Ipec: estratégia falha e Bolsonaro se desespera

"No modo desespero, é possível que Bolsonaro dobre a aposta na radicalização, estimulando o ódio e a violência", escreve Tereza Cruvinel

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Carla Carniel)


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Nada funcionou na estratégia eleitoral do bolsonarismo: nem auxílio de R$ 600,00 até o fim do ano, nem bolsa para caminhoneiros e taxistas, nem a enxurrada de fake news. A pesquisa Ipec trouxe Lula com uma frente de 12 pontos porcentuais, domínio no Nordeste e também no Sudeste, onde a pesquisa Quaest apontou perda de força na semana passada. Bolsonaro e seus aliados entraram em modo desespero.

Na pesquisa estimulada, 44% a 32%. Com 52% dos votos válidos, contra 37% do Bolsonaro, Lula pode vencer no primeiro turno, embora seu excedente sobre a metade dos votos esteja dentro da margem de erro da pesquisa. E em havendo segundo turno entre os dois, Lula ganha com 51%, contra 35% de Bolsonaro.  Isso significa que o ex-presidente consegue atrair mais 7% de votos de outros candidatos, enquanto Bolsonaro cresce apenas três pontos percentuais. Seu teto é muito baixo.

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Se no Nordeste Lula continua reinando, com 57% contra 22% do pretendente à reeleição, os resultados no Sudeste, que tem 40% do eleitorado,  é que estão sendo mais festejados pela Frente Brasil Esperança. Lula tem 39% e Bolsonaro 33%. O relevante são os resultados de Minas e São Paulo, pois no Rio, sua base principal, há um empate técnico: Lula, 35%, e Bolsonaro, 33%. Já em São Paulo (38% a 28%), Lula tem vantagem de 10 pontos percentuais. E em Minas, onde se oculta o mistério das eleições presidenciais, a vantagem do ex-presidente é de 13 pontos: 39% a 26%. Só no Sul Bolsonaro lidera sem muita folga (39% a 36%).

Falhou a estratégia de Bolsonaro de cooptar os mais pobres com um auxílio oportunista e temporário: entre os que recebem algum benefício do governo, Lula lidera com 52% e ele fica com apenas 27%.  E olhe que a grande maioria dos que recebem o novo Auxílio Brasil estão no Nordeste: quase 9 milhões de pessoas.

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Se a enxurrada de fake news e discursos de incitação religiosa de madame Bolsonaro surtiram efeito, foi entre os próprios evangélicos, um dos poucos segmentos em que ele lidera: 47% a 29%. Em pesquisas de outros institutos, Lula já teve posição melhor, mas como essa é a primeira do Ipec na corrida eleitoral em curso, não há base segura para comparação.

Haverá reação? Os trunfos de Bolsonaro estão se esgotando, embora o governo tenha despudor e criatividade espantosos para usar a máquina. Vem aí o 7 de Setembro, e sem apoio do Exército, ele pressiona Marinha e Aeronáutica a participarem do ato de Copacabana.

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No modo desespero, é possível que Bolsonaro dobre a aposta na radicalização, estimulando o ódio e a violência. Ou que, não tendo virado o jogo quando a eleição se aproximar, garantindo o segundo turno, ele antecipe o plano trumpista, seja de que forma for.

Por isso o movimento de defesa da democracia e da normalidade eleitoral deflagrado com o manifesto de 11 de agsoto não pode parar. Precisa se firmar como vigília permanente, ao passo que Lula deve ganhar as ruas e engajar seus eleitores na campanha.  O jogo não está decidido mas no pouco tempo que falta para o pleito, Bolsonaro já não tem muito o que fazer. Dentro da normalidade, claro.

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