#Juntos, pela democracia, antes que seja tarde
Marcelo Auler, do Jornalistas pela Democracia, afirma que manifestos como o '#Juntos!' são fundamentais para "mostrar ao mundo político – e também a Judiciário – quem são os 70% que estão na oposição a tudo o que está aí". "Para não permitirmos que Bolsonaro e seus milicianos apliquem o golpe que eles sonham dar. Disso ninguém mais deve duvidar", acrescenta
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Por Marcelo Auler, em seu blog e para o Jornalistas pela Democracia
Certamente poucos ainda duvidam que o Brasil corre o seríssimo risco de tornar-se uma ditadura nazifascista. Risco este que, de forma clara, categórica e balizada foi admitido pelo próprio decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, a partir do seu conhecimento histórico e jurídico (Veja ilustração ao lado). Aumentou ainda mais com o recente artigo do vice-presidente, Hamilton Mourão, chamando os manifestantes em favor da democracia de “delinquentes” e acusando-os de estarem ligados ao “extremismo internacional”.
Curioso é notarmos que diante de todos os sinais de uma concreta ameaça que pode, inclusive, desaguar em conflitos armados provocados por milicianos, há quem teime em colocar os carros na frente dos bois: cobram programas eleitorais nos Manifestos surgidos em defesa da democracia. Tal como o #Juntos!, lançado sexta-feira (29/05), como noticiamos em #JUNTOS – Sociedade exige Frente Ampla pelo Brasil.
O documento, que em poucos dias conquistou a adesão de mais de 275 mil assinaturas (dados da manhã de quinta-feira, 05/06), não se propôs a lançar um programa de governo, nem a definir metas de governo desejadas pelos seus adeptos. Isso não somaria.
Na realidade, ao ser idealizado, o Manifesto jamais teve como objetivo montar frente partidária eleitoral.
A frente ali defendida é outra, mais ampla – “democrática (…) de todos e para todos, sem distinção de classe, gênero, sexo, região, religião e geração”, como bem definiu no seu Instagram (veja texto na ilustração) a antropóloga Lilia Schwarcz, uma das participantes do grupo que o gestou.
O que se pretende é mobilizar a sociedade que está trancada em casa, manifestando-se apenas pelas suas janelas batendo panelas, para pressionar por uma Frente Política Ampla, apartidária, englobando todos os espectros ideológicos, desde que democratas.
É defender o estado democrático de direito, fazendo valer a Constituição. Com isso, entende-se, que também se estará garantindo as eleições, em especial a de 2022 quando, aí sim, os partidos formarão suas frentes e desenharão seus projetos políticos.
Pode-se até dizer que o texto é genérico demais, mas ali está o fundamental que interessa nesse momento diante da ameaça real de Bolsonaro, sua família, de seu vice e de muitos dos que o seguem: a defesa intransigente da Constituição de 1988.
A Constituição Cidadã pela qual muitos dos que assinam o Manifesto lutaram ao lado de muitos outros que, inclusive, pagaram com suas vidas por essa luta, travada na ditadura militar imposta ao país. Militantes que, se vivo estivessem, certamente abraçariam essa luta contrfa o fascismo.
Provavelmente muitos entre os que o assinaram, assim como milhares de outros que preferiram não o fazer, encontraram motivos de críticas no texto. Algo mais do que normal. Dificilmente um texto contemplará a todos em grupo tão grande. Ainda mais grupo heterogêneo, tendo como bandeira em comum a defesa da democracia.
Entre os mais à esquerda, há quem se apegue a palavras ou expressões para leitura com duplo sentido. Assim, “responsabilidade na economia” é vista como uma defesa do neoliberalismo; “Combate audaz à corrupção” remeteàs péssimas lembranças dos desmandos da Lava Jato e às perseguições aos chamados governos progressistas. Também há os que destacam omissões Como a falta da defesa de uma maior justiça social.
O que é preciso enxergar sem muita dificuldade é que ali está, resumidamente, o pensamento atual da grande maioria da população brasileira. Provavelmente incapaz de identificar esses “detalhes”. Que o texto tem como principal objetivo mostrar a reação dos 70% ou mais da população aos desmandos e às ameaças de Bolsonaro à democracia. Motivo pelo qual, ele não pode continuar. Tem que cair, junto com todo o seu governo. Mourão e Paulo Guedes, inclusive.
Na realidade, ao ser idealizado, o Manifesto jamais teve como objetivo montar frente partidária eleitoral.
A frente ali defendida é outra, mais ampla – “democrática (…) de todos e para todos, sem distinção de classe, gênero, sexo, região, religião e geração”, como bem definiu no seu Instagram (veja texto na ilustração) a antropóloga Lilia Schwarcz, uma das participantes do grupo que o gestou.
O que se pretende é mobilizar a sociedade que está trancada em casa, manifestando-se apenas pelas suas janelas batendo panelas, para pressionar por uma Frente Política Ampla, apartidária, englobando todos os espectros ideológicos, desde que democratas.
É defender o estado democrático de direito, fazendo valer a Constituição. Com isso, entende-se, que também se estará garantindo as eleições, em especial a de 2022 quando, aí sim, os partidos formarão suas frentes e desenharão seus projetos políticos.
Pode-se até dizer que o texto é genérico demais, mas ali está o fundamental que interessa nesse momento diante da ameaça real de Bolsonaro, sua família, de seu vice e de muitos dos que o seguem: a defesa intransigente da Constituição de 1988.
A Constituição Cidadã pela qual muitos dos que assinam o Manifesto lutaram ao lado de muitos outros que, inclusive, pagaram com suas vidas por essa luta, travada na ditadura militar imposta ao país. Militantes que, se vivo estivessem, certamente abraçariam essa luta contrfa o fascismo.
Provavelmente muitos entre os que o assinaram, assim como milhares de outros que preferiram não o fazer, encontraram motivos de críticas no texto. Algo mais do que normal. Dificilmente um texto contemplará a todos em grupo tão grande. Ainda mais grupo heterogêneo, tendo como bandeira em comum a defesa da democracia.
Entre os mais à esquerda, há quem se apegue a palavras ou expressões para leitura com duplo sentido. Assim, “responsabilidade na economia” é vista como uma defesa do neoliberalismo; “Combate audaz à corrupção” remeteàs péssimas lembranças dos desmandos da Lava Jato e às perseguições aos chamados governos progressistas. Também há os que destacam omissões Como a falta da defesa de uma maior justiça social.
O que é preciso enxergar sem muita dificuldade é que ali está, resumidamente, o pensamento atual da grande maioria da população brasileira. Provavelmente incapaz de identificar esses “detalhes”. Que o texto tem como principal objetivo mostrar a reação dos 70% ou mais da população aos desmandos e às ameaças de Bolsonaro à democracia. Motivo pelo qual, ele não pode continuar. Tem que cair, junto com todo o seu governo. Mourão e Paulo Guedes, inclusive.
A grande maioria ligada ao mundo cultural – teatro, TV e cinema. Atores, atrizes, autores, produtores, roteiristas. Mas também advogados, antropóloga, arquiteto, cantoras e cantores, escritores, jornalistas, músicos, professores, publicitários, relações públicas.
O movimento foi gerado e cultivado a partir da indignação destes representantes da área artística com os descalabros junto à Cultura do país. Impulsionados na reação à fala tresloucada de Regina Duarte na CNN. A partir da experiência bem sucedida do manifesto – “Ela não nos representa” – lançado no início de maio. Recebeu 512 assinaturas de representantes do setor cultural, com críticas ao que falou a então Secretária de Cultura de Bolsonaro. Hoje uma desempregada.
Ao contrário do que alguns Fake News alardearam, inclusive de segmentos próximo, ou seja, o chamado “fogo amigo”, o #Juntos não tem qualquer envolvimento com interesses econômicos empresariais.
No grupo que o gerou, talvez identifiquem como “empresárias” (aspas mais do que necessárias) as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão. Afinal, elas teimam em seguir sócias no teatro “Poeirinha”, no Rio, hoje fechado por conta do isolamento social. Sobreviverá? Ou, apelando bastante, poderão apontar o ator Marcos Palmeira, como representante do “agronegócio* (também aspeado), uma vez que ele intitula “produtor rural”. Nada além disso.
Ataques virtuais começaram no sábado
Sem qualquer esquema profissional, essa turma – em isolamento social em suas casas – se mobilizou pelas redes sociais e pelo telefone. Foi na base do “quem tem o contato de….?”, ou ainda, “eu conheço fulano, vou ligar”. Deu-se ainda por meio de grupos de chats de conversas via WhatsApp. Algo muito frenético e, diga-se, bastante confuso. Mas o movimento cresceu rápido.
Esse ritmo frenético, que fez circular pelas redes sociais a existência do documento e, consequentemente, seu texto, provocou uma antecipação do lançamento. Previsto para sair apenas na primeira semana de junho, o medo de vazamento do conteúdo e também de possíveis ataques virtuais pelas milícias digitais bolsonaristas, fez com que a data fosse antecipada para a noite de sexta-feira (29/05).
Ainda assim, os ataques acabaram acontecendo. Mesmo que não se tenha uma conclusão oficial, é de se questionar se as mais de quatro milhões tentativas de acesso ao site no sábado, dia 30/05, tenham sido feitas manualmente. Muito provavelmente foi obra de robôs, que impediu o acesso de milhares de pessoas dispostas a assinarem.
No domingo, foi o celular e o computador de uma das organizadoras, a autora e roteirista Carolina (Carol) Kotscho, o alvo dos hackers. Além de impedirem sua comunicação – isolando-a ainda mais em plena quarentena – destruíram arquivos. Atingiram a conta oficial do Movimento no Instagram.
A decisão de lançar o Manifesto na sexta-feira foi sacramentada no decorrer daquele dia. Obrigou a um dos organizadores bancar, com seus conhecimentos e recursos, o investimento nos anúncios publicados, na edição de sábado, dos três principais jornais do eixo Rio-São Paulo (o carioca O Globo, e os paulistanos Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo). Valor para o qual, hoje, alguns buscam recursos para ressarci-lo.
Na verdade, todos os empecilhos e dificuldades – e foram muitos – decorrentes até da falta de experiência, foram vencidos pela garra e determinação de movimentar a sociedade civil. Entendeu-se que, em época de isolamento social, seria necessária uma manifestação virtual para, como falamos na matéria que o BLOG publicou no sábado, transformar em nomes e sobrenomes os números de rejeição à figura – e ao governo – de Jair Bolsonaro. Tal como as pesquisas de opinião demonstram.
Trabalhou-se sim com a ideia de se repetir o que aconteceu na Campanha das “Diretas Já”, entre 1983/1984. Experiência desconhecida por, pelo menos, cinco entre as cinco dezenas de organizadores. Estes, sequer eram nascidos. Ou vivenciada por muitos outros como crianças. Como a própria Carol que, à época, tinha meros oito anos.
Imaginou-se se possível repetir o palanque daqueles grandes comícios, onde opostos se juntaram, diante de milhares (algumas vezes, milhão) de pessoas. Só que de forma virtual, já que em épocas de pandemia não há como se pensar em encontro presencial.
Isto, certamente, pode ser um fator a facilitar as adesões. Não exige, por exemplo, que a ex-presidente Dilma Rousseff suba em um palco ao lado de um dos seus algozes. O jurista Miguel Reale Júnior, autor do pedido que forjou o golpe impeachment sem crime, derrubando-a do cargo para o qual foi legitimamente eleita. E que acabou gerando o desgoverno contra o qual, hoje, os dois defendem que caia. Legalmente. Democraticamente, uma vez que motivos não faltam. Antes pelo contrário, se acumulam.
“Feridas abertas” tornam-se barreiras
No documento, por conta da ordem alfabética, ambos se manterão distante, caso a presidente venha a endossá-lo. Algo que não aconteceu com o ex-candidato petista à presidência, Fernando Haddad, e o ex-presidente da República tucano, Fernando Henrique Cardoso. Na lista estão juntos, sem nenhum outro nome a separá-los.
O que não se calculou devidamente, até mesmo pela falta de experiência do grupo para maiores análises políticas, ou mesmo por conta dos atropelos que o ritmo frenético gerou, é que as feridas abertas ao longo destes últimos 36 anos se transformassem em barreiras instransponíveis.
Como a mágoa profunda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – justificadamente para muitos dos que ajudaram no documento – carrega por conta do tratamento que recebeu de Fernando Henrique Cardoso, que um dia foi seu aliado e o conhece bem. Em especial durante o tempo em que foi mantido preso, em Curitiba: “não é um preso político, mas um político preso”, deflagrou FHC.
Prisão gerada por uma perseguição virulenta do então juiz Sérgio Moro que, ao impedir a candidatura do petista, favoreceu a vitória de Bolsonaro. Ajuda que o beneficiou com o ministério da Justiça, com a promessa de carta branca e o aceno com uma futura vaga no Supremo. Promessas que o já ministro, mordido pela mosca azul, parece ter demorado a perceber que eram blefes. Hoje, Moro articula para derrubá-lo. Talvez ainda sonhando com um retorno em um suposto governo do vice Hamilton Mourão.
Também falharam – e muito – as previsões iniciais do alcance que o Manifesto ganharia. Sabia-se que era necessário. Imaginava-se que haveria adesão. Jamais na proporção que teve.
No lançamento, por volta de 20H00 de sexta-feira, o documento já contava, surpreendentemente, com mais de 1.600 assinaturas. Obtidas por meio virtual e por telefonemas. Conquistadas, naquela semana.
No final da noite eram 37.477. Pularam para 51.070 às 05h35 do sábado (31/05). Seis horas depois, às 13H35, atingiu 103.196 endossos; e 153.671 às 20h00. No meio da manhã de domingo superou 200 mil adesões.
A partir de então o ritmo de novas adesões foi se reduzindo. No início da tarde de segunda-feira (01/06) contabilizava-se mais 60 mil assinaturas, com um total de 260 mil. Da tarde de segunda ao final da noite de terça-feira o acréscimo foi de 8.684 novas adesões. Ao longo de toda a quarta-feira o acréscimo reduziu. Foram 5.521 novos nomes ao longo de 24 horas.
Como era o desejado, o documento não expõe assinaturas apenas de figurões, alguns em campos politicamente opostos, como muito se apregoou. Ali estão legítimos representantes da classe trabalhadora. Como Áurea Sacilotto e Nair Silva Souza, ambas domésticas. Ou as cozinheiras Diana Tavares e Joana Carvalho. A baba Luzineide Maria de Oliveira. O pedreiro Nelcy Fracaroli. O motorista Charles Franco e a pilota de Uber Regina Celia Pinto Dias. São apenas alguns exemplos da listagem inicial, a que se tornou visível no site.
Provavelmente influiu nessa “desaceleração” a discussão levantada em torno da rejeição – inicial, espera-se – do ex-presidente Lula em endossar o documento. Ele manifestou sua posição durante a reunião do diretório nacional do PT, na segunda-feira. Um discurso no qual ele misturou a reconhecida e justa mágoa que tem com alguns dos que aderiram ao documento, a uma análise feita sem maior conhecimento de como o Manifesto surgiu. Provavelmente não sabia, naquele momento, da presença da Carol, entre os articuladores.
Lula conhece Ricardo Kotscho, pai de Carol, desde 1978. Ela então tinha dois anos. Tornou-se amigo dele, que o assessorou na quase totalidade das suas campanhas eleitorais para a presidência. Desde a primeira, em 1989. Depois o acompanhou nos dois primeiros anos de governo. Portanto, Lula tornou-se não apenas amigo do pai, mas de toda a família. Logo, ele e sua esposa, Marisa Letícia, viram Carol crescer. Só isto deveria ajuda-lo a procurar conhecer um pouco mais como o Manifesto foi criado. Talvez ainda aconteça.
Apesar da desaceleração das novas adesões, o Movimento #Juntos teve repercussão bem acima do que se esperava. O próprio número de assinaturas, que facilmente superou 250 mil, serviu para atrair as atenções. Algo surpreendente até para os organizadores. Imaginava-se uma boa aceitação, não de forma tão rápida. A ponto de provocar uma necessária freada para organizar a crescente demanda.
Só os grupos de WhatsApp, que necessitam ser alimentados, totalizam 155, espalhados por todos os estados. São 35 voltados para São Paulo, outros 22 dirigidos ao Rio de Janeiro. Cada um deles tem em torno de 256 celulares registrados. Portanto, uma ampla rede.
A coincidência de o Manifesto ter sido lançado junto com o “Basta!”, elaborado por mais de 500 juristas, e ainda com o “Somos70%”, do economista Eduardo Moreira – que também aderiu ao #Juntos – contribuiu mais ainda para a grande repercussão. Gerou, inclusive, o início de conversas para que as três frentes se unam no que talvez venha a ser “#Juntos, somos70%.Basta!”.
O necessário, porém, é demonstrar a insatisfação da grande maioria da população com o desgoverno que não apenas compromete o futuro do país, mas ontribui – e muito – para as mais de 32 mil mortes já ocorridas em consequência da Covid-19. Não apenas por conta da doença em si, mas muito também pelo pouco caso que Bolsonaro e seu governo fizeram para com a pandemia.
Torna-se, portanto, fundamental mostrar ao mundo político – e também a Judiciário – quem são os 70% que estão na oposição a tudo o que está aí. Dar nome e sobrenome aos números das pesquisas, o que vem sendo feito através das adesões ao Manifesto #Juntos. A partir daí, iniciar-se um segundo momento do debate. Como fazer – legalmente e respeitando a Constituição – para substituir o desgoverno. O mais rapidamente possível. Antes que aumente exponencialmente as vítimas fatais do coronavírus. Mas, principalmente, para não permitirmos que Bolsonaro e seus milicianos apliquem o golpe que eles sonham dar. Disso ninguém mais deve duvidar.
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