Jair, o corno tradicional e conservador

Não existe um patriota que não tenha sido corno, pelo menos uma vez na vida

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: José Cruz/Agência Brasil)


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O chifre é um dos símbolos da família tradicional brasileira. Uma marca que muitos conservadores imprimem na testa de seus “conjes” e ostentam com orgulho quase cívico na própria. Não existe um patriota que não tenha sido corno, pelo menos uma vez na vida. É o caso de Jair, o polêmico síndico de um prédio em Brasília, que durante uma reunião de condomínio sugeriu que os moradores deixassem de comprar feijão e comprasses um fuzil para se defenderem dos constantes assaltos que ocorriam nas redondezas. Cristão, conservador, casado e pai de cinco filhos – pelo menos, até hoje; que um exame de DNA conteste as paternidades por ele assumidas – ele é um típico exemplo de corno bem-sucedido e respeitado entre os seus pares. Todos cornos, é claro.

O anedotário popular constituiu uma espécie de tipificação da cornice, na qual os nossos queridos chifrudos são classificados de maneira injustamente jocosa. Pura maldade. Afinal, como diria João Gilberto, no peito dos cornos também bate um coração. Já ouvimos falar em corno manso, que é aquele que pega a parceira com outro e só balança a cabeça. O corno Brahma, aquele que pensa que é o número 1. O corno 7 de setembro, que é aquele que a mulher vive dando bandeira. Tem também o corno patriota, aquele que coloca o chifre acima de tudo e a mulher em cima de todos. Entre outr as dezenas de definições. Jair é o que podemos chamar de corno coquetel, pois ele é uma mistura de todas as classificações existentes para definir o cornifício alheio.

Ele tem um pouco de cada um. É um corno versátil, mas hétero, como gosta de deixar bem claro. Conhecido como o síndico motoqueiro, por causa dos eventos de motociata que costuma organizar pelo país afora, onde reúne milhares de cornos que deixam suas mulheres em casa na companhia de algum Ricardo (Que não é o Nêggo Tom, que fique bem claro, para que não tenha problemas.), para exibirem seus chifres em alta velocidade pelas estradas das grandes cidades, Jair começou a espalhar por aí que entrou para o Guiness Book, ao reunir mais de um milhão de moto-cornos no mesmo evento. Ele sempre gostou de contar vantage m. Principalmente, quando era contrariado. Uma vez, disse que usava o dinheiro das taxas de condomínio para “comer gente”, quando, na verdade, ele fazia rachadinhas com os profissionais que prestavam serviço no prédio. Isso quase deu um rolo para ele.

Certa vez, Jair estava no boteco e um Bombeiro adentrou o recinto. O porte físico atlético do militar chamou a atenção de sua mulher, que não conseguia disfarçar a comichão que o sujeito lhe causava entre as pernas. Aliás, outra coisa da qual Jair costumava se gabar, era do seu perfil de atleta. Ele costumava dizer que não pegava nenhuma doença, porque tinha uma saúde de ferro. Na verdade, o seu chifre era de ferro. Resistente, inquebrável, imbrochável, incomível, inoxidável. Voltando ao Bombeiro, ao perceber que sua mulher estava inquieta na presença do rapaz, Jair começou a co& ccedil;ar a cabeça. Era um tique nervoso que o acometia sempre que ficava nervoso e sabia que teria problemas.

Quando se se via ameaçado por alguma presença masculina mais imponente do que a sua, Jair tentava se impor e começava a falar grosso. Do nada gritava coisas sem sentido como: “quem manda aqui sou eu” e “minha especialidade é matar”, tentando intimidar aqueles que tentassem colocar alguma coisa na sua cabeça. Outra tática que ele costumava usar, era a de questionar a masculinidade de quem fazia a sua cabeça coçar. “Esse gosta de queimar a rosca. Olha a cara de homossexual dele. “, dizia ele, arrancando gargalhadas dos amigos. Todos cornos, é claro. Porém, naquele fatídico dia, Jair sent iria o golpe mais cruel de sua vida. A sua condição de corno se tornaria pública para ele. Sim, porque todos do prédio, assim como toda a vizinhança, já sabiam do par de chifres que ele levava.

Mas agora era diferente. Ele se tornaria um corno impresso e auditável. Todos receberiam um comprovante da sua condição. Não haveria mais dúvidas de que tudo que saia de sua cabeça, era consequência dos chifres que ele sempre levou a vida inteira. Sua mulher não resistiu à mangueira do Bombeiro apagador de incêndios e despertou a ira de Jair. Vingativo, ligou para o zelador do condomínio, conhecido como o negão do Jair, e arquitetou uma vingança. Resolvera trair aquela vagabunda, como ele costumava chamar a todas as mulheres, com o seu fiel e silencioso assistente. Gritos e gemidos eram ouvidos vindos da casa do zelador, o que chamou a atenção dos moradores.

Ao perceber que havia se excedido na vingança, e, que, além de corno, agora também saberiam que ele era “veado”, como ele costumava chamar os homossexuais, Jair deve uma ideia amoral e abjeta. Simulou estar sendo esfaqueado por um ladrão que tinha invadido a residência do seu assistente zelador, e começou a gritar por socorro. O seu negão, digo, o seu zelador, imediatamente incorporou a farsa e ligou para a polícia. Em minutos o prédio estava cercado por forças policias. Os moradores se compadeceram e aplaudiram o gesto de Jair em tentar livrar o zelador das mãos do suposto bandido. Alguns o chamavam de her&oa cute;i, outros de “o salvador do prédio” Os mais empolgados, todos cornos, é claro, o chamaram de “mito”, e este grito eclodiu em todos os cantos onde haviam cornos patriotas e conservadores.

Após a suposta facada, Jair virou uma espécie de deus dos cornos. Um messias que traria alívio para dor que o chifre lhes causava. Separou-se daquela mulher que o corneava, e logo arrumou outra mais nova e mais bonita. Faz parte da tradição dos cornos patriotas e conservadores, trocar a esposa que ficou velha e passou a socializar o sexo com amantes comunistas, por uma novinha capitalista e neoliberal, que vai movimentar a economia desfrutando do estado máximo que o seu dinheiro pode lhe conceder, oferecendo em troca um estado mínimo de amor e fidelidade. Devido a toda essa representatividade que passou a ter entre os cornos, passou a exigir que o chamassem de comandante em chefe das forças corneadas. Uma demonstração da força e do poder que um corno possui.

Mas como todo castigo para corno é pouco, corre à boca miúda que Jair pode estar sendo chifrado novamente. É o que vamos saber na próxima eleição do condomínio, quando os cornos do prédio irão às urnas para eleger o novo síndico. De qualquer forma, Jair já entrou para a história do edifício que administra, como o maior corno que já ocupou aquele cargo. Como diria o filósofo Paulo Guedes, “quem foi corno nunca perde a majestade”. Mito!

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