própria experiência de infância e juventude em ambientes homofóbicos, assombrada por estupros e sequestro, o filho de um ex-diretor da revista Playboy brasileira relata como foi alvo de mensagens de ódio pela sua opção sexual e libertária. Hoje vive na Califórnia, mas passou os últimos anos recolhendo materiais para esse novo filme. 

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Quebrando Mitos é um libelo contra todas as facetas fascistas de Bolsonaro: o machismo, a homofobia e a misoginia militantes, a devastação do meio-ambiente, o descaso pela vida alheia, o favorecimento da indústria de armas, o elogio da ditadura e dos massacres policiais e todo o resto. O filme remonta às origens do ex-capitão em Eldorado Paulista, o mesmo local em que Lamarca foi morto, episódio do qual Bolsonaro se orgulha de ter participado indiretamente. Fernando ouve pessoas que o conheceram desde sempre e remonta sinteticamente uma carreira política estribada nas falas toscas e desavergonhadas, capazes de impressionar como a sociedade brasileira tolerou e alimentou tamanha monstruosidade.

Mas Fernando também fala bastante no lugar de narrador. Coloca seu ponto de vista e ensaia análises sobre homossexualidade reprimida que se converte em homofobia e sobre relações entre masculinidade e poder.

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Outras vozes se juntam à dele, como as de Jean Wyllys, Sonia Guajajara, Marcelo Freixo, Talíria Petrone e também do General Santos Cruz e do pastor Marco Feliciano. Não se trata de "ouvir os dois lados", mas de melhor expor uma lógica do autoritarismo e da hipocrisia. Não é tão ácido quanto seu título sugere, mas não deixa de ser um dossiê abrangente, que se estende especialmente nos aspectos da diversidade sexual, da agressão à floresta e do assassinato de Marielle Franco. Utiliza animações e letreiros para reforçar o viés didático-informativo, sem medo de eventualmente soar reiterativo e ingênuo. 

O lançamento não comercial denota a intenção de ser uma peça de esclarecimento que chega no momento certo para ajudar a expurgar o inferno bolsonarista.      

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Veja o filme aqui.

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