Jair: os votos que se foram, não voltam mais

A maioria dos votos que teve em 2018, não terá em 2022. E ele sabe disso!

Bolsonaro e urnas eletrônicas
Bolsonaro e urnas eletrônicas (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | REUTERS/Rodolfo Buhrer)


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A primeira eleição que participei foi em 1994. Sem qualquer possibilidade de um bom resultado, como candidato a deputado estadual minha tarefa foi percorrer Santa Catarina levando as propostas do Partido dos Trabalhadores para o estado. Ainda não havia urna eletrônica e os votos eram contados manualmente. Todos sabiam das fraudes que haviam. Os votos mudavam nas planilhas conforme os interesses políticos locais. 

Sem o bilionário Fundo Eleitoral que se tem hoje, as campanhas da esquerda não tinham recursos e só existiam graças às contribuições individuais dos simpatizantes. Por fazer parte de uma categoria organizada como a dos eletricitários, presente em todos os municípios de Santa Catarina, se acreditava no potencial da candidatura. A campanha estava focada num esforço presencial nos principais escritórios da Celesc e da Eletrosul. Numa Fiorino bem usada, com o apoio de amigos percorremos o estado de ponta a ponta. Depois do fechamento das urnas veio a constatação, votos que considerávamos certos acabaram lançados nas planilhas como sendo de outros candidatos. (*) 

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Bolsonaro, candidato nessa época, deve saber do que estou falando. Nunca soube de uma manifestação sua sobre fraude nas eleições. O que causa perplexidade é agora como presidente da República, transformar uma eleição presidencial num teatro de horror com ameaças diárias a democracia e ao cumprimento da vontade popular. 

Sem dúvida uma desconsideração com o país e o seu povo. A estratégia só pode ser uma, não ter eleição. A motivação para tamanho disparate, também só pode ser uma: a derrota que se avizinha. Boa parte dos votos que ele teve em 2018, não lhe pertencem mais. 

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Não se trata de pesquisa, mas de interpretação de resultados. Bolsonaro ganhou de Haddad, com uma diferença de 10 milhões de votos. Sendo que 8 milhões vieram de São Paulo. Em 2022 o quadro é outro, quem lidera em São Paulo é Lula, com apoios inesperados. Bolsonaro sabe que no principal colégio eleitoral do país, ele não consegue mais mudar o jogo. (**)

Sem ter para onde correr, o desespero bateu. Só faltam dois meses para as eleições, governadores e deputados querem se eleger e buscam o melhor palanque para atingir seus objetivos. O voto útil que também faz parte da nossa cultura, migra para quem está na frente. Bolsonaro fez um péssimo governo e não tem o que oferecer. Jamais pensou que terminaria seu mandato com os índices de rejeição que tem. Está colhendo o que plantou.

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Sempre é bom lembrar que o problema nunca foi a urna eletrônica, que oitenta por cento dos brasileiros confiam nela. A verdade é que seu governo foi um desastre em todos os sentidos. Jair errou ao ameaçar as instituições, pregar o divisionismo e militarizar o governo. Ao longo do seu mandato o troca-troca de ministros e presidentes de estatais, mostrou toda sua insegurança e despreparo para o cargo. A maioria dos votos que teve em 2018, não terá em 2022. E ele sabe disso!

(*) Em Caçador, por exemplo, onde fizemos várias reuniões, quando fecharam as planilhas - não tive um único voto. Uma colega da Eletrosul, que estava lá como fiscal do TRE/SC, assim que saiu o resultado me ligou indignada: trocaram o meu voto. Oito anos depois, em 2002, com a urna eletrônica, me elegi deputado federal. Um detalhe:  com voto em praticamente todos os municípios catarinenses. 

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(**) Em São Paulo, o que era uma piada virou o jogo. "Lula com chuchu", deu certo. Alckmin não é um general sem voto. Foi quatro vezes governador de São Paulo. Quem preside a FIESP, é Josué Gomes, muito próximo de Lula. Em 2018, a Carta em Defesa da Democracia era impensável. Só que agora recebeu 100 mil adesões num único dia.

PS - A Carta em Defesa da Democracia, lançada a uma semana, já se aproxima de um milhão de assinaturas. Ela nos faz refletir sobre o Brasil que queremos. Apoiá-la é um ato de respeito a democracia e de vigília cívica. Sem citar nomes, relembra o passado obscuro e reforça o papel da cidadania: "No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições."

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