Juros a 10,75% é aviso a Lula

Oitavo aumento consecutivo da Selic sublinha o poder descomunal do BC sobre a economia e coloca dúvida sobre o futuro do Brasil, escreve Paulo Moreira Leite

Lula
Lula (Foto: Ricardo Stuckert)


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Quando se recorda que o país encontra-se nas mãos de Jair Bolsonaro e
Paulo Guedes, ninguém tem o direito de ficar surpreso com a taxa de
juros, 10,75% ao ano, uma das maiores da história.

A decisão vem em linha com "o consenso do mercado financeiro, conforme
anunciado pelo Conselho de Política Monetária na reunião anterior, em
dezembro", observou o Valor Econômico, que também registrou: "Esta foi
a oitava alta consecutiva da taxa básica de juros".

Nem tudo pode ser naturalizado, contudo. É preciso refletir sobre essa
decisão quando se recorda que faltam oito meses para uma eleição
presidencial na qual Luiz Inacio Lula da Silva -- um adversário
consistente da política econômica que justifica uma taxa de juros
nesse patamar -- concorre como amplo favorito.

Decisão que envolve um ponto essencial das medidas econômicas de
qualquer país, a taxa de juros é um dado essencial para se definir os
rumos da economia, seja na direção do crescimento, ou de uma recessão.

Esse debate apareceu em 2021, quando o Congresso aprovou a lei que
define a independência do Banco Central. Na Câmara, a proposta foi
aprovada em ambiente de triunfo reacionário --- 339 a 114 -- e mesmo
no Supremo, que julgou uma ação impetrada pelo PT e pelo PSOL, o
placar da vitória à direita foi de 8 votos a 2.

Na época, coube ao ministro Ricardo Lewandowski tocar no x da questão.
Num voto divergente acompanhado por Rosa Weber, Lewandowski lembrou
que o projeto fora uma iniciativa de um parlamentar -- o senador
Plínio Valério (PSDB-AM) --, deixando claro que o papel do Banco
Central dizia respeito a um ponto central da soberania popular, tão
importante que qualquer mudança só poderia partir de seu representante
máximo, o Presidente da República.

Apenas um ano depois, é fácil compreender o que estava em discussão.
Definir quem controla o principal fator de estímulo -- ou paralisia --
da economia de um país, debate presente inclusive na economia
norte-americana, onde o descompasso entre o Federal Reserve e a Casa
Branca é apontado como responsável pela ruína de vários presidentes.

Mesmo que seja capaz de confirmar nas urnas os números anunciados por
todas as pesquisas eleitorais disponíveis, o governo Lula poderá
enfrentar a oposição da principal instituição encarregada de definir o
ritmo da economia e da criação de empregos.

Tomará posse pisando no acelerador do crescimento, enquanto o BC
puxará o freio da recessão -- e só o tempo irá dizer o que terá de
negociar para modificar essa situação.

Os antecedentes do primeiro governo Lula, quando Henrique Meirelles se
encontrava à frente do BC, mostram um período de dificuldade e muita
tensão.

Alguma dúvida?

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