Ler os sinais
É possível que, num apocalipse, antes do holocausto nuclear, estejamos apenas captando os sinais da desesperança. No entanto, outros sinais nos animam
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No filme O lado bom da vida (Silver Linings Playbook), de 2012, dirigido por David Russell, uma comédia não desprovida de encanto, com Bradley Cooper e Jennifer Lawrence, esta última se destaca por se esforçar, na condução da existência, em “ler os sinais”. Uma boa leitura dos sinais, segundo imagina, lhe garante acertos e evita os erros. Não deixa de ser uma filosofia, algo que, no caso, dá certo, terminando com declarações de amor e o ajuste do casal. Sem dúvida, gostamos de “ler os sinais” e, através deles nos orientar na História. E, porque “lemos os sinais”, conferimos valor aos livros.
Desde os gregos e os primeiros textos fabricados, escritos e consultados, entendemos que a humanidade tem de acumular conhecimentos para resolver os seus problemas. Sem isso, esbarramos em obstáculos como se permanecêssemos perdidos nos desafios que se nos impõem.
Às vezes, não parece brincadeira a leitura dos sinais. É como se não nos dissessem nada e como devêssemos procurar outras fontes de orientação. No Brasil este procedimento dá impressão de representar um drama no atual momento. Um exemplo metafórico do que se acaba de se afirmar diz respeito à Biblioteca Nacional, uma instituição criada por D. João VI, com a vinda da Família Imperial, e, desde então, prestigiada por uma quantidade de governos. Pois, de repente, encontra-se acéfala, depois da nomeação e anulação da nomeação para a dirigir do capitão de mar e guerra Carlos Fernando Rabello. No comando da grande Biblioteca, uma das maiores do mundo, estiveram importantes nomes como Plínio Doyle, Celso Cunha, Eduardo Portella, Affonso Romano de Sant’Anna, para só citar alguns.
No atual governo, escolhem um militar no qual não há nada que justifique para o cargo. Em seguida, tomados pelo arrependimento, cancelam a nomeação - e eis que nos vemos novamente com o prestigiado órgão significativamente acéfalo. Se formos “ler os sinais”, como devemos entender o que se passa? Por outro lado, hoje completamos quatro anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista que a acompanhava Anderson Gomes.
Não houve punições para os mandantes do atentado. Mostram-se conhecidas as dificuldades de solução dos crimes de Estado.
O governo que investiga está frequentemente envolvido com a infração e não demonstra interesse em esclarecê-la. Daí que o assunto cai no esquecimento, consagrando-se a injustiça como um dos seus alicerces. Se devemos “ler os sinais”, temos aí em abundância material para reflexão. Marielle, enquanto vereadora, se ocupava da investigação das milícias, algo que não despertava o interesse de setores da administração, entre outras razões, provavelmente, pela dimensão do problema.
As milícias constituem um poder paralelo, superior, em algumas áreas da cidade, aos quadros da Polícia Militar. Bolsonaro e seus filhos namoraram e namoram com o apoio desses bolsões e, aparentemente, se ampararam neles para se fortalecer do ponto de vista político.
No momento, no Palácio do Planalto, estamos com um grupo que, de fato, não preza a ideia da leitura. Ainda por cima, com a guerra na Ucrânia, difunde-se um boicote internacional do capitalismo anti-russo que atinge a cultura e relega, como inimigos, Dostoiévski, Tolstói, Tchaikovsky, bem como a cinematografia da mesma origem, etc., o que, além de estúpido, fere a noção de cultura. Vê-se que, se lemos os sinais, temos de reconhecer que, em termos de inteligência, não parecemos bem. É possível que, num apocalipse, antes do holocausto nuclear, estejamos apenas captando os sinais da desesperança que antecede ao fim. No entanto, outros sinais nos animam. Apostemos neles.
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