Lá se vai um pedaço do rock
Muitos não atentam, mas essa influencia e o modo de cravar a batida firme na bateria era muito característico, somado a guitarra com afinação alternativa das cinco cordas de Keith
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Perdemos Charlie Watts. Faleceu sereno em um hospital da Inglaterra, assim como foi em vida. Nunca afeito as polêmicas como Mick Jagger ou Keith Richards, Watts era sereno e tinha predileção pelo estilo mais jazzista como Jelly Roll Morton e Charlie Parker. Sempre elegante, correto e enxuto, como os grandes mestres do passado, não era contraditório em tocar numa das maiores bandas da história do rock, afinal, esse era o diferencial do som da banda. Assim como você reconhece a batida de um AC/DC, o mesmo acontecia com RollingStones. Muitos não atentam, mas essa influencia e o modo de cravar a batida firme na bateria era muito característico, somado a guitarra com afinação alternativa das cinco cordas de Keith. Outra característica era a simplicidade e limpeza no seu trabalho. Muitos acham que um exímio baterista deve ser virtuoso como Neil Peart, John Bonham, Keith Moon ou Ian Paice. Mas você pode ver que esses mesmos virtuosos prestam homenagens a bateristas como Watts, Ringo Starr e Gene Krupa.
Charlie foi obrigado a deixar a nova turnê dos Stones após se submeter a uma cirurgia de emergência. Na ocasião, ele teria passado por um procedimento após um check-up. Ele mesmo escolheu o atual baterista Steve Jordan, que acompanhava a banda antes dele ser internado, além de Darryl Jones que tocou com Miles Davis. A cereja do bolo, no caso do rock, são essas influências que o estilo abraça e as imensas possibilidades que podemos receber desse caldo. De cara podemos imaginar as influencias que Rick Wakeman, com formação clássica deu ao Yes ou Jon Lord também com formação clássica, mas amante de Bossa Nova no estilo do Deep Purple.
Há várias razões para amar o trabalho de Watts no RollingStones. Já li fãs falando que tinham preferencia nessa elegância dele pois tinha um toque de mistério no jeito flamboyant dos outros três. Como não se lembrar da força da música Sympathy For The Devil, depois da primeira vinda da banda ao Brasil ou Paint it Black que até teve regravação nas baquetas de Ian Paice. E apesar dessa presença marcada em várias músicas dos Stones, sempre com uma métrica firme, temos a presença dele na sua banda de jazz Charlie Watts Quintet que costumava dizer: "acho suficiente tocar bateria como ela é”. E foi assim até mesmo em sua primeira banda a Blues Incorporated em 1961. O destino é formidável em sua maneira de escrever a história, pois nessa primeira banda, tocou com o guitarrista Brian Jones, que o levou para os Rolling Stones, que estavam sem seu baterista, Tony Chapman.
Mas acima de tudo, era um artista pensando em arte. Tinha experiência com design gráfico fazendo a capa do álbum Between the Buttons, além de ajudar a criar os projetos de palco da banda que foram importantes para toda carreira. A famosa logo criada por John Pasche, da Royal College of Art, em Londres, podia ter sido feita por Watts, que se Formou na Escola de Arte Harrow e trabalhou como designer em uma agência de publicidade. E quem sempre gostava de artes plásticas era um dos retratados e imortalizado pelo artista Sebastian Kruger, especialista na banda.
Vamos lembrar sempre de músicas como Anybody seen my baby, Start me up, Time Is on My Side, Street Fighting Man, Gimme Shelter e tantas outras. A visão que todos esses grandes astros da música, que estão passando dos 80 anos, podem sumir em 10 ou 20 anos me assusta, pois minha infância e juventude foi ouvindo essas músicas, mostram a perenidade da vida é real. Como viver em um mundo sem Paul McCartney?
Mas uma grande lembrança que tenho dos Stones foi um show inesquecível no Maracanã, em que tinha voltado para o Rio naquele dia. Estava em Porto Seguro e viajei 9 horas para vê-los. Chuveu, tiveram shows magníficos da Rita Lee e Cássia Eller, mas quando entraram os RollingStones, na turnê Voodoo Lounge, foi uma das grandes emoções que tenho lembrança.
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