Isolado, como Aécio se elege deputado?

O principal caminho que Aécio deve trilhar, reforçando a imagem decadente de sua figura pública, é o oposto àquele em que se vendia como político moderno e europeizado, que transitava entre os principais centros do país, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, para trazer riquezas e investimentos a Minas Gerais

Isolado, como Aécio se elege deputado?
Isolado, como Aécio se elege deputado? (Foto: Moreira Mariz - Agência Senado)


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Iniciada a campanha e montados os palanques, impressiona, na cena nacional, a disparidade entre a capacidade de mobilização da candidatura Lula e a de seus adversários. Enquanto Ciro, Alckmin, Marina e Bolsonaro fazem campanhas em locais fechados ou reservadas “passeatas” para 200 pessoas, o candidato a vice-presidente na chapa de Lula, Fernando Haddad, colocou seis mil pessoas nas ruas só em Aracaju, além de outros milhares em todas as cidades pelas quais passou. Tudo, é claro, prontamente escondido pela Rede Globo, em seu engajamento em produzir uma eleição de ficção, sem o candidato disparadamente mais popular.

Cá em Minas, no entanto, uma cena foi capaz de causar ainda mais perplexidade. Aécio Neves, iniciando sua campanha para deputado federal por Minas Gerais, quatro anos após receber mais de 50 milhões de votos e quase vencer as eleições presidenciais em segundo turno, e dois anos após liderar um golpe jurídico-midiático-parlamentar que “depôs a presidenta honesta e colocou os ladrões no poder” (como vive dizendo nosso editor Leonardo Attouch), reuniu-se com meia dúzia de cabos eleitorais numa fazenda no pequeno município de Teófilo Otoni. A cidade no Vale do Mucuri, com pouco mais de 100 mil habitantes, é um município estratégico para a região Nordeste do estado e para as relações comerciais mineiras com o Espírito Santo e a Bahia. Contudo, está longe de ser o local para a largada de uma campanha vitoriosa de um ex-governador e presidenciável a deputado federal.

A imagem pode causar a impressão de um Aécio Neves derrotado, esperando o milagre de fazer o recall das últimas eleições e a votação da legenda, puxada pelo candidato ao Governo estadual, Antônio Anastasia, garantir a ele uma vaga na Câmara dos Deputados. Entretanto, a estratégia aecista nestas eleições ainda dispõe de ferramentas importantes para garantir os cerca de 100 mil votos necessários para que se eleja com tranquilidade, mantendo seu foro privilegiado.

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O principal caminho que Aécio deve trilhar, reforçando a imagem decadente de sua figura pública, é o oposto àquele em que se vendia como político moderno e europeizado, que transitava entre os principais centros do país, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, para trazer riquezas e investimentos a Minas Gerais. Agora, seu caminho assemelha-se a outros líderes mineiros, tais como os ex-governadores Newton Cardoso e Hélio Garcia, fazendo do interior o seu caminho de “cata-votos” que contabilizem os votos necessários para se eleger.

Como já afirmado aqui, em colunas anteriores, Minas Gerais possui hoje 853 municípios, dos quais 840 estão abaixo de 200 mil habitantes. E a maioria absoluta não chega a 50 mil. A maior parte dos prefeitos, não sem razão, critica o pacto federativo que prevê alta concentração de verbas nas mãos da União, o que empodera os deputados nas emendas parlamentares ao Orçamento federal. Atreladas à mineração e à agricultura, essas cidades possuem economia dependente tanto de grandes empresas e ruralistas quanto dos repasses dos Governos federal e estadual, para fazerem suas economias funcionarem, gerarem um mínimo de empregos e permitirem o provimento de serviços, saúde, segurança, educação. Não à toa, o hoje deputado federal pelo PSDB Marcus Pestana construiu sua base eleitoral quando, como secretário de saúde de Aécio, entre 2003 e 2010, articulou o apoio de prefeitos ao espalhar ambulâncias e equipamentos de saúde por todo o estado, na maioria das vezes em consórcios intermunicipais que permitiam gordas licitações para contratações de funcionários terceirizados.

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Neste sentido, Aécio lança sua corrida à Câmara dos Deputados apostando na carência do interior e em que, numa eventual vitória do candidato do PSDB, Antônio Anastasia, e de preferência com o indicativo de que haja um governo de centro-direita no Palácio do Planalto, terá como barganhar alguns caraminguás em infraestrutura e serviços para as pequeninas e carentes cidades do interior de Minas. Desta forma, ele pode, sim, fazer reuniões a portas fechadas e deixar que os prefeitos, ruralistas e empresários façam o corpo-a-corpo na busca pelos votos, argumentando que o fazem na defesa da cidade e da região em que vivem e atuam, e que os cidadãos “não podem se esquecer o quanto Aécio foi bom governador, aprovado por 70% dos mineiros” etc. Esta forma de compra de votos, via chantagem às prefeituras empobrecidas pela crise econômica, é mais eficaz e menos fiscalizável que a boa e velha dentadura ou o saco de arroz. Por isso, é bom não subestimar. Aécio tem chances reais de, na surdina, aparecer como um dos candidatos mais votados do estado e, consigo, arrastar boa bancada para o PSDB.

A favor das esquerdas e contra este prognóstico, já discutiu-se, neste espaço, vários outros aspectos igualmente relevantes: a nova ascensão do lulismo, a presença de Dilma (de quem Aécio correu, recursando-se a disputar vaga ao Senado) e a imagem destruída dos tucanos, que podem fazer baixo voto de legenda. Mas, por último, gostaria de citar a sabedoria popular na voz de Dona Marluce, a célebre personagem do vídeo de Geraldo Alckmin em “campanha” no Nordeste: “Não. Não. Não. Aqui não. Meu voto é do Lula”.

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O povo, hoje, após viver 30 anos de democracia e experimentar vários modos de governar, sabe quem lhe faz bem. Ainda mais em Minas, estado diverso, que reúne um pouco de São Paulo em sua Região Metropolitana de Belo Horizonte e Sul de estado, algo de Rio de Janeiro na Zona da Mata, algum Centro-Oeste no Triângulo e um imenso Nordeste brasileiro nas regiões do Norte de Minas e nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri. Se Aécio não pode ser subestimado, igualmente não lhe será nada fácil esta empreitada, convencendo um eleitorado tão diverso a lhe ofertar uma centena de milhares de votos.

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