Keynes brasileiro bombardeia FHC e Bolsonaro

Delfim lança seus venenos sobre Paulo Guedes, que vai na mesma linha fernandina, na verdade, submissa, em demasia, a Tio Sam, como foi FHC, relativamente, ao Consenso de Washington



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Show de humor, ironia e cinismo do maior economista brasileiro ativo e operante 

Vale muito a pena ouvir, assistir e meditar sobre essa entrevista ao Roda Viva. Delfim está impagável. A começar pelo conselho que dá ao Bolsonaro: para de usar tuiter. Gostaria de ficar no que ele sofisticadamente destrói: o Plano Real. Tratou -se de uma genialidade destrutiva. Combateu a inflação, sim, mas destruiu a indústria nacional pela má utilização da política cambial. Acreditaram os gênios de FHC na virtude infinita do mercado. Desprezaram a eficácia do governo como comandante dos investimentos. Mercado sem governo é receita para o fracasso. Delfim lança seus venenos sobre Paulo Guedes, que vai na mesma linha fernandina, na verdade, submissa, em demasia, a Tio Sam, como foi FHC, relativamente, ao Consenso de Washington.

O chumbo grosso do experiente sábio economista e, sobretudo, político, na medida em que desdenha a economia como ciência, vai naquilo que, agora, um dos pais do Real, André Lara Resende, está criticando, ou seja, a prática abusiva dos juros pelo BC, para compensar as barbeiragens do populismo cambial: sobrevalorizar a moeda para combater inflação e, assim, ganhar eleição. Os gênios do Real foram, isso sim, marqueteiros políticos, como dizia Lauro Campos. Lara Resende rende-se à crítica de Delfim. O BC, desde o Plano Real, trabalhou com taxa de juro acima da taxa de crescimento da economia. O investimento público, por isso, decresce, sistematicamente, há 25 anos. Empresário algum investe, se o gasto/investimento público cai por conta da orientação da política monetária, na qual o juro corre na frente do crescimento do PIB. Vai sobrar mercadoria por falta de consumidor. O juro real, na Era FHC, chegou a 26%, com o PIB crescendo abaixo de 2%. O custo do endividamento público bombeado por câmbio sobrevalorizado, antidesenvolvimento industrial, a exigir juro real estratosférico, rompeu todos os parâmetros de racionalidade.

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O desajuste permanente das contas públicas, impulsionado por juro anti-crescimento, produziu economia doente. Os gênios do Real, em vez de, humildemente, reconhecerem que a inflação e o déficit provocam inflação, arrocho salarial e subdesenvolvimento crônico, gerado por insuficiência de consumo, engolia o diagnóstico do Consenso de Washington, segundo o qual inflação decorre do excesso de demanda global. Para combatê-la, tome juro e mais juro sobre juro, juros compostos, condenados, inclusive, pelo STF, como crime de Anatocismo, segundo a Súmula 121. O plano Real criou correia de transmissão para carrear renda da população para os bancos. Quanto mais o crescimento da economia fica abaixo do crescimento dos juros, fixados pelo BC, mais o risco do crédito ao consumo aumenta, levando banqueiros à agiotagem em nome do risco. O Brasil virou fábrica de juro que favorece rentista que foge do investimento para ganhar mais com os títulos da dívida, estabelecidos pela especulação jurista.

A dívida se transformou em instrumento de exploração, em vez de funcionar como mecanismo de financiamento do desenvolvimento. Ergueu-se nação de novos escravos. Os gênios inventaram que juro só cai se a relação divida/PIB equilibrar-se, se for cumprido receituário do credor: superávit primário, metas inflacionárias e câmbio flutuante, mandamentos de Washington. Mais de uma geração de repórteres econômicos repetem essa baboseira, diariamente, acriticamente, como se fosse verdade, agora, negada por um dos seus patrocinadores, Lara Resende.

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Essa enganação econômica se desmoralizou com a crise capitalista de 2008. Os governos do primeiro mundo, endividados pela prática de juro acima do PIB, inverteram a situação. Jogaram fora a tese de que inflação é fenômeno monetário, decorrente de excesso de oferta de moeda na circulação capitalista, para seguirem outra: expansão da oferta dela, jogando juro para zero ou negativo. A velha teoria foi para lata de lixo. Mais dinheiro em circulação diminui juro e consequentemente peso da dívida. Realmente, Delfim tem razão: economia não é ciência, mas experimentação. Lara Resende fala agora que juro alto é que provoca inflação e desajuste fiscal. Considera blá, blá, blá o que durantes anos pregou, enganando a freguesia. Os juros absurdos cometidos por FHC, portanto, são a fonte do desastre econômico nacional. Por isso, tucano, depois de FHC, não ganhou mais eleição.

O grande erro do PT foi seguir a política monetária de FHC, minimizando seus estragos com política social ativa de melhor distribuição de renda. Por isso, Lula virou um Deus. A outra cagada petista foi a de praticar compra de voto, fantasiada de financiamento privado de campanha eleitoral, com o qual FHC garantiu segundo mandato, para continuar com a política antinacional tucana.

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O mea culpa de Lara Resende, no Valor, reconhece o desmonte da economia industrial, que Delfim, no Roda Viva, credita aos juros absurdos praticados pelo BC, comandado pelos próprios banqueiros. O ex-czar da economia, no entanto, cai na esparrela de dizer que o buraco do déficit público está na previdência. Parece que nega sua própria convicção de que os juros são o grande estrago ao bombearem a dívida pública de maneira selvagem. Previdência é consequência, não causa do desajuste das contas públicas, como confirmou CPI realizada pelo Senado. Delfim até deixa a dúvida de que, também, vendeu a alma ao diabo, quando culpa a Previdência e não a agiotagem pela paralisia econômica, agravada pelo congelamento de gastos públicos, que, felizmente, considera loucura, por diminuir a taxa histórica de investimento, que, com exportação, promove desenvolve sustentável. Nem Delfim se mostrou capaz de fazer a crítica da tecnocracia toda poderosa que manda e desmanda no estado nacional.

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