Jango e Dilma

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Não poderia acontecer nada melhor para o país nesse momento que o atualmente investigado, futuro presidiário e por enquanto Deputado Federal Eduardo Cunha receber e dar andamento ao pedido de impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff.

Por quê? Porque é o fim da barganha imposta por alguém cujo caráter, essencialmente patrimonialista (para dizer o mínimo de Eduardo Cunha), estava pressionando a república de forma imoral e porque não há fundamento no pedido de impeachment.

E há outro aspecto. Aqueles que como eu acreditam na sociedade civil, na democracia, nos poderes e nas instituições da republica sabem que o mandato da presidente foi conferido a ela democraticamente e as razões do pedido são fundadas em interesses impublicáveis e regadas a ressentimentos pessoais e projetos pessoais de discutível idoneidade, além, naturalmente, de serem no mérito inconsistentes e improcedentes as razões que fundamentam este pedido.

A presidente da república não é uma líder popular como foram Getúlio, JK e Lula, ela foi, assim como Jango, ungida por um líder popular carismático, no caso de Jango refiro-me a Getúlio, no caso de Dilma a Lula naturalmente.

E assim como contra João Goulart, contra Dilma Rousseff não paira nenhuma evidência ou acusação de desvio de dinheiro público, ela não possui contas no exterior, não se tem notícia que tenha ocultado do conhecimento público a existência de bens pessoais.

Dilma Rousseff é uma das pessoas que representa o heroísmo de toda uma geração, não se tem notícia que tenha constrangido as instituições ou autoridades para satisfação de seus interesses, ao contrário de Eduardo Cunha e dos seguidores de Azrael.

Seu passado, assim como o de João Goulart honram o Brasil e o compromisso deles, cada qual no seu tempo, com as leis e a coisa pública são inquestionáveis.

Confesso que ainda fico chocado com a irracionalidade e estupidez de algumas das manifestações e a aversão de algumas pessoas contra aqueles que arriscaram a própria vida em defesa da democracia e da liberdade, como fez a jovem Dilma Rousseff.

E registro, a luta armada mereceu e merece criticas enquanto ação tática de combate, resistência e denuncia contra o regime de exceção, mas nenhuma critica retira daqueles jovens que tombaram ou dos que sobreviveram o único adjetivo que validamente lhes cabe: HERÓIS e suas ações são exemplos clássico de heroísmo. Heroico foi o então presidente João Goulart em todas as suas ações desde a renuncia de Jânio Quadros até o golpe civil-militar apoiado pela UDN e outros canalhas, heroica é Dilma que assim como Getúlio não é acusada, mas insultada; que não é combatida, mas caluniada e não tem sequer direito de resposta.

Os canalhas, herdeiros da UDN, apoiadores do impeachment precisam sufocar sua voz, impedir sua ação para transferir as riquezas do pré-sal e a própria PETROBRÁS aos seus senhores, para privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e servir os interesses dos rentistas e do capital financeiro, escravizando o povo e o setor produtivo ético.

Dilma e outros jovens são heróis porque estavam dispostos na luta pela democracia e por seus ideais a dar a vida aos seus irmãos, são heróis porque renunciaram a tanto e nada buscavam para si próprios, são heróis porque eram mais que justos, eram generosos.

O "Herói" é uma figura arquetípica que reúne em si os atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de dimensão épica. Para os Gregos, o herói situa-se na posição intermédia entre os deuses e os homens, sendo, em geral filho de um deus e uma mortal (Hércules, Perseu), ou vice-versa (Aquiles). Portanto, o herói tem dimensão semidivina. Se Dilma e Jango não são lideres carismáticos como Lula e Getúlio são heróis e merecem esse reconhecimento.

Se o povo brasileiro elegeu e reelegeu Lula, um migrante, operário e sem curso superior como presidente o fez para dizer ao mundo: "sim, nós [o povo] podemos" e elegeu uma mulher que renunciou ao conforto de sua vida de classe média alta da então conservadora Belo Horizonte dos anos 60 e entregou-se à luta contra a ditadura militar para calar as elites decadentes e resistentes ao novo e ao povo, é porque o povo brasileiro é sábio, tão sábio que devolveu a toda uma geração seu lugar na História, um lugar que se lhe havia sido arrancado pelos maus militares.

O poeta campineiro Guilherme de Almeida disse certa feira "deixei de ser eu para ser nós", e Jango e Dilma não representam apenas o que parecem representar, representam a nação que o povo brasileiro quer ver forjada, uma nação que transcende a si mesma, que transcende a sua condição humana e finita e que é capaz representar facetas e virtudes que o homem comum não consegue, mas gostaria de atingir: fé, coragem, força de vontade, determinação, paciência, justiça, lealdade, amor, afeto, amizade, etc., uma nação heróica.

Somos uma nação de heróis, os quais guiados por ideais nobres e altruístas – liberdade, fraternidade, sacrifício, coragem, justiça, moral, paz chocam os desavisados e os alienados, ademais, o centro de gravidade do desenvolvimento social e econômico não está propriamente na legislação, na ciência do direito ou na jurisprudência, mas na sociedade mesma. Há na sociedade — entre a ação humana e as estruturas sociais — uma tensão contínua, pois na primeira a diversidade se contrapõe a unidade da segunda e isso é a democracia que Jango e Dilma representam através do seu exemplo.

Jango sucumbiu, Dilma não sucumbirá.

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