Itamaraty se vende a forças estrangeiras
A diplomacia brasileira, ou pelo menos parte relevante dela, está totalmente vendida à forças neoliberais que dominam o ocidente, em confronto direto com nossa soberania
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Há três semanas realizou-se na Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty, uma reunião sobre conjuntura internacional da qual participaram diplomatas seniores e alguns intelectuais independentes. Eu não estava presente, mas soube através de testemunhas dos principais temas tratados. Fiquei estarrecido. A diplomacia brasileira, ou pelo menos parte relevante dela, está totalmente vendida à forças neoliberais que dominam o ocidente, em confronto direto com nossa soberania.
A proposta dominante era a adesão completa à OMC, Organização Mundial do Comércio, e à OCDE, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico - um clube ultra-neoliberal dos países mais ricos do mundo. Ao lado disso, propunha-se a adesão o quanto antes a um tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Rejeito a hipótese de que os diplomatas brasileiros não sabem o que significa isso em termos de agressão ao interesse nacional. Portanto, devem simplesmente estar vendidos.
Obviamente que essa "venda" não se traduz necessariamente em dinheiro. Talvez o que mais cativa esses portadores de "complexo de vira lata" seja a oportunidade de se sentarem, mesmo que num canto, numa mesa com os grandes, sendo objeto da atenção hipócrita deles, na medida em que fazem do Brasil uma força auxiliar de segunda ordem para suas pretensões. Enquanto isso, que vá às favas o interesse nacional. O Itamarati nos está rendendo a forças externas com desonra, em todos os campos, da economia à política.
O fato é que nossa diplomacia se coloca num nível muito acima do nível do Brasil. São "excelências", como diria o senador Roberto Requião. Gostaria que o senador Fernando Collor, presidente da Comissão de Relações Internacionais do Senado, desse uma prova de independência do Governo e promovesse um seminário para uma discussão consequente sobre a questão externa. A complexidade do mundo atual é desafiadora da política brasileira, e sua análise não pode ficar a mercê apenas dos "vendidos" do Itamaraty.
Vou dar apenas um exemplo. Contra o interesse brasileiro, o embaixador Roberto Azevêdo se candidatou e tomou posse na direção-geral da OMC. Lembro-me que, quando colhia votos para que seu nome fosse aprovado no Senado, contornou todas as advertências sobre o risco para o Brasil de entrar numa organização livre-cambista, tendo em vista a fraca capacidade industrial e tecnológica do país para concorrer com potências econômicas e comerciais. Sua resposta foi bizarra. Segundo ele, "era melhor estar dentro que estar fora".
Eu só justificaria a posição dele caso estivesse disposto a boicotar por dentro a OMC, secundando, por exemplo, a Índia. Nada disso. Ele trabalha decididamente para a capitulação do Brasil em favor do mundo industrializado. Planeja-se a entrega total: indústria, tecnologia, compras governamentais, serviços, propriedade intelectual. E esse traidor da Pátria ainda ousa defender pelo mundo essa pauta que nos estrangulará economicamente.
Há um livro extremamente interessante, que teve grande circulação no mundo acadêmico nos últimos anos, chamado "Chutando a Escada". É de um coreano,Há-Joon Chang, que por sinal está para vir ao Brasil em Breve, trazido por Bresser Pereira. A síntese do livro, expressa no título, é que todos os países desenvolvidos, em sua fase de ascensão, foram protecionistas; e esses meses países, depois de desenvolvidos, chutaram a escada para impedir a subida dos demais e tornaram-se livre-cambistas .
Um autor argentino, Marcelo Gulo, fez a mesma pesquisa para a América Latina e outros países, chegando a idêntica conclusão. Por que o senador Collor, até mesmo para reconquistar a opinião pública, não convoca esses dois pensadores para que, junto com alguns brasileiros, discutam no mesmo pacote a questão da OMC, da OCDE e do Mercosul?
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