Juros que não minto!
"O governo e a mídia mais uma vez distorcem dados econômicos, com a intenção de projetar um cenário róseo sobre a suposta recuperação econômica que não veio. Agora, alardeiam que a taxa de juros Selic atingiu seu mais baixo patamar da história, pois, em termos nominais, tal taxa está em 7%, com a última decisão do Copom. Ora, esse "recorde" refere-se à taxa de juros nominal, que não tem influência concreta maior sobre a economia e sobre decisão de realizar ou não investimentos", escreve Marcelo Zero; ele lembra que as "taxas continuam acima do que estavam no início de 2016, como se demonstra no gráfico a continuação, e muito além dos níveis mais baixos atingidos em 2012 e 2013"
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O governo e a mídia mais uma vez distorcem dados econômicos, com a intenção de projetar um cenário róseo sobre a suposta recuperação econômica que não veio.
Agora, alardeiam que a taxa de juros Selic atingiu seu mais baixo patamar da história, pois, em termos nominais, tal taxa está em 7%, com a última decisão do Copom.
Ora, esse “recorde” refere-se à taxa de juros nominal, que não tem influência concreta maior sobre a economia e sobre decisão de realizar ou não investimentos. Pode-se ter uma taxa nominal de juros de 20%, mas se a inflação anualizada for de 22%, isso significa que a taxa real de juros está negativa. Não há remuneração real para os investidores.
Assim, a taxa que tem efeitos concretos e decisivos sobre a economia é a taxa real de juros, isto é, a taxa nominal de juros descontada a inflação.
Neste caso, a taxa real de juros de juros do Brasil de hoje, mesmo com seu nível nominal baixo, ainda está muito alta. Com efeito, como a inflação dos últimos doze meses (dados de outubro) está em 2,7%, isso significa que a taxa real de juros é 4,3%, um patamar ainda muito elevado. Muito mais elevada que a taxa de juros real obtida ao final de 2012, no governo de Dilma Rousseff.
Na realidade, os dados da evolução recente das taxas de juros reais revelam que elas sofreram um aumento substancial em 2016 e início de 2017, tendo atingido um pico de 7,68%, em fevereiro de 2017.
Elas só começam a cair de novo, de modo expressivo, neste segundo semestre. Mesmo assim, tais taxas continuam acima do que estavam no início de 2016, como se demonstra no gráfico a continuação, e muito além dos níveis mais baixos atingidos em 2012 e 2013.
Saliente-se que os juros pagos pelo cidadão comum continuam em patamares estratosféricos, totalmente absurdos. Assim, os juros do cartão de crédito estão em 337,94% ao ano, os do cheque especial em 323,73% ao ano e os do crédito pessoal não consignado em 131,94% ao ano. Mesmo o crédito pessoal consignado para o setor privado está em escorchantes 40% ao ano. Um cenário surreal, que não existe em nenhum país civilizado do mundo. São juros que não são cobrados nem pela Máfia.
Ademais, na comparação internacional, o Brasil continua a ter uma das maiores taxas de juros reais do mundo.
Na projeção recente (dezembro), feita pela consultoria Infinity Asset Management, que leva em consideração a inflação projetada para o próximo ano (ex-ante), não a inflação passada (ex-post), o Brasil aparece no 4 º lugar no mundo, em termos de taxas de juros reais, praticamente empatado com a Argentina, que está em terceiro lugar.
Portanto, assim como não se deve comemorar o ridículo PIB de 0,1% do terceiro trimestre, não se deve também comemorar uma taxa de juros real que nos coloca entre os países que têm o dinheiro mais caro do mundo. Juros que esterilizam investimentos produtivos e impedem nosso desenvolvimento.
E o governo e a mídia têm de parar de distorcer a realidade. Pega mal, mesmo para um governo sem nenhuma legitimidade.
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