Joga pedra na Geni, digo, no PT
Pois se o petismo vier a ser derrotado por não conseguir superar seus erros e limitações, esta derrota diminuirá as chances de êxito dos que virão depois
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"O petismo não é de esquerda".
A frase teria sido dita recentemente pela liderança de um importante movimento social brasileiro.
Discordo.
Suspeito que os que foram às ruas nos dias 13 e 15 de março também discordam.
Discordâncias à parte, somando as críticas vindas da esquerda e da direita com aquelas oriundas das fileiras do próprio Partido, é inescapável lembrar de Chico Buarque.
Noutro texto (aqui) tratamos das críticas dirigidas contra o PT:
O tratamento lapidar hoje dedicado ao PT não é novidade na história brasileira.
O populismo trabalhista e o reformismo comunista também tiveram seu momento Geni.
Foram considerados culpados por tudo e mais um pouco.
Nos anos 1970 e 1980, a crítica ao populismo e a crítica ao comunismo serviram de adubo tanto para petistas quanto para tucanos.
Claro que havia uma crítica de esquerda e outra de direita.
Mas também havia pontos de contato entre os dois continentes.
A esse respeito, vale a pena ler (aqui) "A segunda revolução democrática", texto em que Francisco Weffort anuncia publicamente seu rompimento com o PT e sua "delação premiada", digo, adesão ao PSDB:
O petismo não existiria sem a crítica de esquerda ao populismo trabalhista e ao reformismo comunista.
Logo, quem pretende superar pela esquerda o PT tem todo o direito e toda a necessidade de criticar o petismo, sem dó nem piedade.
Mas os críticos deveriam aprender com o caso Weffort: não basta parecer de esquerda, não basta estar na esquerda, é preciso fazer uma crítica de esquerda.
E fazer uma crítica de esquerda é considerar os temas do ponto de vista dos interesses da classe trabalhadora.
E deste ponto de vista, do ponto de vista da classe trabalhadora, o PT é mais necessário que nunca.
Para derrotar a presente ofensiva da direita, necessitamos da participação do PT, da contribuição do petismo, da mobilização de milhões de pessoas que hoje têm o PT como referência política.
Dizer que o petismo não é de esquerda, não contribui em absolutamente nada neste sentido.
Contribuiria muito, isto sim, cobrar que o petismo faça uma autocrítica teórica e principalmente uma autocrítica prática.
Como o petismo são muitos, certamente haverá muitas autocríticas.
Certos dirigentes cobrarão autocrítica dos demais, mas continuarão abúlicos e catatônicos.
Certos analistas independentes, que ontem foram parte importante de decisões que deram no que deram, farão extensas críticas sem autocrítica.
Certos eleitos pelo Partido, para salvar um governo ou seu mandato, tentarão colocar no colo do PT todos os problemas.
Como a estratégia seguida pelo PT nos últimos vinte anos esgotou-se, como o Partido não quis construir outra estratégia no momento em que seria mais fácil fazer isto, haverá muita confusão, bateção de cabeça, análises disparatadas e soluções mágicas para todo tipo de gosto.
Nenhuma destas atitudes, nem os problemas do petismo constituem total novidade.
Em 1997 reclamávamos que "um fantasma ronda o PT: o fantasma do comunismo. Não o comunismo de que falava Marx, mas sim um comunismo pragmático, eleitoreiro, reformista, típico do velho Partidão" (leia mais).
Em 2015 participa da ronda o espectro do trabalhismo, mais precisamente a aposta na mudança pelo alto, a partir do Estado.
Em 1954 e 1964, quando o Estado se insurgiu contra a mudança, o trabalhismo oscilou entre o suicídio e a capitulação sem luta.
Desta perspectiva histórica, os erros e limitações do petismo expressam algo mais do que uma linha política, algo mais do que as limitações deste ou daquele dirigente.
Desta perspectiva histórica, os erros e limitações do petismo expressam certos padrões da luta de classe no Brasil.
O que constitui um motivo a mais para tentar superar estes erros e limitações através do petismo ou pelo menos com o concurso do petismo, não contra ele.
Pois se o petismo vier a ser derrotado por não conseguir superar seus erros e limitações, esta derrota diminuirá as chances de êxito dos que virão depois.
Aliás, nada mais "petista anos 80" do que certa arrogância frente aos erros das gerações anteriores. Os acontecimentos posteriores foram implacáveis com os arrogantes.
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