Já se foi o disco voador
Enquanto Bolsonaro foge e leva consigo a culpa pelos crimes que cometeu, ficam aqui, impunes, os militares que enriqueceram no governo, escreve Carla Teixeira
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Por Carla Teixeira
Jair Bolsonaro embarcou para a Flórida, nos Estados Unidos. Depois de ter comandado o pior governo da história da República, o mandatário deixa o país a dois dias da posse e não passará a faixa presidencial. Fixa seu nome no lixo da história ao lado de João Figueiredo, o último general da Ditadura Militar que também se recusou a transmitir o poder a José Sarney.
Vitorioso em 2018 numa eleição questionável, Bolsonaro chegou ao Planalto contando com o apoio da grande mídia, que naturalizou sua violência e humanizou seu autoritarismo. Mas também graças ao suporte da direita liberal, que se juntou a ele no segundo turno e durante o governo para aprofundar as medidas neoliberais iniciadas com o golpe de 2016.
As forças armadas, em especial o Exército, foram figuras centrais na sustentação de uma gestão capenga, inepta, corrupta e desumana. Oficiais se empoleiraram em cargos do governo acumulando soldos que chegam às centenas de milhares de reais por mês. Durante a pandemia, o Exército Brasileiro destacou um general para chefiar o ministério da saúde e comandar o maior genocídio da história recente do nosso país.
Como presidente da República, Jair Bolsonaro foi cruel, insensível, incompetente e desumano. Capitaneou a destruição dos serviços públicos, atacou professores, jornalistas, cientistas e qualquer pessoa que ousasse questionar seu comportamento assassino. Na gestão da pandemia, em particular, revelou seu caráter perverso ao debochar dos mortos. Vetou o uso obrigatório de máscara, desincentivou sua utilização e espalhou mentiras dia sim, dia também, influenciando a população a usar medicamentos sem eficácia comprovada contra o vírus.
Usou dinheiro público para comprar cloroquina superfaturada e a estrutura do Exército para produzi-la e distribui-la pelo Brasil. Negou-se a comprar vacinas, desfilou pelo mundo como o único líder mundial a não ter se imunizado, disseminou informações falsas e criminosas que associaram a vacinação ao vírus da AIDS. De acordo com pesquisas científicas, quatro em cinco mortes poderiam ter sido evitadas na pandemia se o governo tivesse tomado medidas de proteção da população.
Nas eleições de 2022, Bolsonaro questionou o processo eleitoral e utilizou a máquina pública de um modo que nem os coronéis da Velha República lograram fazer. Instituiu uma série de medidas eleitoreiras (desonerações, auxílio gás, caminhoneiro, taxista, empréstimo consignado etc) e constrangeu seus beneficiários a votarem pela sua reeleição. Incentivou seus apoiadores a partirem para o ataque contra os adversários, gerando uma sucessão inédita de violência e assassinatos políticos pelo país.
No dia da eleição do segundo turno, colocou a Polícia Rodoviária Federal para constranger eleitores nas regiões em que Lula era o favorito. Apesar de tudo isso, Bolsonaro conseguiu a proeza de ser o primeiro presidente da história da República a não atingir a reeleição. Seguindo os passos de sua referência estadunidense, tentou inutilmente questionar o resultado, mobilizando sua patota para acampar em frente aos quartéis pedindo golpe militar sob proteção das forças armadas.
Como se vê, Jair Bolsonaro tem motivos de sobra para ser preso: prevaricação nas vacinas, peculato (os casos das rachadinhas em seu gabinete e de seus filhos), corrupção ativa e passiva, crime de pandemia, propagação de desinformação, incitação contra a ordem democrática, atentado ao Estado democrático de direito, genocídio, crimes contra a humanidade e outras violências praticadas impunemente graças à cumplicidade do Ministério Público, do Judiciário, da grande mídia corporativa, da burguesia brasileira e dos militares. A situação não tá fácil pro Jair. Quase sinto pena.
Enquanto Bolsonaro foge do Brasil e leva consigo a culpa pelos crimes que cometeu com ajuda de seus capangas, ficam aqui, impunes, os militares que enriqueceram em seu governo e tentam manter seus privilégios junto ao próximo. Ficam os donos da mídia, que já direcionam seus canhões jornalísticos contra as propostas econômicas petistas de reconstrução do país enquanto seus articulistas fazem mea culpa meia boca para justificar a barbárie instalada após o golpe de 2016. Ficam também os integrantes da burguesia que enriqueceram às custas da miséria da população, os pastores aproveitadores da fé alheia, assim como os parlamentares que se locupletaram com o bolsonarismo. Para eles, cúmplices do genocídio, como diria o sagaz chespirito, “já se foi o disco voador”.
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