Jesus, o rei dos ladrões bolsonaristas

Voltando ao caso de corrupção no MEC, a prisão de Milton Ribeiro foi como uma facada reversa nas pretensões de Bolsonaro se reeleger

Milton Ribeiro
Milton Ribeiro (Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República)


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A prisão do pastor evangélico Milton Ribeiro, ex-ministro da educação do governo Bolsonaro, prova que a moral cristã e os princípios éticos do bolsonarismo não passam de uma distopia social, que transforma Jesus Cristo em um ícone do crime organizado cristão. Não que o cristianismo europeu já não tivesse adotado tal conduta ao longo da história, tendo a hipocrisia e a ganância como profissões de fé e culto. As cruzadas e a santa inquisição não me deixem mentir. Porém, devo confessar o espanto que me toma por presenciar, em pleno século 21, um medievalismo ideológico requentado na fogueira santa do templo de Salomão do Brás, ainda conseguir exercer tamanha influência social, cultural e política, so bre boa parte da população. O estado neopentecostal de direito, o “i have a dream” dos grandes líderes evangélicos brasileiros, é uma ameaça, não só à democracia, mas às liberdades individuais.

Quando começaram a surgir rumores de corrupção no MEC, envolvendo o então ministro Milton Ribeiro e mais dois pastores evangélicos, Gilmar Santos e Arilton Moura, Bolsonaro declarou que depositava tanta confiança em seu ministro, que colocaria “a cara no fogo” por ele. Ao seu lado, apoiando a sua autoincendiaria afirmação, estava Damares Alves, devidamente vestida de rosa, então também ministra do seu governo, conhecida por ser uma mulher terrivelmente cristã e defensora da moral e dos bons costumes. Não colocando a cara no fogo pelo ministro, mas jogando a responsabilidade para Deus esclarecer os fatos, a primeira dama, Michele Bolsonaro, disse que o todo poderoso iria provar a inocência do seu apadrinhado no MEC. Ao que tudo indica, Deus não é cúmplice dessa quadrilha, e deve ter revelado à Polícia Federal o envolvimento do pastor em irregularidades na pasta sob o seu comando.

O envolvimento de pastores e de líderes evangélicos em diversas ilicitudes, não é nenhuma novidade por aqui. Assim também como não são inéditas as narrativas construídas por suas ovelhas, para tentar associar os desvios de caráter de seus “domadores” à uma suposta perseguição ao nome de Jesus e a um doutrinário ódio aos cristãos. Pura bobagem! Se esses cristãos fossem perseguidos no Brasil, não estaríamos presenciando essa versão gospel de Ali babá e os 40 ladrões, que coloca, inescrupulosamente, a figura de Jesus Cristo como protagonista desse saque à dignidade, à inteligência, à liberdade, à cidadania e ao bolso de milhões de pessoas. Eu não estaria exagerando se disse sse que pastor é sinônimo de picareta. Com raríssimas exceções. De uma forma ou de outra, estão mentindo para os seus seguidores. Porque o cristianismo, ao contrário de Jesus Cristo, é uma mentira, uma farsa criada para manter o povo, principalmente, os mais pobres, resignados e sob controle.

Se me permitem o interlúdio textual, gostaria de saber se algum dos leitores já presenciou algum homem rico e bem trajado, ou alguma madame anti-lulista alicerçada no salto plataforma, caírem dentro de algum templo neopentecostal, manifestados por espíritos zombeteiros que, sob ordem expressa do pastor exorcista, são obrigados a confessar os planos macabros que tinham para aquela economicamente favorecida alma. Eu nunca vi, e creio que vocês também nunca verão. Isto, porque, de forma subliminar, a pobreza é vista nessas seitas como algo demoníaco e abominável. Mesmo a grande maioria das ovelhas que se submetem ao cajado desses falsos pastores sendo pobres. A tal da teologia da prosperidade explica. Só os mais pobres têm demônios para serem expulsos de seus corpos e almas. Ainda qu e estes sejam honestos, que não estejam envolvidos em crimes de corrupção e nunca tenham pedido quilos de ouro em troca de um favor político, eles sempre serão os potenciais endemoniados. Talvez, a fidelidade do dízimo de 10% de sua pobreza, possam lhes conceder a libertação e a salvação.

Voltando ao caso de corrupção no MEC, a prisão de Milton Ribeiro foi como uma facada reversa nas pretensões de Bolsonaro se reeleger. Ao contrário de Adélio, os pastores enfiaram a faca no bucho do presidente e rodaram. Se no ataque de 2018 não houve sangramento, dessa vez está praticamente impossível estancar o mar de corrupção que sai das entranhas do bolsonarismo, que sempre tentou se esconder por trás da bandeira da honestidade. De incomível e inbrochável, o presidente é obrigado a assistir passivamente o arrombamento da sua prepotência e a impotência da sua já contestada credibilidade. Logo ele, que definiu a próxima eleição como a luta entre o bem e o mal, se colocando mais uma vez como um defensor do nome de Jesus na polític a brasileira. Bolsonaro e sua caterva medieval transformam Jesus Cristo no rei dos ladrões. Tudo bem que ele perdoou o ladrão que foi crucificado ao seu lado na cruz. Mas o cara se arrependeu e pediu perdão por ter roubado. O que não é o caso dos pastores que formam a bancada evangélica, uma das bases do seu governo.

Mais do que nunca, qualquer um que se diga seguidor da ideologia de Jesus Cristo deve, por honra e dignidade, se afastar do bolsonarismo e desses pastores cobiçadores do ouro que o dinheiro púbico pode lhes oferecer. Não é uma questão de opinião, não é ser de esquerda ou de direita. É ter bom caráter e vergonha na cara. Não deveria haver nada mais podre, sórdido, diabólico e abominável, do que usar o nome de Deus para legitimar crimes cometidos contra a sociedade. No entanto, não vemos nenhuma cantora gospel famosa emitindo nota de repúdio condenando esses pilantras ao inferno e se recusando a cantar em seus templos. O corporativismo “evangélico” fala mais alto. É o evangelho sartriano, onde “o inferno são os outros” e eles, m esmo que com a marca da besta na testa, ainda tentam se passar por santos. E ainda dizem que Deus castiga quem zomba do seu nome. Se castigasse mesmo, não sobraria pastor sobre pastor e Milton Ribeiro não teria sido posto em liberdade enquanto escrevo esse artigo. Fanáticos fundamentalistas dirão que a justiça divina o libertou por ser inocente. Mas sabemos bem que ele não tem nada de inocente e a justiça brasileira não tem nada de divina.

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