“Jango prepara golpe”

"Se você acha que a imprensa de hoje é facciosa, golpista, manipuladora e abusa de fake news, acredite: em 1964 era muito pior", diz o colunista Alex Solnik; "Um bom exemplo, apenas um, de como os jornais ajudaram a criar na opinião pública um clima favorável ao golpe militar que se aproximava, demonizando o então presidente João Goulart é a manchete da "Tribuna da Imprensa" de 4 de janeiro de 1964: 'Jango decreta reformas de base e dá golpe'", afirma; "Quem leu só a manchete deve ter pensado: bem feito, quem mandou querer dar golpe? Deram golpe nele primeiro!"

“Jango prepara golpe”
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Se você acha que a imprensa de hoje é facciosa, golpista, manipuladora e abusa de fake news, acredite: em 1964 era muito pior. Um bom exemplo, apenas um, de como os jornais ajudaram a criar na opinião pública um clima favorável ao golpe militar que se aproximava, demonizando o então presidente João Goulart é a manchete da "Tribuna da Imprensa" de 4 de janeiro de 1964:

"Jango decreta reformas de base e dá golpe"

Parece uma notícia de verdade, algo que ocorreu na véspera, mas a chamada revela que não se trata de um fato do passado e sim de algo que poderia acontecer no futuro:

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"Fontes pessedistas da área juscelinista veicularam ontem a informação de que o sr. João Goulart irá ao Rio Grande do Sul e, antes do dia 15, quando o Congresso não se terá reunido, assinará decreto promovendo as reformas de base. Se a reação for muito grande, o presidente da República ordenará o imediato fechamento do Legislativo e instituirá o Estado Novo (pág.3)"

Sem base em nenhum fato sólido ou entrevista de alguém, a não ser "fontes pessedistas da área juscelinista" o jornal dizia que o presidente da República iria fechar o Congresso e instituir a ditadura, tal como Getúlio.

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Na página 3, como a chamada promete, a Tribuna insiste na história do golpe, mas recua: "Goulart prepara golpe: pretexto são as reformas". Na capa o golpe já fora dado; no miolo, o presidente "prepara golpe".

O texto admite, porém, que é boato e não informação como o leitor achava até então:

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"O circuito Rio-Brasília encheu-se de boatos sobre um possível golpe de estado que o presidente João Goulart está articulando para antes do dia 15, quando o Congresso voltará a reunir-se".

O golpe tinha ocorrido, depois estava sendo preparado, agora virou "um possível golpe".

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Quem leu toda a matéria soube que era apenas um boato. Mas para a maioria, que lê apenas a manchete o que ficou na cabeça foi:

"Jango decreta reformas de base e dá golpe".

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Dois meses depois da manchete Jango é que foi derrubado por uma conspiração militar que inaugurou a ditadura ou o Estado Novo que a Tribuna disse que Jango iria fundar.

Quem leu só a manchete deve ter pensado: bem feito, quem mandou querer dar golpe? Deram golpe nele primeiro!

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