Isolamento é retrocesso

Diplomacia brasileira não deve ser usada para exportar golpes contra outras democracias

Diplomacia brasileira não deve ser usada para exportar golpes contra outras democracias
Diplomacia brasileira não deve ser usada para exportar golpes contra outras democracias (Foto: Paulo Pimenta)


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Um dos pilares da diplomacia brasileira tem sido o respeito à autodeterminação dos povos e à não ingerência nos assuntos de outros países. No entanto, desde a ascensão do governo ilegítimo de Michel Temer, essa orientação tem sido ignorada e subvertida. Em nome de um alinhamento automático a países como os Estados Unidos, com subserviência e práticas que contrariam nossa soberania e os interesses nacionais, o Itamaraty passou a seguir na contramão da respeitada tradição.

É o caso do tratamento dado à Venezuela. Para atacar o país vizinho, o Brasil virou um braço auxiliar dos EUA na América do Sul. Temer e o chanceler Aloysio Nunes retiraram do país qualquer possibilidade de atuar como mediador de conflitos na região, como faziam os governos do PT e outros que o antecederam.

A situação é tão surreal que o Itamaraty caracterizou a convocação da Assembleia Constituinte pela Venezuela como um "golpe" ou uma "ruptura da ordem democrática". Pode–se discordar da iniciativa, mas tachá-la de golpe é exagero, mesmo porque golpe foi o que aconteceu no Brasil. A Constituinte na Venezuela criou uma oportunidade para se estabelecer diálogo entre as partes em conflito.

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A Venezuela tem a maior reserva provada de petróleo do mundo. São 298,3 bilhões de barris, ou 17,5% de todo o petróleo do mundo. Este petróleo está a apenas 4 ou 5 dias de navio das grandes refinarias dos EUA, o maior consumidor de óleo do mundo. Explorada durante décadas, com relações privilegiadas com os EUA, essas jazidas não propiciaram melhoria de vida aos venezuelanos. Esse quadro começou a mudar com o chavismo, dentro das normas democráticas.

Hoje a Venezuela é o país menos desigual da América do Sul, segundo a Cepal. As conquistas sociais das últimas duas décadas são indiscutíveis. O relatório da ONU de 2016 sobre a evolução do IDH mostra a marca de 0.767 — o que colocou o país na categoria de elevado desenvolvimento humano. Os progressos foram obtidos em democracia, apenas momentaneamente interrompida pela tentativa de golpe de Estado em 2002 protagonizada pela oposição com apoio dos EUA.

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Em 10 de dezembro, houve espetacular vitória dos governistas nas eleições municipais, repetindo o que houve na Constituinte e na escolha dos governadores. O país, contudo, continua a enfrentar boicote econômico que lembra a barbárie da Guerra Fria contra Cuba e o Chile de Allende. Os venezuelanos têm memória do passado de pobreza e deram agora fôlego ao governo Maduro, que terá uma eleição presidencial para enfrentar em 2018.

O empenho do Brasil em sabotar a Venezuela é obtuso. Tentar o isolamento força retrocessos na região e joga a América do Sul num cenário de turbulência. A diplomacia brasileira não deve ser usada para exportar golpes contra outras democracias.

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Artigo originalmente publicado no jornal O Globo

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