Jorge Cunha Lima, um militante da comunicação pública
"Jorge Cunha Lima esteve na trinceira da democracia em momentos cruciais", escreve Tereza Cruvinel sobre o jornalista
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Por Tereza Cruvinel
Morreu na madrugada desta quarta-feira, 17 de agosto, o jornalista Jorge Cunha Lima, um democrata que se distingiu também pela defesa da comunicação pública e da democratização dos meios de comunicação.
Como jornalista ele foi diretor da Última Hora criada por Samuel Wainer em São Paulo, passou pelas redações do Estadão e da Folha de S. Paulo e foi colaborador de outros veículos. De 1995 a 2004, presidiu a Fundação Padre Anchieta e dirigiu a TV Cultura numa de suas melhores fases, quando a emissora mais se aproximou do ideal de uma TV Pública, embora local. Tornou-se depois membro vitalício do conselho da fundação.
Jorge empenhou-se muito, neste período, pela formação de uma rede nacional de TV Públicas com as emissoras educativas estaduais, projeto que sempre esbarrou na natureza e nas deficiências destas emissoras.
Em 2007, no segundo governo Lula, quando começamos o esforço para a criação da EBC e da TV Pública nacional, a TV Brasil, hoje destroçada por Bolsonaro, Jorge era presidente da Fundação Padre Anchieta, e viu no projeto federal a grande oportunidade de criação da rede pública. Embora o governador de São Paulo fosse o tucano José Serra, tanto ele como Paulo Markun, que era o diretor-geral da TV Cultura, participaram do grupo de trabalho criado por Franklin Martins para definir as linhas gerais do sistema de comunicação proposto pelo Fórum da TV Pública. Ambos deram importantes contribuições.
Tornei-me a primeira diretora-presidente da EBC e sempre tive em Jorge um interlocutor experiente e qualificado, um apoiador e inspirador. Juntos estivemos em muitos debates e seminários sobre a comunicação pública, um ideal democrático que também foi levado de cambulhada na destruição geral do Brasil a partir de 2013. Os rumos recentes da TV Cultura certamente o entristeceram.
Jorge Cunha Lima esteve na trinceira da democracia em momentos cruciais. Em 1977, na ditadura, foi um ativo participante do ato na Faculdade de Direito da USP em que Gofredo da Silva Telles leu a Carta aos Brasileiros, agora reeditada, pedindo Estado de Direito, Sempre. Em 1984, esteve na equipe de coordenação da campanha das Diretas-já.
Ele se foi aos 90 anos, deixou três filhos e sete netos e os livros de poesia Ensaio Geral (Martins Fontes), Mão de Obra (Brasiliense) e Véspera de Aquarius (Paz e Terra, 1997) e, ainda, o romance O Jovem K (Siciliano), além de uma biografia de Franco Montoro. Uma vida longa, rica e honrada. Descanse, Jorge.
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