Levaram o sorriso de Niterói

Paulo Gustavo foi meteórico. Sua peça e seu filme foram sucessos arrasa-quarteirão. Um ator de mão cheia, que tinha muito ainda para nos oferecer e se vai prematuramente. Sinto uma dor incrível, pois uma semana antes perdia um grande amigo e um dos maiores restauradores do país do qual admirava, Claudio Valério Teixeira



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O humorista Benett se lembrou da frase que o Betinho disse para seu irmão Chico Mário quando Henfil morreu: "Hoje foi ele. Amanhã serei eu, e depois você. Vamos para casa". Estamos inebriados, diariamente, perdendo familiares, amigos e pessoas que admiramos. Tínhamos a obrigação de enfrentar a pandemia com mais seriedade, mas nada disso está sendo possível com um governo negacionista. Quando perdemos uma luz como Paulo Gustavo, ela representa um despertar naqueles que estavam em estado catatônico ou em sua bolha de proteção, para a realidade que nos assola diariamente com mais de três mil mortos por dia no país. Paulo Gustavo lutou quase dois meses, com todas as possibilidades financeiras de travar uma batalha que poderia ser ganha, mas a Covid não escolhe classe social. Por esse motivo, a vacinação é a única resposta.  

Paulo Gustavo era um ator fabuloso. Elevou a cidade de Niterói com o humor característico da cidade para o Brasil. Quantas vezes eu esbarrei com o ator no Campo de São Bento, bem cedo, com seu sorriso característico. Curiosamente, perdemos em 4/05/20 Aldir Blanc, e agora em 4/05/21 Paulo Gustavo. Entre um e outro, nada foi feito nesse caos da saúde para que não tivéssemos que chorar mais perdas que apertam o coração. Dessa vez, a esperança é que a luz do ator possa iluminar uma nova consciência, uma seriedade na condução da imunização do país. Não tinha ninguém que não gostava de Paulo Gustavo. Humorista brilhante, tranquilo no palco, dominava a plateia e muito generoso com todos. Levava alegria para a casa de todo brasileiro e estava alcançando um sucesso nacional, mas se preocupava com o social também, quando doou uma grande quantia de dinheiro ao padre Lanceloti e seu trabalho com a comunidade de rua.

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Estamos em um país continental, mas governado por uma paróquia miliciana, que foi capaz de propor, segundo Mandetta, a mudança na bula da Cloroquina como remédio para a COVID. Quantas mortes foram evitadas com a proibição deste ato do presidente? Nada disso precisava ter acontecido. A CPI apenas começou seu trabalho e tem a obrigação de rapidamente esclarecer os fatos para o país e destituir essa condução criminosa e passarmos a reagir com seriedade a essa doença que ceifou Paulo Gustavo. O ator, humorista, diretor e roteirista Paulo Gustavo, cria de Niterói, falou sobre nosso dia-a-dia com nossas mães, mas também falava sobre sua preocupação com a perda e ausência dos sorrisos em cada lar por causa da falta de afeto que estávamos tendo com o distanciamento social. 

“Rir é um ato de resistência”. Dizia ele. E está certo. Precisamos lutar por uma prevenção correta, ouvindo a ciência e o humor ele salva, transforma, alivia, cura, traz esperança, nos faz refletir, pensar e debater. Durante o regime militar, além da luta nas ruas, tanto físicas e políticas, tivemos O Pasquim, que levava o ridículo do regime para dentro de casa. E como foi importante os movimentos dos humoristas durante a ditadura. E mesmo presos, mostravam que se calar é a pior prisão. Paulo Gustavo que tanto fez do riso sua profissão, falando sobre sua mãe, morre na semana do dia das mães.

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Paulo Gustavo foi meteórico. Sua peça e seu filme foram sucessos arrasa-quarteirão. Um ator de mão cheia, que tinha muito ainda para nos oferecer e se vai prematuramente. Sinto uma dor incrível, pois uma semana antes perdia um grande amigo e um dos maiores restauradores do país do qual admirava, Claudio Valério Teixeira.

André Diniz, escritor e pesquisador de samba, propôs em suas redes sociais a mudança da rua Moreira César para Paulo Gustavo. A tradicional Rua de Niterói tem o nome do militar que liderou o combate contra Canudos conhecido como Corta-Cabeças entre os escravos. Nada mais justo trocarmos para um ator que nos fez alegres. Mas somos um país imenso governado por irmandades pequenas. E no final, pagamos por isso.

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